Imbituba: algumas contrapartidas do crescimento econômico - parte II

Esta é a segunda parte do artigo que comecei a publicar ontem, de autoria do leitor e mestrando Paulo Henrique Schlickmann.
Embora o estudo tenha sido feito tomando-se por base a indústria de cimento da Votorantim, que está em construção nesta cidade, outro referencial, no meu ponto de vista, poderia ser a empresa Tecon, que alavancou o Porto de Imbituba. A própria atividade portuária, como um todo, com seu desenvolvimento rápido nos últimos meses, traz mudanças repentinas ao município, tanto sócio-espaciais quanto econômicas, exigindo dos governos municipal e estadual melhoria nos serviços prestados pelo Poder Público e servidores especializados na administração de seus órgãos gestores.

Além disso, concordo com o autor quando ele apresenta como uma das soluções aos futuros problemas o debate com a sociedade organizada, para que se possa se antepor aos novos complicadores consequentes do progresso.

Parte II

1 - Transformações em Imbituba

Partindo ao assunto, utilizando Santos (1988, p. 18), “nota-se que os lugares podem permanecer os mesmos, as situações mudam. A história atribui funções diferentes ao mesmo lugar.”
É evidente que atualmente está se delineando em Imbituba uma reestruturação de antigas relações econômicas, estabelecendo-se novas funções. Estas novas funções econômicas devem ser estudadas e entendidas, uma vez que não as assimilamos por completo, e a assimilação exige tempo, estudos e debates claros com a comunidade envolvida.

O ator principal nesta reestruturação funcional é o Grupo Votorantin, ampliando as interligações regionais entre Imbituba e demais localidades do País, além do Município servir como palco para realocar capitais provenientes de outros lugares.

Segundo Mamigoniam (1976), há uma geografia dos investimentos industriais, onde capitais nascidos em uma região podem se interessar por outros centros. Nessa tendência o Grupo Votorantin é atraído ou se atrai por Imbituba em busca de reinvestir seus capitais. Pode-se dizer que nesta ação o espaço local imbitubense será palco de transformações promovidas pelo capital que dantes aqui inexistia, portanto, haverá inevitavelmente profundas e rígidas modificações na região.

Seguindo estes rumos, notoriamente o espaço urbano sofrerá tensões, que na visão de Lago (1996) será a contrapartida do crescimento. Este mesmo autor explica que o crescimento econômico é visto como redentor, mas, por outro lado, com receios e tristezas. Na instalação e funcionamento da indústria é óbvio o crescimento, sendo inevitáveis as mudanças, já que a antiga e conhecida dinâmica espacial inexiste e uma nova organização tenta se estabelecer.

A organização da nova dinâmica espacial virá acompanhada de grande potencial atrativo, que para Christaller (1933) é base para o estabelecimento da localidade central, no caso, Imbituba como centro atrativo. A vinda de imigrantes, trabalhadores de cidades vizinhas ou simplesmente pessoas de passagem é real, e isso acarretará o que Lago (1996) chama de aumento do uso de solo urbano, provocando intensificação da densidade usuária da cidade, forçando desgaste e envelhecimento em antigas instalações.

No crescimento da população usuária e expansão populacional, a superlotação de serviços populares como transporte público, saúde, educação e problemas com a mobilidade urbana será real. Comprometidas as rodovias, estacionamentos e vias centrais, os serviços essenciais como supermercados e lojas também serão defasados, gerando inúmeros esgotamentos. Com prováveis turbulências, tensões urbanas se intensificam; cobranças gerais recaem sobre o Poder Público administrativo, requerendo serviços, longe de fáceis soluções.

As transformações no espaço não são simples. Santos (1977) explica que o novo tenta se estabelecer por toda a parte, mas não consegue completamente devido à rigidez de instalações antigas. Isso não ocorre somente com as infraestruturas, mas por afetar interesses do que Schumpetter (1984) chama de grupos hegemônicos. Ou seja, as transformações serão limitadas devido à força dos interesses deste ou daquele ator local poderoso. Fato que em Imbituba observa-se devido às forças de certos empresários, entre outros exemplos, vimos no ramo do transporte público a Empresa Santo Anjo da Guarda, nos combustíveis o Posto Nova Brasília, e no ramo têxtil o Grupo Ferju, todos monopolizando preços e serviços, determinando ações tanto privadas como públicas, que nem sempre condizem com os interesses de grande parcela da população.

Nestes termos, as pressões populares se tornarão mais fortes e irresistíveis, os grupos locais serão obrigados a abrirem mão de sua hegemonia, forçados pela entrada de concorrentes já estabelecidos e conhecidos regionalmente. “A questão é que enquanto a concorrência é muito fraca, a estrutura local se mantém, mas na medida em que o consumo se alarga e englobam regiões mais amplas, o progresso mais intenso tende arruinar os grupos locais” (Lênin, 1982, p. 217). Portanto ficar como está é impossível, sendo forçosa a abertura para a concorrência; o que precisamos é antever problemas, profissionalizar empresários e serviços, uma vez que há forte tendência a perder o posto exclusivo que ostentam hoje.

Leia, amanhã, a terceira e última parte deste artigo.

(foto extraída do site da Companhia Docas de Imbituba)

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