Ah! Aquele Abraço!!

Por Ledeir Borges

O grande e afetuoso abraço que os imbitubenses deram no prédio, em ruínas, do saudoso Imbituba Atlético Clube (ali na Praça Henrique Lage, no coração da cidade) foi algo fantástico e de uma simbologia para além do nosso entendimento. As pessoas ali reunidas, dentre elas meu amigo César de Oliveira, tinham clareza que a memória de um povo não pode e não deve ser destruída e que a sua defesa é um exercício pleno de cidadania e dignidade.

Aquele gesto foi e será sempre fantástico por conter uma declaração grandiosa de amor a esta terra; que aos poucos vai perdendo seus tesouros históricos, culturais e humanos. Haverá aqueles que afirmarão que este é o preço do progresso e a semente do futuro. Categoricamente, não é. O passado é algo absolutamente inerente à vida humana e vital.

A memória histórica de um povo é sinal de sua vitalidade. A memória histórica de nossa cidade está se perdendo. Estamos negligenciando o passado, deslumbrados que estamos com as ilusões do futuro. Estouramos fogos de artifícios para as ilusões do futuro e fechamos as janelas para as belas lembranças do passado.

Fico, aqui, pensando como esquecemos rápido o verdadeiro calvário vivido pela histórica Cerâmica de Imbituba e, paradoxalmente, como nos deslumbramos com a promessa de futura construção de estaleiro na cidade. Nossos pés voam por um futuro incerto e se esquecem de pisar no passado que concretamente existiu e do qual devemos extrair muitas lições, severas lições.

Ah! Ao abraçar o carcomido prédio do Atlético (quantas festas e solenidades foram ali realizadas) foi como se estivéssemos, todos, em verdadeiro processo de catarse coletiva; abraçando o antigo Cine Marabá, o Campo do Atlético, Museu do Porto, a bela Granja Henrique Lage, o Riacho dos Encantos, o Canto do Paraná (canto sul da praia do Porto), e todos as belezas históricas, naturais e culturais que nossa cidade perdeu ao longo dos anos.

É bem verdade que nossos Caciques pouco valor dispensam aos bens históricos e culturais de nosso povo. São pessoas pragmáticas, com os olhos no futuro e pouco tempo tem a perder com as quinquilharias do passado. Não há, por parte de nossa Corte, políticas públicas voltadas ao resgate do patrimônio histórico e cultural de nosso povo. O passado vai sendo sepultado pela ânsia do futuro, como já fizemos há muitos anos atrás. Triste sina a nossa.

Deveríamos, nós todos, tomados pelo espírito daqueles homens e mulheres que, sem qualquer constrangimento, deram aquele maravilhoso abraço (longo e emocionado) no envelhecido prédio do antigo Atlético; e sairmos por aí, abraçando e defendendo as riquezas históricas e culturais de nossa terra.

Que tal começarmos pela Cerâmica, que ora agoniza a céu aberto; estrangulada por mãos muito estranhas. Aliás, já nos ensinaram que o futuro de um povo se constrói, sobretudo, estudando e preservando o passado e analisando o presente.

Estudemos e analisemos, com cuidado, nosso passado e presente e, quem sabe, acertemos na construção de nosso futuro.

Até mais!!

4 comentários:

  1. Observação: para quem não sabe, o campo do Imbituba Atlético Clube a que Ledeir faz referência situava-se no Centro, em frente ao prédio (foto) "abraçado". O link vinculado às palavras "Campo do Atlético" remete o leitor para um outro campo adquirido pelo clube, que está abandonado.

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  2. Assistimos assim, estáticos, à queda destas memórias em formas de edifícios.
    Sem nem imaginar que, quando nos distanciamos deste nosso patrimônio arquitetônico edificado, descaracterizando-o, negamos nossa própria história, negamos o trajeto que nosso povo percorreu desde a origem até os dias atuais.
    Negamos, pura e simplesmente, o que fomos, o que somos e o que poderíamos vir a ser.
    Não se sabe se é feio ou se é triste quando as pessoas não sabem reconhecer ou valorizar atos administrativos do passado.
    Refletir sobre o passado, discutir o seu legado, ser o elemento catalisador de um diálogo sobre semelhanças ou diferenças, recordar acontecimentos da cultura.
    Quanta intolerância. Dói muito assistir ao silêncio cúmplice da imprensa face ao poder, que passou ao lado disto tudo, que nada fez, nada disse e nada escreveu. Por favor não desliguem o ‘CORAÇÃO’

    “POVO SEM MEMÓRIA DO PASSADO É UM POVO SEM FUTURO.”

    Aristóteles já dizia que “Somos o que repetidamente fazem o hábito.” Ora, na concretude dos pequenos valores adquiridos ao longo dos tempos.
    O filósofo diz que todos os valores adquirem a nobreza.
    O que seria da ciência, da arqueologia , da história se alguns que hoje seriam chamados de saudosistas, não tivessem guardado o passado.
    São valores de preços incalculáveis.
    Valores que nossos governantes , nossos representantes estão tirando o direito
    dos que vem no futuro tenha memória. E como resgatar tanta história?
    TALVES UMA FOTO QUE SEUS ANTEPASSADOS TENHAM DEIXADO.
    Digo “talvez” porque hoje é tudo descartado.
    “ TUDO O QUE É VELHO VAI PARA O LIXO.”
    Vamos construir nosso museu, preservar nossa história.
    Abraçamos a cerâmica os velhos prédios, o hotel Imbituba e tudo que nos faça lembrar a memória de um povo . PARA QUE TENHAMOS FUTURO.
    Só falar não adianta , temos que abraçar a causa.
    Parabéns Ledeir

    Marlene kjellin

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  3. Andando pelas ruas de nossa cidade percebemos que muita coisa mudou. A cidade cresceu. Seus limites foram ampliados, da mesma forma que foram ampliadas suas pretensões de crescimento e progresso. É a realidade de nosso tempo.
    Ainda é possível saborear algumas lembranças vivas, mas é também triste passar por um local e dizer: “aqui tinha isso, ali era aquilo”. Há muita coisa por trás de um prédio que não existe mais. Demolir ou descaracterizar um prédio é também destruir ou descaracterizar parte da história de muitas pessoas que viveram naquela época e ajudaram a construir nossa cidade.
    Infelizmente, não temos em Imbituba uma cultura de preservação de sua história e seus costumes. Apesar de ser uma cidade relativamente nova, pouco resta da antiga Imbituba
    . E o que resta não é respeitado... Casarões são postos a baixo sem a menor cerimônia, em nome do progresso, da necessidade e interesses comerciais...
    O ímpeto por se destruir, modificar ou descaracterizar sem o menor pudor é algo preocupante, pois denota irresponsabilidade, mesmo que seja por desconhecimento de causa.
    Quando não preservamos nossa história, perdemos nossas tradições e o que é pior: desrespeitamos o nosso maior patrimônio que são seus moradores;
    É preciso pensar no progresso, sem dúvida. Mas é preciso antes um planejamento estratégico e específico focado no futuro, não descuidando da memória, da história e do patrimônio de um povo como o nosso que fundou essa cidade para termos a chance de transformá-la, porém sem desrespeitá-la.

    Será que não chegou a hora da comunidade, particularmente os três poderes que se constituem como os guardiões da administração pública (Prefeitura, Câmara e Poder Judiciário) chamarem para si a responsabilidade pelo futuro de nossa cidade, zelando pela preservação do presente sem desrespeitar nosso passado?
    Do contrário, sem planejamento, sem preservar o que ainda temos e sem resgatar o que é possível, nosso futuro será cada vez mais pobre em termos de patrimônio, senão o valor estético, artístico, documental, científico, social, espiritual ou ecológico de nossa sociedade não terá passado apenas da fugacidade de uma época
    INDIGNADA

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  4. Estou morando fora de Imbituba há 17 anos, mais sempre que posso, vou, pois minha familia reside ali. E com grande tristeza vi esse prédio tao lindo, tao histórico que me traz tantas doces lembranças de carnavais de criança ao lado de meus primos, assim como histórias contadas por meu pai e meu avo sobre esse predio.... Onde estao as autoridades competenes? Onde está o prefeito e vereadores que nao conservam esse prédio? Afinal de contas: nossa história tem que seguir viva!!! Ruti

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