Entrevista com o médico Guilherme Kist

Leitor, gosto de publicar no blog entrevistas sobre temas ligados diretamente a nossa cidade, embora eu saiba que leitores, de modo geral, não gostam muito deste tipo de publicação.
De qualquer forma, continuarei com as entrevistas no blog, e desta vez o entrevistado é o médico Guilherme Kist, que atende na Avenida Brasil, Paes Leme, próximo à Escola de Ensino Médio Engenheiro Annes Guarberto.

Há quanto tempo está trabalhando em Imbituba e por que escolheu esta cidade?

Trabalho em Imbituba desde 2001, mas passei a morar por aqui a partir de 2002, sou natural de Lajeado-RS, morando em Porto Alegre no período de formação acadêmica. Escolhi este lugar por uma questão de ideais de vida, confesso que não era, na época, minha melhor proposta profissional. Hoje em dia, posso dizer que foi a escolha certa.

Qual sua especialidade profissional?

Dentro da medicina, sou especialista em Otorrinolaringologia, especialidade que trata dos problemas de ouvidos, nariz e garganta.

Como está a oferta de médicos para essa especialidade?

Historicamente, a Otorrinolaringologia não forma tantos profissionais como outras especialidades como pediatria e ginecologia, por exemplo. Também não tem, estatisticamente, tantas pessoas necessitando deste tipo de atenção como estas últimas. No contexto de Imbituba, no qual estamos inseridos, vejo que dois profissionais (Dra. Rose e eu) podemos suprir as demandas do município sem grandes dificuldades.

Observo que boa parte dos médicos que atuam no Litoral Sul de Santa Catarina é oriunda do Rio Grande do Sul. É uma constatação equivocada ou existe algo aqui que não é encontrado no seu estado? É o excesso de profissionais existente por lá?

O Rio Grande do Sul é um dos grandes centros formadores do Brasil,  é natural que exporte mão de obra especializada. Pela proximidade, Santa Catarina, naturalmente, absorve parte destes profissionais. Juntando-se a isto a qualidade de vida e cidades em expansão, terás como resultado uma migração interna considerável.

O senhor atende ou já atendeu pelo SUS?

Sim, já atendi pacientes do SUS através de contratos esporádicos com as secretarias municipais de saúde de Imbituba e Laguna.

Observa-se carência de médicos para atender à população. As universidades federais formam milhares de profissionais na área de Medicina, anualmente. Não seria justo que essa mão de obra fosse obrigada a prestar serviços pelo SUS, por certo período, em compensação ao curso gratuito administrado pelo governo federal?

Observa-se carência em relação aos serviços prestados pelo SUS; a rede de atendimento não está dimensionada conforme as necessidades de demanda. Concordo que uma retribuição ao ensino prestado possa ser uma forma justa de compensar o Estado e a sociedade pelo investimento, isto porém altera o conceito de ensino gratuito. Se este conceito for alterado, nada mais justo de que ele se estenda a todos os cursos de graduação oferecidos. Seria bom para a sociedade?

Minha pergunta anterior é decorrente do Projeto de Lei que tramita na Câmara Federal, que obriga essa prestação de serviços de profissionais da saúde, de forma remunerada, no interior do país, onde há maior carência desses profissionais que prestam serviços ao SUS. Há vários outros projetos neste sentido, que foram apensados ao referido acima, havendo inclusive o que determina o serviço obrigatório e sem remuneração, pelo prazo de seis meses, em comunidades carentes.
Qual sua opinião sobre isso?

Vejo com um "show pirotécnico", é muito eficiente em nos desviar do real foco do problema. O nosso Sistema Único de Saúde é na verdade mais um Plano de Saúde e não uma estrutura na prestação deste serviço. Qual é o Hospital do SUS em nossa região? Não existe! Vejo um descontentamento nas populações carentes em relação à falta de estrutura para atendimentos, não somente ausência de médicos. O profissional é somente mais uma engrenagem do sistema. Um dos motivos que afasta os profissionais é isto, ser o responsável por atendimentos precários é muito desgastante. Eu conheço pessoalmente dois médicos da nossa cidade que foram trabalhar na região Centro-Oeste por melhores ofertas de emprego. Existem profissionais migrando para essa e outras regiões. Resolver o problema é cada vez mais complicado, cada ano que passa agrega mais necessidade em estrutura e pessoal. Está na Constituição Federal: "A saúde é um dever do ESTADO e um direito do cidadão". Ou se altera isto ou se faz o que deve ser feito! O custo político de realmente resolver é muito alto.

Tem conhecimento de quanta ganha um médico do SUS para atender por um período de 4 horas? É só o salário que afasta os médicos do SUS ou existem outros fatores?

Não tenho conhecimento de quanto ganha o médico do SUS. No meu ponto de vista, falta uma correta contratação do profissional. A grande maioria dos profissionais que presta este serviço não usufrui do vínculo adequado ao emprego público. São profissionais que não possuem plano de carreira e outras garantias inerentes ao serviço público. Estes, se forem bons profissionais, logo deixarão estes postos de trabalho. Se houvesse este tipo de contratação, certamente seria muito mais fácil levar o médico até comunidades mais afastadas, como acontece em outras carreiras de Estado, como polícia, bancos e Judiciário.

Nestes dez anos de exercício da profissão em Imbituba, embora atuando em área específica, qual a sua avaliação da saúde no município, de forma geral. O que está bom e o que precisa melhorar? Existem graves problemas a serem sanados?

Nestes dez anos vejo que a saúde no município evoluiu. Vieram novos profissionais que trouxeram novos serviços e tecnologias. Muitos tratamentos que eram feitos fora já podem ser realizados sem precisar sair da cidade. Este processo, no meu ponto de vista, tende a acelerar nos próximos anos. Isto no âmbito de saúde suplementar. Em relação à saúde pública, eu realmente estou desinformado a respeito da real situação.

Essa evolução na saúde, então, teria ocorrido em decorrência de investimentos privados e não públicos. É isso? E embora atue somente na área privada, o Sr. deve ouvir as reclamações e opiniões de seus pacientes sobre a saúde pública no município, não? Afinal, o paciente procura o médico particular porque ou não possui especialista no setor público ou porque não existe boa prestação do serviço público de saúde, concorda?

Claro que foram feitos investimentos públicos, mas como não transito neste setor, não sei te dizer em que ele evoluiu. Tenho exemplos de colegas, que, como eu, chegaram aqui por conta própria e não contaram com nenhum estímulo público direto para iniciar os trabalhos. No meu caso, os investimentos em estrutura física e material para atendimento clínico e cirúrgico específico foram todos efetuados com recursos próprios. As reclamações que ouço dos meus pacientes são aquelas relacionadas à falta de estrutura e pessoal na atenção aos problemas de saúde. Por não existir esta estrutura, os pacientes são conduzidos de um lado para outro, na tentativa de terem a atenção adequada.
Não concordo com esta visão simplista de que o paciente só procura o particular na falta de atendimento pelo SUS. Tenho pacientes que se deslocam de Florianópolis para serem atendidos aqui, e vem por indicação. Nesta linha de pensamento, se não houvesse atendimento público, seria muito mais cômodo e menos dispendioso procurar um dos quase cem otorrinos que trabalham por lá. Muitos dos meus pacientes sequer tentaram procurar este atendimento no SUS.

Na sua área específica, nos seus atendimentos nesta década trabalhando em Imbituba, alguma doença chamou sua atenção em razão do número de casos crescente?

Na minha especialidade, em todos os lugares, temos percebido que os casos de reações alérgicas têm ocupado uma proporção crescente no total de atendimentos. Possivelmente, isto esteja relacionado aos fatores ambientais e ao nosso modo de vida moderno.

Em uma rápida conversa com o Sr., questionei a respeito de possíveis poluentes atmosféricos em Imbituba, atingindo principalmente as regiões central e Paes Leme. Eu indagava acerca de produtos movimentados no Porto de Imbituba e o desmatamento no Loteamento Granja Henrique Lage, que com o quase permanente vento Nordeste, de intensidade bastante forte, leva para o ar grande quantidade de areia. Áreas degradadas e zonas portuárias tendem a elevar os problemas alérgicos e outras doenças respiratórias na população residente próxima a elas?

Ambientes ou lugares com alta concentração de partículas em suspensão no ar serão sempre muito propícios para o surgimento de reações alérgicas. Se estas partículas forem compostas de produtos químicos, piora a situação. Não sei exatamente com qual tipo de produtos que o porto lida, mas pela posição geográfica que ele se encontra em relação à cidade, certamente causarão algum grau de prejuízo à saúde respiratória da população, no caso de um manuseio inadequado. A combinação de ventos predominantes do quadrante norte e a ausência de uma barreira natural de proteção entre o porto e a cidade, exigem um cuidado maior neste tipo de atividade. Historicamente, problemas respiratórios têm maior vulto em regiões com estes tipos de características.

Dentro de sua área específica de atuação profissional, observa muitos casos de câncer que represente um número elevado para a população imbitubense ou está dentro de estatísticas apresentadas por órgãos de saúde pública?

Os casos de câncer coincidem com as estatísticas gerais, e posso afirmar que cem por cento dos diagnósticos que eu fiz nesta cidade têm relação direta com tabagismo pesado.

Muitas pessoas reclamam de acordarem cansadas pela manhã, mesmo dizendo que dormiram durante toda a noite. Quais problemas de saúde podem provocar essa fadiga e que podem ser solucionados com a visita ao otorrinolaringologista?

Dentro da minha área de atuação, estes tipos de queixas estão relacionados à má respiração. Pacientes que sofrem de pequenas apneias durante o sono (pequenas paradas na respiração), têm uma interrupção do sono profundo, prejudicando o descanso. Tais eventos, comumente, podem chegar a ocorrer uma centena de vezes durante uma noite de sono, e a sensação é a de não ter dormido. A maioria destes casos tem melhora significativa com tratamentos voltados à respiração.

Quais as recomendações médicas para a boa saúde dos órgãos afetos à especialidade do otorrino? Existe uma periodicidade recomendada para consulta preventiva?

Cuidados ambientais são os mais eficientes. Ambientes úmidos e/ou empoeirados são muito prejudiciais. Evitar uso de produtos químicos de limpeza que sejam muito fortes e também cosméticos e perfumarias em excesso. Não existe uma periodicidade preconizada para a visita ao Otorrino, sempre que a pessoa perceber alguma alteração ou dificuldade nesta área, deverá procurar um serviço de saúde na busca de orientação adequada.

Suas considerações finais.

Espero que estas colocações possam, de alguma forma, ser úteis para as pessoas. Se não responderem diretamente a dúvidas existentes, que sirvam de estímulo à reflexão acerca de um novo ponto de vista. Obrigado pela oportunidade e estarei à disposição sempre que achar pertinente.

4 comentários:

  1. Uma ótima entrevista. Deve ser difícil mesmo trabalhar num local onde não contamos com os equipamentos necessários.

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  2. Este link também tem relação com a entrevista.https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10201189426556799&set=a.2618048409525.151331.1204585845&type=1&theater

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  3. ADOREI ESS ENTREVISTA,OTIMA PARA O MEU TRABALHO DE REDAÇAO SOBRE A PROFISSÃO,É PARA FAZER A ENTREVISTA E FALA SOBRE OQ VOU QUERER SER JA TO NO 8º ANO"!!!!! TENHO 11 ANOS"!!!!KKK' SEM ZUEIRA""!!!!

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