A escola pública atual: o pior lugar para se estudar no Brasil! - parte II

No dia 12/04/10 escrevi a primeira parte deste tema. Não consegui publicar com brevidade a segunda parte, mas vamos a ela, hoje.

Quando da publicação da primeira parte, um leitor, através de seu comentário, forneceu um link de um texto publicado na Veja.com que trazia dados sobre a educação falida do Brasil. Título do texto: "Preocupe-se. Seu filho é mal educado."

O autor, Gustavo Ioschpe, desmitifica em seu artigo que a escola particular é muito melhor que a pública. Revela o que não se costuma divulgar na imprensa. Leia com atenção o artigo, pois ele não foi escrito para profissionais da educação. O objetivo foi alertar aos pais sobre a falsa imagem "escola privada = educação de qualidade". E traz uma constatação: os professores do ensino privado são formados pelas escolas públicas:
"Segundo o Perfil dos Professores Brasileiros, da Unesco, 81% dos atuais professores cursaram seu ensino fundamental em escolas públicas e quase 70% fizeram o curso secundário em escolas públicas. Se esse professor é formado em instituições de ensino claudicantes, ele tenderá a ser também um professor despreparado, por mais rica e organizada que seja a escola em que leciona.
Não é possível para a nossa elite criar uma blindagem para se proteger das mazelas do setor público. Não apenas porque a escola pública formará a mão-de-obra dessa elite dirigente, mas também porque formará os professores dos seus filhos. Em todos os países do mundo, educação é um projeto público e nacional. Ou todos vão bem, ou o país vai mal."
E o autor conclui e adverte:
"...mesmo quem coloca os filhos em escolas particulares deve se preocupar com a qualidade da educação pública. E com urgência. Não apenas por espírito cívico, mas por amor-próprio também. Atualmente, 13% dos alunos do ensino básico estão em escolas privadas e os outros 87% estudam em instituições públicas. O único encontro entre esses dois grupos que gera alguma mobilização do setor mais avantajado é quando os ex-alunos da escola pública entram na escola do crime e cutucam as janelas dos carros dos ricos com os seus revólveres. Aí, já é tarde demais. No Brasil de 2007, voltar nossa atenção para o que acontece na 1ª série do ensino fundamental das escolas de periferia virou questão de sobrevivência – coletiva e individual, figurada e literal."
Não concordo, porém, quando o autor praticamente afirma que os bandidos são "ex-alunos da escola pública". Os maiores bandidos, na minha visão, são os políticos corruptos que desviam dinheiro da educação ou que não se importam com ela. Eles não usam armas para nos roubarem o dinheiro público. Eles usam a nossa arma: o nosso voto. Eles usam o nosso descuido: a nossa omissão. E muitos filhos deles, estudando em escolas privadas, enveredam-se, também, pelo mundo do crime.

Em um outro artigo que recebi por email, no mês passado, de autoria do professor Maurício Silva (Tubarão-SC), pode-se ver a precariedade da educação no Brasil. A depender dos investimentos e da importância que tem se dado a ela, por todas as esferas de governo, é fácil prever qual futuro teremos.

Sob o título-questão "Um país sem professores?", o professor Maurício já expõe de início a relação entre a educação e o meio ambiente:
Pode parecer exagero ou que se está falando de um país do fim do mundo. Afinal, já é consenso: não haverá crescimento sustentável (com preservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais) sem boa educação para todos, o que pressupõe, no mínimo, bons professores. Mas é realidade! E estamos falando do Brasil, um país que busca, às vezes de forma açodada, um lugar no protagonismo global.
Maurício aponta dados educacionais estarrecedores:

- "segundo o Ministério da Educação, 300 mil professores atuando fora da área para as quais foram formados, e os cursos de Pedagogia e Licenciatura não conseguem preencher a metade das vagas oferecidas."

- para piorar a situação, "as novas gerações não querem exercer esta profissão. Pesquisa da Fundação Carlos Chagas, entre alunos do último ano do Ensino Médio, constata que apenas 2% optam pelo magistério", cujos rendimentos estão abaixo dos que são pagos a outras atividades profissionais.

- pesquisa da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), realizada com 57 países, aponta que os alunos brasileiros "ocupam o final da fila em Leitura (48°), Matemática (53°) e Ciência (52°).

- "Estudos da UNESCO, entre 128 países, coloca-nos na vexatória 88ª posição. No SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica, realizada a cada dois anos), alunos da 4ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e da 3ª do Ensino Médio demonstram, a partir de 1995 (1ª avaliação), que estão aprendendo o mesmo, ou menos, em Português e Matemática."

- "Nos estágios, segundo o Instituto Euvaldo Lodi, 80% dos estagiários tem o contrato rescindido por problemas de comportamento. Avançamos na quantidade, praticamente universalizando o ensino fundamental, mas patinamos na qualidade."

Maurício enfatiza:
Este quadro somente será revertido se revertida for, principalmente, a situação do professor que está abandonado financeira e intelectualmente e, em algumas situações, com a autoridade e a integridade física ameaçadas.

Os esforços do governo federal e de alguns estaduais e municipais, neste sentido, acumulam equívocos: “Tratam separadamente o que é indissociável: qualidade do ensino, salário e formação do magistério” (...). Quando pagam o Piso Nacional de Salários, fazem-no igualmente para todos, sem a cobrança da contrapartida, resultando que produtivos e improdutivos ganhem mal. Quando oferecem capacitação, geralmente, é desprovida do diagnóstico das deficiências de formação. O que se deve é implantar sistema de avaliação que aponte deficiências na formação, a serem sanadas através de capacitação, e premie o mérito. Quem o fez, melhorou o ensino, o salário e a formação dos professores. Logo, o problema é mais de gestão do que de dinheiro. Embora seja notória a necessidade de mais investimentos no setor.

Ou o Brasil toma as medidas necessárias para manter e trazer as melhores cabeças para o magistério ou ficaremos sem professores, ou com os de menor rendimento, adiando o futuro, já que jazemos atropelados pelo atraso numa área estratégica: a Educação Básica.
Leitores, na semana passada, o Ministério da Educação anunciou a conclusão do último Ideb (índice de desenvolvimento da educação básica), cuja aferição é feita a cada dois anos e iniciou em 2005. Desde aquele ano, o índice permanece em torno da casa de 4 pontos, sendo que a média nos países desenvolvidos está em 6,0, índice este que o Brasil pretende alcançar somente em 2021!!! Segundo o ministro da educação, “O Brasil está numa trajetória ascendente e consistente pelo quarto ano consecutivo. Ainda estamos distantes da meta de 2021, mas com a esperança renovada de que será alcançada”. Haja esperança, diante desses dados publicados pela Veja.com, extraídos dos números divulgados ontem pelo Ministério da Educação:

- "somente 5,7% das escolas públicas brasileiras conseguiram alcançar nota 6 no Ideb".

- "apenas 109 escolas em todo o país conseguiram alcançar a nota 6 entre os alunos do segundo ciclo do ensino fundamental – da 5ª a 8ª série. Esse número corresponde a 0,3% do total."

- "Já nos anos iniciais do ensino fundamental (da 1ª a 4ª séries), 3.235 escolas obtiveram nota maior ou igual a 6 – 6,7% do total."
 
Leitores, eu pretendia falar deste tema escrevendo duas postagens, e ambas a partir da própria visão que tenho da educação no País. Contudo, com dados científicos nas mãos, decidi por concluir meu ponto de vista em uma terceira postagem.

Um comentário:

  1. Nó no Nójulho 07, 2010

    Quando órgãos internacionais fazem pesquisa sobre o ensino , o Brasil sempre leva uma surra, fica sempre na lanterna comparado a outros países . E nossos políticos dizem que o país está se desenvolvendo, vamos ser uma potência mundial (falam isso desde 1500). Dados de uma pesquisa feita pelo Banco mundial, sobre o sistema de ensino no mundo, que inclui países como, China, Índia, México, Rússia, entre outros. O sistema brasileiro apresentou os piores índices na área de educação, comparado a países emergentes . Eis os resultados: Taxa de analfabetismo: Brasil- 13%, China – 9%, México – 8%, Rússia – 0,5%, o Canadá foi o melhor – 0%. Média de anos na escola: Brasil – 5 anos, China – 6 anos, México – 7 anos, Rússia – 10 anos, os Estados Unidos foram os melhores – 12 anos. Repetência no ensino fundamental: Brasil – 21%, China – 0,3%, México – 5%, Rússia – 0,8%, a Coréia foi a melhor – 0,2%. Qualidade do ensino de matemática e de ciência (em uma escala de 1 a 7): Brasil – 2,9, China – 4,2, México – 3, Rússia – 5,1, o melhor foi Cingapura – 6,5. Segundo os pesquisadores o baixo crescimento do PIB brasileiro, está associado à baixa qualidade do ensino. Segundo a UNESCO o emprego do século XXI requer habilidades mentais, exige raciocínio rápido e capacidade de interpretação e esse atributo só são adquiridos com ensino de qualidade.

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