Marginalização política

Por César de Oliveira

Há pouco tempo tratamos neste espaço de tutores e tutelados, os primeiros comandando a vida dos segundos, omissos por opção ou ignorância.

Dentre os Tutelados, queremos destacar aqueles que, voluntarimente, se retiram do processo decisório e abdicam do direito de falar sobre assuntos de interesse coletivo.

É a instituição do silêncio político que leva à marginalização política . Eles – os Tutelados politicamente – agem dessa forma porque acreditam, equivocadamente, que assim poderão resolver melhor seus problemas particulares. Na época das eleições desligam a TV para não assistir o horário eleitoral gratuito. No dia da eleição cumprem com seu dever legal votando em qualquer um, pois tanto faz: 'São tudo farinha do mesmo saco, mesmo'.

Temos o abandono das questões públicas e a excessiva preocupação com as questões particulares. Cria-se um amontoado de indivíduos que buscam tão-somente voltar seus olhos para si mesmos. Nesse amontoado, ninguém se propõe a falar. O único conselho dado é não aconselhar. Esses indivíduos não se preocupam em votar em alguém que possa representar seus interesses e suas necessidades no governo. E, parecem não perceber que, queiram ou não, vivem em meio a outros indivíduos, o que significa que sua vida depende dos outros e que aquilo que ele fizer também influenciará nas vidas alheias.

O que significa isso? Relembrando que viver é acima de tudo con-viver, a esfera pública sempre vai existir. Se sempre existirá, alguém estará se ocupando dela. Quanto menos as pessoas participarem da política mais os interesses daqueles que se ocuparam da esfera pública irá prevalecer. As decisões a serem tomadas serão baseadas nesses interesses particulares, e não visando os interesses coletivos.

O silencioso político, queira ou não, perceba isso ou não, assume o que foi decidido pelos outros, sem nem mesmo colocar a público seu interesse. Portanto, assume a obediência e abdica da autodireção. Herda o status de governando e, não, o de governante. Quem prioriza em demasia suas questões particulares, priva-se da autodeterminação.

É, em suma, um Tutelado.

Assim, quando as pessoas se recusam a participar das decisões sociais, estão se recusando a decidir sobre suas próprias vidas. Estão aceitando que os problemas que dizem respeito a suas vidas sejam pensados e resolvidos por outras pessoas. Estamos, então, frente a frente com uma sociedade servil.

5 comentários:

  1. Tenho a convicção que grande parte dos eleitores que se afastaram da política fez por causa dos próprios políticos. Existe uma diferença entre “política” e “politicagem. Hoje o que os políticos fazem é politicagem.
    Na política o que prevalece são as idéias com debates democráticos, tendo como resultado o bem de todos, não o de meia dúzia.
    Na politicagem, infelizmente, o que prevalece é o interesse particular, a arte de ludibriar, enganar e levar vantagem, utilizando-se da máquina pública.
    As idéias e os projetos ficam em segundo plano, entrando em ação os chamados “projetos sociais”, que servem para angariar votos parta a próxima eleição.
    É por causa da politicagem que as pessoas perdem o interesse de participar do processo democrático, anulando ou votando em branco nas eleições.

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  2. Acredito que a apatia política alimentada pela grande maioria da população não é oriunda da democracia. Muito pelo contrário, é a falta de democracia que fomenta este espirítio letárgico e paquidérmico das massas.
    Por conseguinte, se os regimes democráticos estão em crise, isto decorre não em função de suas propriedades sui generis( governo do povo, exercido pelo povo), mas pelo fato que o mesmo não é suficientemente democrático.
    Como preconizava Rousseau, nas democracias representativas, o povo só é soberano quando vota. Após o sufrágio,o mesmo volta a ser súdito.Isto porque a soberania é inalienável.
    Por isso, penso que o idealismo político, o renascimento das utopias, a formação do zoon politikón(como afirmava Aristóteles) perpassa necessariamente pela ampliação da democracia. Mais do que votar é preciso deliberar e decidir. Dito de outra forma, é preciso construir canais de participação na qual a sociedade civil possa efetivamente exercer sua soberania.Do contrário, não vejo perspectiva de melhora!
    Arrison Richelly Berkenbrock

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  3. Nó no Nó, a politicagem somente se propaga porque somos omissos em exercitarmos a cidadania. Fica-se num círculo vicioso: a anulação ou o voto em branco beneficia e ajuda a eleger os maus candidatos (politiqueiros), fazendo com que continuemos a agir da mesma maneira na próxima eleição, o que mais uma vez os elege. Obrigado por sua participação.

    Caro Anônimo, mas nem tanto, Arrison, a ampliação da democracia está ao nosso alcance. Em Imbituba, por exemplo, temos inúmeras Comissões Municipais (saúde, educação, criança e adolescente, etc.) que podem influir decisivamente na formulação de políticas públicas. Ocorre que ninguém quer participar ou, são sempre os mesmos - e poucos - que integram tais Colegiados. Agora, quando há remuneração - caso, por exemplo, do Conselho Tutelar - a disputa é intensa, acirrada e altamente politiqueira. Infelizmente, muito reclamamos; pouco agimos em prol do bem comum. Grato pela bela reflexão, que muito enriqueceu o texto.

    César de Oliveira

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  4. Caro César,
    A falta de informação também se configura como um dos fatores que dificulta o exercício da cidadania.
    Não precisamos ir muito longe, basta pensar, por exemplo, nas próximas eleições que irá compor o Conselho Tutelar. Como você bem salientou, trata-se de uma disputa permeada profundamente por elementos politiqueiros. Não obstante, pouco divulgada!
    A falta de divulgação das eleições do referido Conselho, só vem reiterar as minhas conclusões acerca do caráter "público" das atividades "políticas".
    Segundo Norberto Bobbio,o termo público, dentro da literatura política, é revestido de duas acepções,* Público: no que concerne a todos e não a grupos específicos;
    *Público: refere-se ao antônimo de não-secreto,logo TRANSPARÊNCIA!
    Portanto, diante de tudo isto, concluo que, infelizmente, o ordenamento social na qual estamos inseridos, carece de espaços efetivamente públicos!
    Atenciosamente!

    Arrison Richelly Berkenbrock

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  5. Acho que as pessoas, principalmente o que se chama de "povão", deveriam dar sua participação nas associações de bairro, sejam elas de que credo forem. É lá que o "cada um" defende os seus interesses particulares, dos parentes, dos amigos e dos vizinhos. É lá que se expõe as dificuldades do dia-a-dia, tentando-se achar solução em conjunto. Afinal, é lá que se faz política de base, vida real.
    A política governamental, das pequenas cidades ao Distrito Federal, é algo totalmente impalpável para o cidadão comum, é o teatro "por trás dos panos", é algo do tipo "o que os olhos não vêem, o coração não sente".
    Entendo a política governamental exatamente como as religiões: o que se pratica na base é algo completamente diferente do que se pratica "lá em cima". Está aí a Igreja Universal como (mau) exemplo. Mas as outras... também não são muito diferentes.

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