Se o eleitor não lembra, quem vai lembrar?
No último dia 12, assisti pela TV parte da audiência pública da Comissão Especial da Reforma Política, realizada na Câmara Federal.
Em um dos pronunciamentos, o professor Jairo Nicolau, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, apresentou alguns dados estarrecedores da política brasileira.
Segundo ele, uma pesquisa foi realizada pelo ESEB-Estudo Eleitoral Brasileiro, na primeira quinzena do mês de novembro de 2010, ou seja, cerca de 30 dias após as eleições (essa pesquisa ainda não foi divulgada).
O ESEB é uma entidade formada por cientistas políticos, sem bandeira partidária. Pesquisando na internet, é possível encontrar várias pesquisas feitas por essa entidade.
Bem, esse levantamente estatístico, com base científica, foi realizado em todo o Brasil, e uma das perguntas era: em quem você votou para deputado federal?
Ora, fazia apenas 30 dias que o cidadão tinha ido até a urna. Mas o resultado não foi nada animador. Vejam:
-39% responderam algum nome dentre os candidatos que participaram daquela eleição; lembrariam, portanto do candidato em que votaram;
-7% disseram que anularam o voto ou votaram em branco;
-34% nao lembravam em quem votaram;
-6,5% disseram nomes que não estavam registrados;
-5,7% disseram nomes que concorriam para outro cargo, ou seja, informavam um nome de um candidato ao senado, ou a deputado estadual, por exemplo, em vez de citar um candidato a deputado federal, que era o cargo objeto da pesquisa.
Conclusão: metade do eleitorado, 30 dias após as eleições, não sabia em quem votou!
Moral da história: se o eleitor não lembra, o deputado vai lembrar?
Moral da história: se o eleitor não lembra, o deputado vai lembrar?
Jairo observou que no Rio de Janeiro 45% dos eleitores não tinham escolhido, mesmo às vésperas das eleições, um candidato a deputado federal.
Ele não citou outros Estados, mas eu acredito que os demais eleitorados estaduais estejam próximos ou até mesmo acima desse índice verificado no Rio.
Ele não citou outros Estados, mas eu acredito que os demais eleitorados estaduais estejam próximos ou até mesmo acima desse índice verificado no Rio.
Quando a pergunta era "Em quem votou para deputado federal, em 2006", menos de 10% afirmou lembrar em quem votou.
Quando a pergunta era "Você gosta de algum partido?", também metade dos entrevistados respondeu que não gosta de nenhum deles, enquanto um terço afirmou que gostava do PT. Jairo salientou que o fato do eleitor responder que gostava do PT não significa que ele votou em um candidato do PT. Quase 20% responderam que gostavam ou do PSDB, ou do PMDB, ou do PV. Os demais partidos receberam menções abaixo de 1%.
Isso prova que o eleitor vota no candidato e não no partido? Penso que sim.
Isso prova que o eleitor vota no candidato e não no partido? Penso que sim.
Com referência à discussão sobre o financiamento público de campanhas eleitorais, foi apontado que o erário gastou na última eleição, aproximadamente R$ 1 bilhão com isenção de impostos para as empresas de rádios e TVs, pela transmissão dos horários políticos "gratuitos".
No total, o governo gastou cerca de R$ 3 bilhões com as eleições de 2010.
Como comparativo, Jairo informou que na última eleiçao britânica (2010), o custo total para eleger seus deputados e o primeiro-ministro foi de apenas R$ 180 milhões.
No Brasil, cada deputado eleito gastou, em média, um milhao de reais. Imagine, leitor, o total gasto (R$ 500 mi!) só pelos deputados eleitos, fora o gasto dos que não se elegeram (mais R$ 300 milhões, aproximadamente)! Valores oficiais, sem caixa 2.
Então, quando se analisa dados como estes, verifica-se que metade do eleitorado vota por votar. Sendo assim, os "nossos representantes" não tem qualquer vínculo com esse eleitorado, porque o eleitor esqueceu para quem votou.
Por outro lado, se não esqueceu, só terá novo contato com ele na próxima campanha. Sumiram. Não nos atendem nem por email, principalmente se souberem que você não é eleitor deles.
Se você perguntar a algum eleitor local pra quem ele votou para vereador, não duvido que o resultado seja parecido com este acima. Não acredita nisso?
No ano passado, eu estava em uma lanchonete no Centro, quando um indivíduo perguntou à garçonete onde ficava a Câmara de Vereadores. "A Câmara de Vereadores? Não sei lhe dizer!", foi a resposta dela.
Se não sabe onde é a Câmara de Vereadores, vai lembrar em quem votou?
A reforma política tem de ser realizada de forma rápida e com mudanças que venham mesmo mudar o cenário político no Brasil, como o voto distrital, por exemplo.
E eu esperava, mas estou perdendo as esperanças, que o voto deixe de ser obrigatório. Assim, alguns eleitores não precisariam mais fazer força para lembrar em quem votaram. Bastaria não votar. Mas o voto facultativo é somente pra país politicamente desenvolvido. Não é o caso do Brasil.
Então, quando se analisa dados como estes, verifica-se que metade do eleitorado vota por votar. Sendo assim, os "nossos representantes" não tem qualquer vínculo com esse eleitorado, porque o eleitor esqueceu para quem votou.
Por outro lado, se não esqueceu, só terá novo contato com ele na próxima campanha. Sumiram. Não nos atendem nem por email, principalmente se souberem que você não é eleitor deles.
Se você perguntar a algum eleitor local pra quem ele votou para vereador, não duvido que o resultado seja parecido com este acima. Não acredita nisso?
No ano passado, eu estava em uma lanchonete no Centro, quando um indivíduo perguntou à garçonete onde ficava a Câmara de Vereadores. "A Câmara de Vereadores? Não sei lhe dizer!", foi a resposta dela.
Se não sabe onde é a Câmara de Vereadores, vai lembrar em quem votou?
A reforma política tem de ser realizada de forma rápida e com mudanças que venham mesmo mudar o cenário político no Brasil, como o voto distrital, por exemplo.
E eu esperava, mas estou perdendo as esperanças, que o voto deixe de ser obrigatório. Assim, alguns eleitores não precisariam mais fazer força para lembrar em quem votaram. Bastaria não votar. Mas o voto facultativo é somente pra país politicamente desenvolvido. Não é o caso do Brasil.
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