O paradoxo entre viver bem e proteger o meio ambiente

Leitores, o mundo moderno nos apresenta uma infinidade de coisas para que a vida se torne mais fácil ou prazerosa. Seja em casa ou no trabalho. Todos buscam o que de melhor está ao seu alcance. Quase sempre, ao alcance do bolso. E essa busca vai desde o desejo de comprar um tênis da moda ou o último lançamento de um celular, ou até viver em uma casa confortável e um carro novo na garagem. Mas para se produzir 6kg de cobre é necessário extrair uma tonelada de minério. Para se fabricar um celular, são necessários 30 tipos de metais.
Ao mesmo tempo que se quer uma vida confortável, prega-se e deseja-se proteção ao meio ambiente. Paradoxo instalado!

Imagine, leitores, que uma população de bilhões de pessoas em todo o mundo, que vivem longe das maravilhas modernas ou em meio à pobreza gostaria de viver bem, comer bem e morar bem.

Na semana passada, assisti a um documentário muito interessante, no qual se mostrou problemas graves que atingem o meio ambiente. Foram escolhidos alguns pontos do planeta e citaram o Brasil.

Um dos dados apresentados informava o seguinte: se a população da Terra passasse a viver como vivem os franceses (o documentário foi produzido na França), necessitaria-se de três planetas Terra para suprir as necessidades dessa população global. Apenas um planeta não seria suficiente para produzir matéria-prima necessária à demanda dessa população.
Em um artigo que li no ano passado, sobre corrupção, afirmava-se que se toda a população da Terra vivesse como vivem os abastados políticos corruptos, haveria a necessidade de descobrirmos mais nove Terras!

A pecuária, a agricultura e a destruição ambiental

Não é somente a produção de bens de consumo que gera uma grande degradação ambiental. Para satisfazer necessidades fisiológicas também colocamos em risco o meio ambiente. A produção de alimentos é um dos maiores fatores de aumento da poluição e de exploração de recursos não renováveis. A pecuária consome mais petróleo que o setor de transportes. E é ela também a responsável por um espetacular gasto de água potável.

A cada ano a população consome mais carnes, enquanto a pecuária não consegue produzir o sufiente para acompanhar a demanda. Chegará um dia em que o preço da carne será muito alto.

A pecuária e a agricultura são responsáveis por desequilíbrios no ecossistema e grandes desertos. Na China, por exemplo, os desertos avançam 25km/ano, e Pequim sofre cada vez mais com as terríveis tempestades de areia.

30 países já perderam suas florestas virgens. E na Amazônia peruana a devastação transformou-se em uma guerra. De um lado, os agricultores, do outro, os índios que vivem da natureza preservada. E como não conseguem ser ouvidos pelo governo, ameaçaram matar os invasores.

Para atender à demanda de grãos no planeta, são necessários 200kg de grãos por habitante. Atualmente, são produzidos 300kg/per capta. Por que, então, há fome no planeta? Porque a maior parte da produção é vendida a pecuaristas.

Aumento do consumo de petróleo

O consumo cada vez maior de petróleo colabora para a poluição do ar e o aumento da temperatura no planeta. Consumimos 2 ou 3 vezes mais petróleo do que a quantidade encontrada para exploração.
40% da energia produzida no mundo vem do petróleo.

Para tentar diminuir a poluição causada pelos automóveis, criou-se o etanol, produzido a partir da cana-de-açúcar. A queima do etanol polui 80% menos que a gasolina. Ocorre que os 5 milhões de hectares de cana-de-açucar em todo o mundo ameaçam o meio ambiente com pesticidas, desmatamentos e queimadas necessárias no processo da colheita.

4,5 milhões de pessoas morrem por ano por causa da poluição. Um número extremamente alarmante. E toda a poluição deriva do desenvolvimento que não respeita o meio ambiente.

A destruição dos ecossistemas

Chegamos a um percentual absurdo de destruição da natureza: 50% dos pântanos sumiram no século 20. Imagine que se tomarmos os últimos mil anos de civilização, destruímos 50% dos pântanos em apenas 10% desse tempo.
Mas um pântano não serve para nada, não é verdade? Era e é o que pensa muita gente, muitos empresários e muitos governos.

Nos Estados Unidos existe um pântano chamado Parque Nacional Everglades, que foi declarado patrimônio mundial pela UNESCO. Com o desenvolvimento desenfreado, invadiram o pântano, construíram cidades e estradas sobre ele. Quase o destruíram por completo. Achavam que a água do pântano não servia para nada. Nos últimos anos, o governo corre contra o tempo para reparar o erro. A destruição do pântano resultou na escassez de água potável (a foto mostra uma indústria açucareira - US Sugar - que o governo pretende retirar da área do pântano).
"A interferência pouco planejada do homem na natureza provoca péssimos efeitos também em outros países. Nos Estados Unidos, no sul da Flórida, a partir de 1890 os norte-americanos passaram a 'corrigir' uma imensa área pantanosa, conhecida como Everglades. Com cerca de 4,5 milhões de hectares, o pântano era considerado 'mal cheiroso, inútil e foco de doenças e mosquitos'. A vegetação natural foi retirada, as áreas mais úmidas drenadas, canais e estradas foram construídos, o curso dos rios sofreu alterações e fazendeiros instalaram-se com plantações de cana-de-açúcar. Ao longo dos anos, as conseqüências dessa intervenção tornaram-se visíveis. O pântano era, na verdade, um grande filtro natural da água que abastece todo o sul da Flórida, incluindo os 4 milhões de habitantes de Miami. Sua deterioração provocou a perda de biodiversidade, erosão, destruição de corais na foz dos rios, eutrofização de lagos, poluição por fósforo e mercúrio. A situação se agravou a tal ponto que obrigou o governo americano a elaborar um plano para a restauração dos Everglades. Devem ser gastos US$ 7,8 bilhões em 35 anos para retirar os produtores rurais, desfazer os canais de drenagem, recolocar os rios em seus antigos leitos e devolver à área seu aspecto original. Isso tudo para que o pântano possa voltar a oferecer os serviços ambientais antes prestados à população e que jamais deveriam ter sido interrompidos." (fonte: site biodiversity reporting award)
E temos um pequeno exemplo em Imbituba. Ontem, escrevi sobre o fim do mangue da Lagoa da Bomba, que foi destruído para enriquecer alguns. Imagine se um dia voltarmos a precisar dela para matarnos nossa sede!

Algumas soluções para diminuir o impacto ambiental

A energia eólica tem sido uma das soluções para diminuir o consumo de recursos energéticos não renováveis. O uso desse tipo de energia cresceu 30% nos últimos 20 anos. A Dinamarca, um dos países que mais investe em energias alternativas, tem 20% de sua energia produzida pelo vento.

A Dinamarca, além de promover  em grande escala a reciclagem de lixo, também é o país que mais  extrai energia e eletricidade do que é lançado nas lixeiras, através de usinas que queimam os resíduos.

O lixo produzido no planeta é outro problema que exige solução urgente. Não há mais lugares para depositá-lo, e seu lançamento no meio ambiente têm provocado doenças, grandes destruições e até mesmo assunto de Estado. Não faz muito tempo, parte do lixo da Inglaterra veio parar no Brasil.
O lixo de Imbituba, por exemplo, é enviado para outra cidade catarinense. E algumas cidades que escolheram essa solução para o seu lixo começam a enfrentar a indignação das populações que vivem nas cidades receptoras.

A China, com uma população de mais de um bilhão de pessoas, está investindo em bionenergia. As fezes dos porcos, e até humanas, estão sendo usadas para gerar enercia elétrica, através da produção de biogás. Cerca 25 milhões de chineses usam biogás em suas casas e até em indústrias.
Apenas 1% da população mundial usa biogás, embora todo o processo de produção e consumo não gere CO2.

O transporte ferroviário também é uma boa alternativa para diminuir a poluição. Eles consomem 7 vezes menos energia do que os veículos que usam o petróleo. Mas para investir em ferrovias e transporte marítimo será necessário romper com multinacionais produtoras de veículos, pneus, combustíveis, peças.

A pergunta ainda sem resposta

Diante de tudo isso fica a pergunta: como saciar a fome, promover a justiça social e produzir desenvolvimento sem prejudicar o meio ambiente?

Para mim, o início da solução desse problema está no controle global da natalidade. Menos gente, menos consumo, mais áreas preservadas.

3 comentários:

  1. A vida é uma sucessão de paradoxos. E promover o "equlibrio" é algo tão complexo quanto o sistema onde se quer instaurar este equilibrio. No caso, um planeta inteiro.

    "saciar a fome, promover a justiça social e produzir desenvolvimento sem prejudicar o meio ambiente" é algo que requer multiplas soluções. E assim como os remédios que existem nas farmácias, a solução para determinado problema pode acarretar efeitos colaterais em outras partes do corpo; que no caso é a Terra/civilizão humana. Vide a solução "controle global da natalidade. Menos gente, menos consumo, mais áreas preservadas." Ainda que não por vontade própria, paises como o Japão estão com baixa taxa de natalidade, e a perspectiva de vida é alta. Isso acarreta um país de aposentados, e dependendo da diferença entre número de aposentados e pessoas ativas, pode ocasionar problemas econômicos e por seguinte sociais. Embora para certos paises seria sensato um número menor de nascimentos.

    A pergunta levantada realmente não tem resposta devido ao grau de complexidade existente. Ao menos, eu não consigo imaginá-la. Bem, até consigo ter um vislumbre paliativo, mas é utópica demais a resposta. Assim como o Velho Mundo fez ao descobrir o Novo Mundo, é hora da civilização humana explorar e se expandir literalmente para novos "mundos".

    De todo modo, eternidade é algo que existe apenas em palavra. A extinção de certas coisas não deve ser tão temida, pois presumo que a mudança é virtualmente a única certeza que existe, e que nada é indelével. Antes dos seres humanos existirem, muitos animais e plantas existiram e deixaram de existir na face da Terra. A nossa própria estrela, o Sol, haverá de sucumbir daqui uns 5 bilhões de anos quando esgotarem suas reservas de hidrogênio.

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  2. Prinesca, muito agradecido por expressar seu ponto de vista. As mudanças existem desde que o mundo é mundo. E sem elas não estaríamos aqui. Cada escolha que fizemos representa uma renúncia a algo. E cada escolha tem suas consequências, boas ou ruins, melhores ou piores.
    O controle de natalidade, em alguns casos, representa um envelhecimento populacional, mas talvez seja mais fácil resolver uma questão econômica do que ambiental. Como você mesmo concorda, "para certos países seria sensato um número menor de nascimentos", como é o caso da China, Índia, alguns países africanos e até mesmo o Brasil, onde ter muitos filhos ainda é uma questão cultural ou religiosa. Ainda há muita gente por aqui que prega que famílias grandes são dádivas de Deus.

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  3. Sobre efeitos colaterais que disse anteriormente... o outro lado da moeda é que o uso mundial de etanol e outros biocombustiveis para "frear o aquecimento global" causa a morte de quase 200.000 pessoas por ano ao aumentar a quantidade de pessoas em extrema pobreza.
    http://www.prnewswire.com/news-releases/biofuels-policy-may-kill-200000-per-year-in-the-third-world-118770124.html

    "Thus, the biofuel remedy for global warming may be worse than the disease it purports to alleviate." = "Deste modo, o remédio do biocombustível para aquecimento global pode ser pior que a doença que ele pretende aliviar."

    A propósito, com uma população mundial tão vasta, é singular muitas pessoas serem contra alimentos transgênicos. Não há como alimentar tal volume por meios de outrora. É preciso de plantações que resistam às pragas com pouco ou nenhum uso de herbicidas, e produzam mais sem esgotar tanto o solo.

    E, gostaria de contrariar a afirmativa "O consumo cada vez maior de petróleo colabora para a poluição do ar e o aumento da temperatura no planeta.". Claro, não há como negar a poluição, mas quanto a temperatura, os dados não costumam demonstrar tal efeito.
    Segue abaixo um panorama de temperatura dos últimos 10.000 anos:
    http://www.iceagenow.com/GISP2%20Ice%20Core.jpg
    Claro, tem aqueles que dizem que o aquecimento está acontecendo mais nos últimos anos. Bem, a temperatura do planeta medida por satélite desde 1979:
    http://www.drroyspencer.com/wp-content/uploads/UAH_LT_1979_thru_Feb_2011.gif
    A tendência atual é de queda. Sendo evidente que a variação depende mais da própria natureza como os efeitos de fortes El Niño e La Niña, ou de vulcões com atividade próxima a linha do equador.

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