Imbituba: algumas contrapartidas do crescimento econômico - parte III

Esta é a última parte (acesse a parte I) do estudo acadêmico apresentado por Paulo Henrique Schlickmann  e  que aborda o rápido desenvolvimento econômico de Imbituba e as consequências e necessidades decorrentes desse desenvolvimento, exigindo da administração pública ações eficientes na qualificação da força de trabalho, além de outras ações já mencionadas nos tópicos anteriores.

Nesta parte são abordados os temas mais preocupantes para toda a sociedade, que são os serviços públicos básicos ineficientes e a formação de bolsões de pobreza.

1.1 – Favelização e Serviços

Para Mamigoniam (1976), a localização industrial sugere o aparecimento de novos ramos por pura e simples multiplicação financeira e o mercado de consumo é enriquecido. Observando este fato entende-se que Imbituba se tornará mais atrativa, especialmente em recursos humanos diversos. Segundo Lago (1996), as cidades atraem e abrigam recursos humanos dos mais variados, tanto para funções comuns, como especializadas, o que faz acirrar a diferenciação de classes sociais. Devido a isso, aquele indivíduo qualificado profissionalmente receberá valores/salários que condizem com a supervalorização imobiliária que recairá sobre o solo municipal. Mas aquele individuo socialmente desfavorecido que foge de aflições durante toda a vida e não possui qualificação profissional, será forçado a ocupar vagas em subempregos, restando-lhe o subconsumo, sendo estes empurrados a áreas de habitação irregulares, forçando à favelização.

Sabemos que são problemas comuns em qualquer cidade do mundo com rápido crescimento, portanto, a antecipação e planejamento na reestruturação urbana seria a ideal alternativa.
O planejamento urbano deve obrigatoriamente partir do governo local, este que, segundo Lago (1996), deve buscar a eficiência administrativa, com esforços voltados a qualificar seus recursos humanos e à implantação de recursos técnicos. Será esta administração profissional e eficaz, desvinculada de méritos políticos, a responsável pela satisfação dos anseios populacionais, evitando tensões sociais e amenizando transtornos das obras.

1.2 – Educação / Saúde / Cultura

Apontando para o crescimento populacional e econômico, Imbituba sofrerá com a chamada “explosão educacional”, referentes ao aumento no número de matrículas em todos os níveis de ensino. Haverá pressão sobre o sistema municipal de educação, uma vez que há carências em edificações ao alunado, há pouca qualificação profissional e principalmente sofre-se com a inexistência de cursos profissionalizantes e técnicos.

Na área da saúde, as ações além de onerosas exigem adequação de equipamentos. Se o hospital e os ambulatórios dos bairros hoje estão saturados e ineficientes, considere-se a explosão populacional. Além disso, a população de Imbituba demanda eventos culturais e de lazer, atividades destinadas a promover a ocupação dos exércitos de jovens desocupados, promovendo alfabetização social e comunitária.

Por estas e outras razões é que se torna urgente e indispensável a reorganização administrativa no que diz respeito aos méritos intelectuais junto à ocupação de cargos públicos. Isso posto, devido à urgência com que se fazem necessárias as transformações, que serão ineficazes caso não haja profissionalismo, estudos e debates sociais, buscando reorganizar o espaço urbano de forma racional e suprindo as necessidades não somente dos grandes capitalistas, mas de todos moradores e usuários do Município.

2 - CONCLUSÃO

Para concluir, volta-se a (Mamigoniam 1976, p.86), afirmando-se que “São necessários estudos de planejamento social da indústria, sendo que devemos nos ater a riscos econômicos e urbanos, além de naturais”. Isso sugere que o destino da cidade deve ser traçado em debates prévios, fóruns com estudiosos, lideranças locais e exclusivamente com a população em geral, caso contrário, o governo municipal soará como autoritarista e ditador.

Diante o que consta, a população pouco esteve engajada, além de não ser consultada quanto à viabilidade da instalação da indústria. Vira-se em agosto de 2010 conflitos armados para expulsar ocupantes da área em que se está construindo a nova indústria.

Propondo finalizar, utilizando (Santos, 2009, p. 322), aponta-se que “Nos tempos modernos, a cidade é espaço onde os fracos podem subsistir”. Com carga filosófica, Santos (2009) nos força a indagar: Quem são estes fracos? Esta subsistência gera preocupação nas ordens administrativas ou ficará fadada ao fracasso, enquanto o Poder Público espera a força do desenvolvimento levar a cidade a reboque?

O fabuloso Lefebvre (1999) nos explica que o progresso é cercado de continuidade e descontinuidade; uma vez estabelecida, a ordem atual está sujeita a rupturas. A ruptura provoca mudanças estruturais, podendo ser radicais e solucionar problemas recorrentes. Essa desordem solucionada prepara o espaço para uma nova ordem, que virá carregada de novos conflitos clamando por novas soluções.

Marx (2010) afirma que uma organização social nunca desaparece antes de conter seus problemas, ou seja, em Imbituba há uma clara tendência a resolver angústias do passado, mas que é inevitável o estabelecimento de novos problemas. Cabe, então, ao profissionalismo, aos estudos e ao planejamento amenizar tensões do progresso histórico.

REFERENCIAL TEÓRICO
CORRÊA, Roberto L., Trajetórias geográficas. Rio de Janeiro: BCD união de editoras S.A. 1997.
CHOLLEY, A. Observações sobre alguns pontos de vista geográficos in Boletim Geográfico ano XXII, n 179 mar./abr. CNG/IBGE, 1964.
LAGO, Paulo, F. Florianópolis: A Polêmica Urbana. Florianópolis – SC, Ed. Palavra Comunicação. 1996.
LEFEBVRE, Henri. El Materialismo Dialéctico. In: http://pagina.de/manuelmanriquez, ed. Elaleph.com Copiright, 1999.
LÊNIN, V. I. O desenvolvimento do capitalismo na Rússia. São Paulo - SP, Editora Abril Cultural, 1982.
MARX, Karl.; Engels, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Bauru – SP, Edipro, 2ª Edição, 2010.
MAMIGONIAN, Armem. Localização industrial no Brasil. In: Boletim Paulista de Geografia. Nº 51, São Paulo – SP, 1976.
________. A Escola Francesa de Geografia e o Papel de André Cholley. Florianópolis – SC: Cadernos Geográficos – Nº6, UFSC, 2003.
SANTOS, Milton. Metamorfose do Espaço Habitado, fundamentos teórico e metodológico da geografia. São Paulo - SP, Hucitec, 1988.
________. A natureza do Espaço. São Paulo – SP, Edusp, 2009.
_________. Sociedade e Espaço: Formação Social como Teoria e Método. In: Boletim Paulista de Geografia. Nº 54, São Paulo – SP, 1977.
SERENI, E. La categoria de Formación Económico-social. Cuadernos de Passado y Presente. Cordoba, Argentina: Siglo XXI, 1976.
SCHUMPETER, J. A. Capitalismo, Socialismo e Democracia. Rio de Janeiro: Zahar, 1984.

8 comentários:

  1. Sr. Paulo Henrique

    antes de mais nada, eu gostaria de parabenisar como de forma profissional, sucinta, clara e direta foi exposto o tema abordado.
    Eu gostaria de perguntar-lhe: Além de TER que contar com profissionais à altura na Prefeitura de Imbituba, haja vista o desenvolvimento totalmente desordenado desta cidade, como atingir metas satisfatórias para a cidade, se os cargos comissionados do executivo são praticamente todos gerados por favores políticos?

    Pena: Seria possível esclarecer à população de Imbituba, em que são formados os secretários de Imbituba, sim porque até onde eu sei, o Secretário da Sedurb , (Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Ambiental), cursou Direito, o do Turismo cursou ?, o da Saúde cursou letras?
    Pergunto pode um advogado, DIRIGIR de forma profissional uma Secretaria de desenvolvimento urbano? Uma coisa é certa: sem formação e muita, muita experiência, no meio ambiente é impossível e ineficaz (como está devidamente provado em Imbituba).

    Sr. Paulo Henrique: Como é de se observar, conforme o acima exposto, a Prefeitura de Imbituba é formada por um conjunto de pessoas, podemos dizer, esforçadas, mas pelo projeto exposto, a tendência de Imbituba seria de ser uma cidade no futuro muito aquém do necessário se dirigida com um corpo assim formado?
    Paulo VON

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  2. Quem é esse tal Paulo Von? De onde veio?

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  3. Thiago

    nunca é tarde para aprender a ter respeito, e falar como gente.

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  4. Thiago, não sei qual foi seu objetivo de apresentar esses questionamentos, se foi interesse pessoal em realmente saber quem é o leitor Paulo Von ou desqualificar suas opiniões. Diante disso, gostaria que você fosse mais claro.

    Paulo, nem todos os secretários possuem ensino superior. Embora o ideal seria indicar pessoas com formação na área de atuação, não vejo isso como uma fórmula que nos desse sempre bons resultados. Um médico entende de medicina, mas dificilmente entenderá de gerenciamento de pessoal e administrativo. Só como exemplo, já tivemos médicos à frente da secretaria de saúde, mas nem por isso se desenvolveu bons trabalhos.

    Acredito que é no segundo escalão (cargos de diretor) que deveria ser exigido conhecimento técnico das áreas de atuação respectivas.

    No caso da Sedurb, é necessário o conhecimento de muita legislação. Já nas diretorias, como explanei acima, é extremamente necessário servidores que tenham formação técnica.

    Embora para as dúvidas jurídicas há a procuradoria do município para respondê-las, ter um secretário com conhecimento jurídico básico em sua pasta poderá resultar em rapidez nas decisões.

    Evidentemente, as indicações passam geralmente pelo crivo político e não técnico, o que pode levar a gerenciamentos ineficientes.

    É o que penso.

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  5. Pena, meus questionamente sobre o Paulo Von são realmente devido ao interesse pessoal de saber quem ele é, pois ele fala dos problemas da cidade como se todos fossem de fácil solução. Será que se fossem fáceis, os políticos já não teriam reslvido?
    Acho até que ele pode contribuir para o crescimento da cidade, porisso gostaria de perguntar ao Paulo se ele já exerceu algum cargo governamental? Onde ele trabalha atualmente? Qual a sua área de atuação?
    Grato.
    Thiago

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  6. Paulo Henrique Schlickmannfevereiro 22, 2011

    Sr. Paulo von. Sua preocupação é de enorme latência, uma vez que já causou espanto nos leitores. Agradeço os elogios ao texto.

    Ao Sr. Thiago, nitidamento os problemas de fáceis soluções ficam a cargo da população em geral. Problemas repetidos, graves e de alta repercução fica a cargo das "altoridades". Devemos cobrar formação, dedicação e prestações de contas, afinal de contas, é o nosso espaço que é jogado as traças. Já comentei no artigo, não irei me estender.

    Sr. Thiago, deverias estar nas fileiras exigindo explicações e transformações honestas. E deixar de lado o protecionismo politico - partidário.

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  7. Thiago,
    neste blog, as suas perguntas não são pertinentes ao tema.
    Você talvez teria consigo quais foram os compromissos que a atual gestão prometeu em cumprir, e talvez acompanhado de perto as sua efetivas realizações nos últimos 6 anos?
    Caso queira deixar um contato seu, poderemos conversar.

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  8. Thiago, muitas vezes na administração pública os problemas podem ser resolvidos de forma fácil, quando levadas em conta as questões técnicas; porém, tornam-se difíceis, diante de questões político-partidárias.

    No que diz respeito a sua pergunta, o mais importante não é questionar "quem é", mas "por que". Melhor ainda é debater e argumentar.

    Quando comecei a divulgar o blog por email e no orkut, a maioria não dava importância para o que eu escrevia, pensava, trazia a debate. Preocupavam-se mais em saber quem eu era. E eu respondia: não importa o santo, mas, sim, o milagre.
    Temos de acabar com a cultura imbitubense de que tudo que se pensa ou se fala tem algum objetivo ou vínculo político-partidário.

    Espero te ver aqui mais vezes, participando, opinando. Obrigado.

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