O que não parece doença, mas é...!! Doenças dermatológicas do inverno.

Por Clarice Pires Pacheco

Quando defendi meu trabalho de conclusão de curso ( TCC ), na residência médica em dermatologia infantil, lembro-me que a primeira frase que apareceu na tela, na hora em que iniciei minha aula, foi... "A pele é o que há de mais profundo", uma citação de Paul Valéry, poeta francês do século XIX.

E é sobre este órgão, o maior do corpo humano, que eu gostaria, hoje, de dizer algumas palavras. Melhor seria dizer – me levantar em sua defesa!

Eu ouso dizer que é a pele o órgão do amor!!

Este órgão, invólucro natural de uma máquina poderosa - o ser humano, na sua formação vem junto com os nervos, nos dando com isso todas as sensações dos toques, tão importantes na formação da afetividade humana e nos ensinando, desde a infância, as substanciais defesas contra os toques dolorosos, do frio, do calor, da dor física e a apreciar a delicadeza dos toques gentis.

A pele precisa ser amada e bem cuidada!

A modernidade e seus novos conceitos sobre bronzeamento e outros truques trouxeram em relação a épocas passadas atitudes deseducativas, na medida em que retirou a proteção contra o sol, com a parada do uso dos chapéus, sombrinhas e guarda-chuvas, por homens e mulheres. A negligência com a sua hidratação também funcionou como um fator de desgaste para uma pele agora castigada por um sol cada vez mais implacável e um frio temperamental, sem uma medida ou tempo certo para aparecer .

Se a dermatologia tecnologicamente evoluiu como nunca, os cuidados pessoais com o corpo caíram drasticamente, estando o investimento dos cuidados com a pele nas mãos de fórmulas milagrosas, favoritas na busca da juventude cutânea perdida...

A Pele precisa de água e de sol na medida certa, no inverno ou no verão!

Erroneamente muita gente acredita que é só no verão que aparecem as doenças de pele. Aquelas que mais necessitam de cuidados, pela gravidade com que se impõem e os riscos que acarretam no momento em que ocorrem, assim como em algum tempo, no futuro.
É bem verdade que as lesões provocadas pelo sol podem ser nocivas ao ser humano e, dependendo da quantidade de sol que se receba, as lesões podem vir a se manifestar em um futuro próximo ou distante.

Essas lesões podem ir desde uma queimadura de primeiro grau até a criação de um tumor maligno altamente rápido na sua disseminação, o melanoma, efeito da ação do sol sobre os melanócitos, células que dão a cor à pele.

Agora, o que muita gente não sabe é que o frio do inverno, aliado a banhos quentes e demorados, ao uso de roupas pesadas e sintéticas, ou lã, à diminuição da exposição ao sol, à exposição ao vento, é responsável pelo surgimento ou agravamento de muitos tipos de doenças de pele.

O que preocupa é que a maioria das pessoas, por desconhecimento, as trata com uma banalidade pueril, não sabendo de seus efeitos nocivos sobre um organismo despreparado. Dentre essas doenças aparentemente simples queria lembrar algumas, bastante frequentes no nosso dia a dia.

•    A xerodermia, ou simplesmente pele seca, que de simples não tem nada, por expor os nervos superficiais, quando acontece pode coçar pouco ou muito, chegando, por vezes, no extremo do prurido, a abrir verdadeiros caminhos dolorosos na pele, com surgimento de feridas, as quais são perigosas para os rins, ossos e coração humano, pelo alastramento da bactéria para a corrente sanguínea.

•    A dermatite atópica, doença que piora tremendamente no inverno, mais comum em crianças até os 5 anos e adolescentes, produz prurido intenso e, às vezes, desesperador, provoca insônia e infecções de pele, e é uma característica do indivíduo alérgico. Embora ainda não tenha cura, por ser genética, pode ser domada, controlada com atitudes básicas como evitar banhos quentes e demorados, não usar roupas sintéticas (só algodão) e fazer hidratação diária adequada após os 3 primeiros minutos do banho, com a pele semi úmida, ou mesmo nele.

•    A urticária: tanto o frio como o calor, vindos de quais fontes vierem, podem agir como irritantes cutâneos. Assim é que um simples banho quente pode provocar a urticária, que se apresenta com muita coceira e manchas avermelhadas ou os “vergões”, como o povo costuma chamar.

•    A dermatite de contato - no frio, as crianças podem aparecer com os rostinhos e mãozinhas vermelhas, como fruto de uma dermatite de contato pelo frio. O uso de hidratante protege a face e o uso de luvas protege as mãos. No entanto, as luvas de lã, junto com o frio e o atrito, podem ser as responsáveis pela vermelhidão que aparece na face das crianças e adultos. No caso dos bebês, usar suas meias para cobrir as mãozinhas. Em casos mais intensos, o médico pediatra deverá ser procurado.

•    Ainda sobre a dermatite de contato - outra coisa que parece corriqueiramente, mas é bom recordar em tempo frio, é o cuidado com as mãos de quem lava roupas ou louças. O frio, ajuntado aos produtos químicos usados, pode fazer estragos terríveis promovendo fissuras nas mãos e coceira incomodativa, principalmente nas mulheres. Importante aqui é ou se proteger com luvas que tenham por dentro proteção de algodão ou usar creme à base de silicone, sempre antes de haver exposição ao agente agressor.

•    O raquitismo - importante destacar que em crianças pequenas a ausência de exposição aos raios ultravioleta pode alterar negativamente a formação óssea e o seu crescimento. Isso acontece porque está na pele a pró-vitamina D, que somente se transforma em Vitamina D na presença do sol, sendo responsável por levar o cálcio para os ossos. Logicamente que a criança pode estar agasalhada, uma vez que o raio UV atravessa a roupa em uma percentagem significante para manter estabilizados os níveis da Vitamina D.

•    Ptiríase versicolor ou “pano” ou “micose” - é no inverno que os fungos atacam principalmente as costas e face em ambos os sexos, mas, no homem, ataca principalmente os pés. A umidade facilita sua disseminação. Aqui, secar bem as costas e os pés após o banho e não dormir com cabelos molhados. Caso já haja fissura nos pés, secar com secador e usar creme indicado pelo médico. Meias de algodão também ajudam.

De tudo o que conversamos, para finalizar esta nossa atividade de utilidade pública de hoje, podemos dizer que no inverno nossa pele precisa desesperadamente de água, de sol, de hidratação diária logo após o banho, de proteção contra agentes irritantes, de banhos rápidos e... de muito carinho...!

Como daqui a alguns dias já é dia dos namorados, vamos então cuidar desse órgão tão esquecido, mas que nos protege instante a instante de tudo que se nos ameaça e, ao mesmo tempo, é o responsável pelo sentimento de carinho e amor envolvido no toque humano.
Se a pele não é o que há de mais profundo... o que é então?!!!

3 comentários:

  1. Dra.
    Obrigada pela grande aula sobre a nossa pele.Aprendi bastante, como sou descendente de suecos alemães, italianos e franceses entre outros, tenho a pele muito branca. Realmente tenho que usar óleos e hidratantes sempre. Agora no inverno sinto que fico com a pele muito ressecada. Costumo dizer que eu e o sol não somos muito amigos. Nunca fui de me expor muito ao sol da praia, só ficava vermelha e ardia muito a pele. desisti. qto banhos são quase frios ,e cabelos molhados para dormir nunca.Coisas que minha mãe sempre ensinou.
    Gostei muito do modo que que foi falado sobre a pele. Vou cuidar ainda mais.
    Obrigada!

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    Respostas
    1. Bom dia Marlene..

      Vejo que já cultivas bons hábitos sobre os cuidados com tua pele e fico feliz com isso.

      O que se aprende e se faz direito, isso devemos ensinar. Passe adiante a ideia. A pele agradece!

      Um lembrete: ainda que seja inverno, peles como a tua, que chamamos de tipo I, necessitam receber protetor solar sempre, assim como uma boa e adequada hidratação. Tomar muita água também faz muito bem para que o viço da pele se mantenha.
      Abraços grandes

      Clarice

      Excluir
  2. Protetor solar sempre, uso 50 60 e bebo muita água. Estou tentando proteger sempre minha pele, com 61 anos tenho mais cuidados ainda. Obrigada dra.
    Abraços com carinho

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