A constante espera pelo desenvolvimento do Sul Catarinense

*Por Giovane Ferreira Pereira

A Região Sul de Santa Catarina tem cerca de 15% da população estadual, o que deve representar cerca de 1.040.000 habitantes, segundo estimativas do IBGE para 2016, ficando entre as três maiores regiões populacionais do estado. Estamos, também, entre as três regiões com maior índice de crianças matriculadas nas escolas. Temos um bom IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, com a maioria dos municípios na faixa de intermediário para alto.
 
Giovane Ferreira Pereira
Agora quando se trata de PIB – Produto Interno Bruto, ficamos em penúltimo lugar no estado,a frente apenas da Serra Catarinense. Como esse dado oficial é 2009 e vendo a revolução que está em marcha na Serra, é bem possível que a Região Sul já esteja em último lugar nesse indicador.

Mas afinal, o que tem atrapalhado o desenvolvimento econômico do Sul do Estado?


Os anos de espera infindáveis. O Sul está sempre esperando que algo aconteça para impulsionar o seu desenvolvimento econômico social. 

Esperamos 10 anos para ter a BR-101 totalmente duplicada, causando prejuízos da ordem de R$ 684 milhões na economia do Sul. Não vamos considerar o Morro dos Cavalos que é problema da Região da Grande Florianópolis. E continuamos esperando a execução completa da Rodovia Interpraias e a pavimentação da Serra da Rocinha na BR-285, sem citar as diversas rodovias que atendem os municípios e que precisam de pavimentação ou revitalização. Temos na Rodovia SC-438 que liga Tubarão a Braço do Norte o título de rodovia com maior índice de acidentes do estado.

Quinze anos foi o tempo que o Aeroporto Regional Sul, levou para virar realidade, desde o estudo inicial que indicou a viabilidade do local de construção em Jaguaruna. Se considerar a ideia inicial de construção, em meados de 1985, foram 30 anos de espera.

Aeroporto de Jaguaruna (Foto: Gabriel Felipe/RBS TV)
Estamos desde meados da década de 90, cerca de 23 anos, quando foi esvaziada a indústria do carvão, esperando que o Porto de Imbituba se transforme num grande “hub port” (concentrador de cargas e linhas de navegação). Essa espera dependia da recuperação dos molhes e da dragagem para aumento da profundidade para 15 metros. Ambas levaram mais de 5 anos entre a necessidade e a finalização da execução. Nesse meio tempo o Porto de Itapoá foi inteiramente construído e está tomando o nosso lugar de “hub port”. Também não vamos falar do Porto Pesqueiro de Laguna, cuja fundação data de 1682 e o problema de entrada da barra é tema de debates desde 1880. Transformado em porto pesqueiro em 1969, atualmente é administrado por São Paulo, que logicamente não tem nenhum interesse no seu crescimento.

Eis que agora estamos mais uma vez na fila de espera do desenvolvimento, com a tão sonhada Ferrovia Litorânea, prevista para ligar os Portos de Imbituba, Itajaí, Navegantes e São Francisco do Sul, interligando definitivamente Ferrovia Tereza Cristina a malha ferroviária nacional. 

O primeiro incentivo à construção de ferrovias no Brasil se deu em 1828, quando o governo imperial promulgou a primeira carta de lei incentivando as estradas em geral. A ideia de construção da Ferrovia Litorânea, data também do tempo do Império, lá pelos idos de 1871 constando na Carta Itinerária, publicada pela Tipografia Nacional. Lá se vão 145 anos de espera.

Nos últimos 15 anos foram gastos cerca de R$ 17,7 milhões para realização do estudo de viabilidade e projeto executivo de engenharia. O maior desafio está justamente no chamado Lote 1 que vai de Imbituba até o Rio Tijucas, numa extensão de 125,7 km, 17 pontes, 14 viadutos, 25 passagens inferiores, 4 elevados e 12 túneis de 29,9 km, com custo total orçado em R$ 4,8 bilhões. 

Nos últimos anos, o DNIT tem tentando desatar o nó da passagem da ferrovia pela terra indígena do Morro dos Cavalos, último entrave para definição final do projeto executivo. Foram apresentadas 3 soluções: construção de um túnel de 3,6km com custo de R$ 230 milhões, contornar o Morro pela esquerda, sentido norte, com custo de R$ 602 milhões, aproveitamento do túnel rodoviário a ser construído com um custo extra de R$ 718 milhões. Nenhuma das três opções foi aprovada pela FUNAI – Fundação Nacional do Índio que sugeriu uma 4ª opção: um túnel de 69 km, fora da terra indígena, ao custo irrisório de R$ 16 bilhões.

Agora a VALEC, braço técnico do DNIT, apresentou aos 45 minutos do segundo tempo, uma proposta alternativa que pretende trazer a Ferrovia da Integração, partindo de Dionísio Cerqueira, atravessando todo o estado, com dois braços ligados aos Portos de Imbituba e Itajaí. Esse novo traçado, apelidado de “y” desceria na região de Urubici, eliminando o Lote 1 do projeto da Litorânea de Imbituba até Tijucas.

Clique aqui para ver os slides sobre a ferrovia
Os representantes políticos do Sul, que são poucos e com muita pouca expressão estadual e nacional, sabem de todo esse imbróglio e acompanham de perto. Entretanto, suas ações são basicamente de promoção de reuniões e audiências públicas, para debater o assunto, muitas vezes sem a presença dos demais interessados (Governo Federal, Valec, Dnit e Funai) o que acaba sendo frustrante para os presentes em função do pouco poder de solução.

Pois bem, resta ao Sul Catarinense esperar, mais uma vez, não se sabe por quanto tempo, pela decisão burocrática final de Brasília. Me parece até que já estamos acostumados com a espera. Enquanto isso, continuamos ocupando os últimos lugares em desenvolvimento econômico no estado.

*Giovane Ferreira Pereira é Consultor em Gestão Empresarial, especialista em associativismo, turismo e desenvolvimento econômico.

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