Neuto de Conto e o Projeto Anitápolis

Recebi por email um discurso feito pelo então senador catarinense Neuto de Conto (PMDB), em 14/10/2009, quando ele criticou "uma ONG" de proteção ambiental contrária ao Projeto Anitápolis. Ele apresentou dados da agricultura no Brasil e disse que o país precisa importar "70% da necessidade atual de nitrogênio, de fósforo e de fosfato".

O senhor Neuto de Conto é um político e empresário experiente, do alto de seus 72 anos de idade. Ele deve ter seus fundamentos e justificativas para defender o Projeto Anitápolis. Mas será que ele possui mais fundamentos que todos os promotores de justiça, técnicos e órgãos ambientais que condenam esse empreendimento?

Se você quiser ler a íntegra do discurso, clique aqui. Senão, leia a parte que extraí dele:
Sr. Presidente, importamos quase 70% da necessidade atual de nitrogênio, de fósforo e de fosfato.
Ora, um País que tem essa dimensão, essa qualidade, esse propósito de alimentar o mundo não tem segurança interna, não tem armazenamento e não tem a exploração das minas, principalmente, de fósforo, de nitrogênio e de potássio. Importamos, em 2007 e em 2008, 17,565 milhões de toneladas desses fertilizantes, e isso representa 65% do nosso consumo. Imaginem se triplicarmos a produção! Temos condições de fazê-lo. Mas imaginem quanto material teremos de importar de outros países! E, se esses países, por uma ou por outra razão, acabarem com suas minas ou deixarem de nos vender o produto, ficaremos sem potencialidade de produção, ou seja, sem meios para produzir.
Sr. Presidente, em Santa Catarina, há uma jazida a cem quilômetros de Florianópolis, no Município da Anitápolis, que leva esse nome em homenagem à nossa guerreira Anita Garibaldi. Há oito anos, já se vem pesquisando essa jazida. Já existe a licença ambiental. Já se está na fase da construção da indústria para produzir 240 mil toneladas anuais de fertilizantes e 240 mil toneladas de ácido fosfórico. Uma ONG entrou na Justiça, porque vai ocorrer um pequeno desmatamento, para que ela seja impedida de se instalar. E a Justiça, como liminar, deu a oportunidade para que não se faça esse investimento de R$600 milhões com a Indústria de Fosfatados Catarinense (IFC). Imagino que a ONG, ao impedir que se construa uma usina de fertilizantes, utilizando-se uma mina existente, como existem outras no Brasil, não só está impedindo que o Brasil mande divisas para fora e gere aqui sua matéria-prima para produzir alimentos, mas também está impedindo o desenvolvimento, o crescimento e o emprego, está impedindo que a Nação alcance uma fantástica posição para elevar-se no fornecimento de alimentos para o universo.
Por isso, desta tribuna, faço esta trincheira, para alertar toda a sociedade brasileira: precisamos, sim, do meio ambiente; precisamos, sim, da proteção; precisamos, sim, de todos os avanços que podemos ter para buscar a proteção do meio ambiente, beneficiando a sociedade, mas precisamos muito mais de proteger nosso maior patrimônio, que é o bem-estar social, o crescimento e o desenvolvimento do ser humano. É o ser humano que terá de obter os benefícios de todos os segmentos, inclusive da área do meio ambiente, por meio do desenvolvimento e do crescimento do Brasil, com a oportunidade de o Brasil ser o grande líder mundial. Para isso, é preciso estratégia, o Brasil precisa ter as minas e a mercadoria necessária para que haja a transformação do combustível do ser humano que é o alimento. (grifei)
Em 16/12/2010, por ocasião de seu discurso de despedida do Senado Federal, assim foram publicadas suas palavras: "O setor agropecuário, informou o senador, é hoje responsável por 33% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Responde também por 34% das exportações e 37% dos empregos. Para o parlamentar, com o ingresso de áreas degradadas entre as hoje disponíveis para a agricultura, o país pode quadruplicar sua produção atual, sem agredir desmatamento e meio ambiente." (fonte: Senado) (grifei)

Dois dias antes, da mesma tribuna, Neuto de Conto informou de sua viagem à Antártida, que foi assim relatado em sua página no Senado: "Com um grupo de convidados e pesquisadores, o senador conheceu o Programa Antártico Brasileiro (Proantar), que mantém cerca de 60 cientistas voluntários por um ano na Base Comandante Ferraz, atuando em diversas pesquisas sobre aquele continente de 14 milhões de quilômetros quadrados. Neuto disse que a capa de gelo que cobre a região tem espessura média de 2.700 metros.

- E, no período do inverno, o gelo avança mil quilômetros além da costa, congelando as águas do mar. Nesse continente se encontram todas as mais difíceis condições de viver. O frio é intenso. Estivemos lá com -40º, mas chega a -90º. O vento que estava a mais de 100 quilômetros por hora, mas chega a 200 km/h. Não chove nenhum dia por ano e por isso se mantém o gelo - descreveu.

Neuto também mencionou o trabalho de uma bióloga brasileira, que se instalou numa tenda isolada para observar e pesquisar os hábitos dos pingüins e outras aves. Segundo ele, a bióloga descobriu que o pingüim se contamina com a gripe humana comum e com a gripe influenza. O senador disse que essa pesquisa poderá trazer avanços no tratamento dessas doenças no ser humano." (Fonte: Senado)

Sabe, leitor, achei interessante o contraste entre os fatos. No segundo discurso, o ex-senador exalta o "ingresso de áreas degradadas" para aumentar a área de plantio, enquanto deveria defender que elas fossem recuperadas.
No terceiro discurso, ele já passa a ser um verdadeiro ambientalista.

A leitura que faço é que o ex-senador não é contrário aos estudos e preservação na Antártida, porque lá não se pode plantar, não se pode construir indústrias, não se pode, em tese, ganhar dinheiro. Na Antárdida, ele até defende a atuação de biólogos na preservação do meior ambiente. Ali, em Anitápolis, não! Ali, para ele, "uma ONG" tenta barrar o desenvolvimento do Brasil. Omite os objetivos da ONG Montanha Viva, que é o de proteger o meio ambiente que ele mesmo se diz preocupado em seus discursos.

O ex-senador parece ignorar o fato que numa área como aquela de Anitápolis, que vi com meus próprios olhos, pode haver alguma planta que poderia ser descoberta e usada para curar graves doenças. Isso não deve passar pela cabeça dele?
Enquanto isso, fica entusiasmado com a pesquisa de pinguins e esperançoso na cura da gripe.
Enquanto isso, americanos e europeus se embrenham na Amazônia e outras florestas brasileiras em busca de plantas milagrosas, pois nossos políticos preferem ver o mundo que existe lá fora.

E eu pensei que o ex-senador, já com seus mais de 70 anos, após sair do Senado, onde entrou pela suplência, deixaria a vida pública para se tornar um ambientalista, para deixar um país melhor para seus descendentes. Eu estava enganado. Ele agora tenta conseguir uma vaguinha no BRDE, como diretor.

Sobre essa vaga no BRDE, pensei: se um funcionário público é aposentado compulsoriamente ao completar 70 anos de idade, por que não aprovam lei proibindo a indicação política para os que chegam ao septuagenário? São dois pesos e duas medidas! Sendo concursado não pode, mas ser indicado por apadrinhamento, isso pode!

Um comentário:

  1. O então senador catarinense Neuto de Conto (PMDB) ignora que as minas de fosfato se esgotarão? Não! Mas ignora o ciclo do fósforo, do fosfato! Onde vai parar o fosfato usado na adubação? Nos esgotos das grandes cidades, de onde deve ser recuperado! Assim se resolvem dois problemas: o dos esgotos e o do fosfato! Mas o problema é a ignorância! Ignoram o ciclo da água, o ciclo do carbono, o ciclo do nitrogênio! Se tivessem estudado mais saberiam, não seriam ignorantes! O problema está aí: na falta de estudo, na educação! A falta de cultura é a mis´ria maior! É a maior poluição!

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