Por Malu Peters
O jornalista Gianluigi Nuzzi publicou os documentos que o ex-mordomo do Papa, Paolo Gabriele, furtou do escritório de Bento XVI. Em entrevista ao repórter do SZ, Julius Müller-Meiningen, Nuzzi relata sobre as relações na administração da Igreja Romana.
SZ: Sr. Nuzzi, como é o funcionamento interno da Cúria?
Nuzzi: Há diversos grupos com poderes e interesses diferentes que, em parte, lutam entre si, mas em outras, também se sobrepõem. Há uma enorme ambição carreirista, conspirações, negócios escusos e corrupção. Ultimamente, fala-se também sobre o lobby homossexual.
SZ: Isso deve ser mesmo levado a sério?
Nuzzi: Absolutamente. As relações homossexuais são no ambiente eclesiástico um elemento que pode promover a dependência e extorsão. Porém, a Cúria vê isso muito relativamente.
SZ: O que o senhor quer dizer?
Nuzzi: Paolo Gabriele, o ex-mordomo de Bento XVI, falou-me de um cardeal e disse que ele, o cardeal, teria "o vício". Eu perguntei o que ele queria dizer com isso. Paolo disse que o cardeal tinha interesse sexual em crianças. Soou como se este "vício" fosse generalizado na Cúria. Paolo falou em um tom como se isso, lá, fosse normal. Isso dá muito o que pensar.
SZ: Outra acusação é a de corrupção, mas nunca se ouviu falar de casos específicos.
Nuzzi: Sim, essas alegações são muito reais. É sobre empresas que, para ganharem licitações de obras e serviços do Vaticano, subornam funcionários da Igreja e funcionários públicos para eles “facilitarem” as tomadas de decisões em favor delas. A acusação foi feita por Dom Carlo Maria Viganó, secretário-geral do Governatorato, i. e., a administração do Estado do Vaticano. Viganò também citou nomes e sobrenomes.
SZ: Viganò foi “promovido” a núncio em Washington, pois ele é uma figura-chave do escândalo "Vatileaks". Como operam os grupos de pressão do Vaticano, que conseguiram a transferência dele para longe de Roma?
Nuzzi: Estas panelinhas são os grupos de poder e interesse na Cúria. Um dos mais fortes polos era o secretário de Estado, cardeal Tarcísio Bertone. Para ele, PODER nao é um meio, é um fim em si, seu único objetivo.
SZ: O papel de Bertone, que como secretário de Estado era o segundo homem do Vaticano e uma espécie de Chefe de Governo, também é bastante suspeito. Ratzinger o apoiou e defendeu repetidas vezes publicamente.
Nuzzi: Este é realmente um grande ponto de interrogação. Bertone atraiu para si críticas de todos os lados. Ele é o antagonista de vários cardeais, por exemplo, do Cardeal Angelo Sodano, cardeal-decano e do presidente da Conferência Episcopal Italiana, Angelo Bagnasco. Aí havia muita ciumeira e diferenças substancias.
SZ: Quem está por trás dos lobbies?
Nuzzi: Há um grupo, do Bertone; há um grupo de diplomatas, todos surgidos da escola de diplomatas do Vaticano, seu chefe é Sodano; há um grupo da “conexão Genova”, que incluem o Cardeal Mauro Piacenza, que é visto como o futuro secretário de Estado, e o bispo Ettore Balestrero, que foi "enviado" como núncio para a Colômbia.
Os grupos têm diferentes concepções de política, de doutrina católica, e eles competem entre si por influência. Até mesmo grupos como a Opus Dei, os Legionários de Cristo ou o movimento leigo Comunhão e Libertação são influentes.
SZ: Que tipo de ambiente você encontrou no Vaticano?
Nuzzi: Este é um mundo mudo, onde as pessoas têm um grande medo de falar. É uma atmosfera opressiva, tudo é controlado. As pessoas neste (mini) país vivem como sob uma grande redoma. Não há informações. Transparência é uma palavra desconhecida.
SZ: Por que não se muda isso?
Nuzzi: Eu já fiz inúmeras pesquisa investigativas, até mesmo em áreas da política e da máfia. Em nenhuma delas percebi tanto medo de se deixar a verdade vir à luz, como no Vaticano.
SZ: Que reações ocorreram após a publicação dos documentos secretos?
Nuzzi: Ninguém vai acreditar, mas eu recebi dezenas de cartas de sacerdotes, que me incentivaram em minha pesquisa. Outros acusaram-me de ataque contra a Igreja, mas isso era de se esperar.
SZ: O "Vatileaks" vai influenciar a eleição do novo Papa?
Nuzzi: Se eu, como um pobre pecador, pudesse expressar meu modesto desejo, diria: espero que nem o Papa nem o secretário de Estado do Vaticano sejam italianos. Os cardeais italianos estão atolados até o pescoço na lama.
E eu, Malu Peters, como ateia convicta que sou – mas que nem por isso ignorante das coisas religiosas! –, depois de ler centenas de reportagens sobre a renúncia do Papa, também gostaria de dar meu palpite – pessoal! – sobre o motivo porque ele tomou essa atitude. Eu diria: mesmo não gostando muito dele (ele era adversário ferrenho dos nossos amados Dom Helder Camara e Leonardo Boff), reconheço que era, e ainda é, um homem muito culto, muito instruído, muito inteligente, o teólogo mais reconhecido e respeitado dos últimos tempos - infelizmente, longe dos corações das massas de fiéis! -, respeitado, mas nao amado, acho que renunciou simplesmente porque não aguentava mais viver naquele “mundinho de lavadeiras fofoqueiras” que é o Vaticano. Não foi pra isso que ele estudou tanto. Preferiu, então, tirar o time de campo, antes que ficasse contaminado. Aquele não era o mundo dele; ele era um catedrático. Parabéns, Herr Ratzinger, pelo menos nisso o senhor tomou a decisão certa. Quanto a Dom Helder e a Leonardo Boff, por isso eu não o perdoo!
Na entrevista acima, qualquer semelhança com a política do Brasil é mera coincidência!
(
Na foto, o jornalista romano Nuzzi, em entrevista ao jornal Saarbrücker Zeitung, publicada em 11/03/2013 - link para a entrevista original)
A eleicao do Papa Gregório X (1271 - 1276) durou quase 3 anos. E só depois que o povo da cidade Viterbo, na Umbria, tirou o telhado do local onde estavam reunidos os cardeais, trancou-os "com chave" lá dentro e os deixou a pao e água é que "os galos de briga" chegaram a um acordo.
ResponderExcluirPor isso, o próprio Gregório X, decretou o CONCLAVE (cum clave), i. é, os cardeais ficam fechados a chave até decidirem-se.
Será que o estomago é mais forte que a consciencia desses homens? Bom... novidade nao seria.
Parece que, pelo andar da carruagem, hoje ainda, no mais tardar amanha, o cardeal de Milao Angelo Scola será eleito Papa.
O teuto-brasileiro Odilo Pedro Scherer "pisou na bola" ao defender o desacreditadíssimo - para muitos até mesmo suspeito - Banco do Vaticano.
Sabe-se que quando dois brigam, um terceiro sai ganhando. Aguardar pra ver.
Minha pergunta (preguica de pesquisar hehehe) ao Pena: a palavra CONCLAVE é aparentada com a palavra CONCHAVO? Se for, está tudo explicado.
Sabe aquele dicionário que recomendei? Pois é, esta é a definição para "conchavo": do latim conclavo, -are; pregar juntamente, não deixar sair.
ExcluirNa verdade, "conchavo" é o aportuguesamento da palavra latina "conclave".
Como eu disse, quando 2 brigam (no caso, disputam) um terceiro sai ganhando. Que surpresa para o mundo! Pelo que vi e ouvi hoje na tv, a disputa entre Scola e Scherer estava bem acirrada mas nenhum conseguia os 2/3 necessários. Daí os cardeais decidirem-se por um que estava na parada mas aparentemente quase sem chances.
ResponderExcluirFrancisco I pareceu muito gente, muito simpático, muito humilde na sua apresentacao.
Quem nao deve ter gostado muito foi a perua argentina que, por ser ele bastante conservador, disse-lhe que "o tom da Igreja a faz lembrar a Idade Média e a Inquisicao".
Minha avó comentaria assim: "olha o porco sujo falando do mal lavado". A senhora presidente, mais conhecida por suas unhas de domina do que por seu governo inteligente, é bem menos democrática e solidária do que o novo Papa. Se os argentinos nao ficarem de olho vivo, ela acaba declarando nova guerra à Inglaterra por causa de uma titiquinha de terra cheia de ingleses, só para desviar a atencao do seu péssimo governo.
Essa ladainha nós, mesmo os ateus, já conhecemos e acompanhamos.
É o tipo de presidente que sempre declara guerra, quando o governo está mal. Foi assim naquela travada com a Inglaterra.
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