As eleições e o rancor nas redes sociais

Nas últimas eleições municipais, em 2008, não havia ainda tantos indivíduos interligados às redes sociais. As campanhas, as discussões, as manifestações e os debates se limitavam, de forma mais abrangente, aos jornais e rádios de Imbituba.
Naquela época, apenas se ouvia falar do Orkut, mas essa rede ainda não havia recebido o interesse dos candidatos e eleitores para falar e divulgar as eleições.

Com maior facilidade de acesso à internet e a popularização do Twitter e Facebook, as redes sociais tiveram grande impacto nas eleições de 2010.
Muito embora a participação na política tenha crescido consideravelmente, em decorrência dessas redes, observo que a grande maioria dos internautas interligados ainda não se manifestam politicamente. Isso decorre de vários fatores (econômicos, sociais, culturais etc), os quais deixarei de comentar, pois não são objeto deste artigo. Contudo, é bom lembrar que esse silêncio dos internautas não faz deles melhores eleitores, muito menos se elege melhores candidatos. Mas todos serão governados pelos eleitos.

Neste período eleitoral, as redes sociais serão usadas massivamente para divulgar propaganda política. Ninguém tem dúvida disso.
Estimo que cerca de 2.500 a 3.000 eleitores imbitubenses possuem perfis nas redes sociais. Logo, é um grande núcleo eleitoral que pode ser atingido pelos candidatos, sem gastar um centavo.
E são os próprios filiados ou simpatizantes que produzem ou compartilham as propagandas, quer com imagens, vídeos ou textos.

Não é o melhor projeto que ganha a eleição. Isso é utopia. Ou sofisma. A campanha política é baseada na propaganda. Mesmo que o candidato seja ruim, serão mostradas e evidenciadas as poucas qualidades que ele possui. Se havia 100 pessoas num evento promovido por ele, dirão que havia 200. Seus opositores, por conseguinte, divulgarão a contrapropaganda.
Acredito que não há nenhum outro segmento que use tanto a propaganda para alcançar seus objetivos como o político, porque ela influi decisivamente nos resultados eleitorais. O problema é que nem sempre esse instrumento é usado de forma legal ou moral.

O que tenho visto nas redes sociais é que a cada dia aumentam as agressões verbais entre seus usuários, tudo por conta de tais propagandas. E essas agressões partem de pessoas que condenam o bullying, as brigas de torcidas, os crimes contra a honra, enfim, a violência de um modo geral.
E se encontram dentre elas algumas com fortes vínculos religiosos, ou com bom nível econômico, social, ou de escolaridade.
É como se houvesse uma transformação do espírito no momento em que se conectam às redes. Parecem acreditar que no outro lado há somente indivíduos iguais a eles. Indivíduos sem escrúpulos.  

Em uma discussão acalorada nesta semana, quando alguns deles mostraram fotos comparativas entre as convenções do PSD e PSDB, houve ataques pessoais desnecessários e injuriosos.
Um perguntou há quanto tempo o outro estava "mamando" na prefeitura. Um terceiro chamou os funcionários públicos de "servidores 'na marra' públicos". E alguns se manifestaram de forma a provocar outros mais. Quem tenta amenizar a discussão, ou é ignorado ou sofre alguma agressão verbal.

O que é de se estranhar nessa animosidade, leitor, é que a maioria se conhece no mundo real, onde não demonstram tanta rivalidade entre si. Evidencia-se no mundo virtual, sem qualquer preocupação, um rancor que extrapola qualquer tentativa de compreensão. Frases são proferidas com o único objetivo mesmo de atingir o outro indivíduo, de lhe magoar, de lhe ferir. Li frases que tangenciavam crimes de preconceito. Pessoas que se postam como verdadeiros carrascos a impingir penas a crimes que sequer há indícios que tenham ocorrido, mas que já sentenciaram como se juízes fossem.

Esses algozes nas redes sociais, e que muitas vezes escondem-se atrás de fakes, dilaceram a paz e a honra de pessoas de caráter, de cidadãos que estão ali expressando sua opinião, dentro da legalidade, pois é um direito que eles têm. Esses verdugos agem sem piedade e sem pudor contra cidadãos que constam em suas redes sociais como "amigos". Que "amigos" são estes que se pode pisar neles e agredi-los moralmente?
Um outro diz que vai realizar "uma limpeza" em sua rede de contatos, como se dissesse que iria eliminar o lixo de sua lista de amizades. 

Falando em fakes, desde o dia em que publiquei o artigo Como saber se seu "amigo" não é um fake?, vários já foram excluídos pelo próprio Facebook, a partir de denúncias de alguns usuários dessa rede. Ainda há vários por lá, criados especialmente para agredir candidatos ou pessoas que participam do processo eleitoral. E o que é pior. Centenas de usuários que aceitam esses fakes como amigos ou permitem que eles comentem em suas páginas. Repito o que eu falei no Facebook e no Twitter: tem pessoas se especializando em comentar em perfis fakes. Eu diria até que são comentaristas oficiais em fakes. Onde há um fake eles estão comentando ou curtindo. É de se desconfiar que eles estejam participando da criação deles.

Mas dentre todos os fakes que eu identfiquei, o que mais me deixou revoltado é o que usa o nome falso Gustavo Tavares da Silva e expõe como sua identificação a fotografia de Anders Behring Breivik, o terrorista norueguês que matou dezenas de pessoas na Noruega, em julho de 2011. Para mim, um indivíduo que cria um perfil falso numa rede social e põe o rosto de um terrorista para se identificar não é um indivíduo psicologicamente são. O que me assusta mais é que pessoas que me viram denunciando no Facebook esse indivíduo ainda o mantêm em sua relação de "amigos", trocando mensagens e compartilhando seus comentários. E são pessoas de bem... que dizem ser de bem.
Nesta semana, além de denunciar este fake ao Facebook, ainda encaminhei a informação para a Polícia Federal. Se farão alguma coisa, não sei, mas a minha parte eu fiz.

Outros perfis que se suspeita serem falsos:

-Fábio Destri Acosta
-João Paulo Franceschi

Penso que os diversos interesses pessoais - justos ou não, éticos ou não - entorno de uma campanha eleitoral não devem sair da órbita da moral. Se exigimos eleições limpas, ficha limpa, candidatos com responsabilidade social que tratem a coisa pública como exige a legislação, não podemos nós, eleitores, nos perdermos e nos deixarmos levar pela paixão partidária ou devoção por algum candidato, de modo a ignorar os direitos mais básicos da dignidade humana.
Comentar fatos políticos, fazer piada ou opinar a respeito de situações que envolvem o processo eleitoral não está fora de nossos direitos. A vida privada das pessoas e sua honra, porém, não podem ser atacadas em decorrência da extrapolação desses direitos e de interesses mesquinhos.

É sempre bom lembrar, aos que sofrem de amnésia temporária, que bem sabemos que os políticos inimigos de ontem são amigos hoje, e poderão ser inimigos amanhã, novamente.
E cuidado com quem você agride injustamente. O mundo dá muitas voltas.
E em tempo de redes sociais, está cada vez mais difícil ter um amigo real.

4 comentários:

  1. "Os políticos inimigos de ontem são amigos hoje, e poderão ser inimigos amanhã, novamente."

    Essa tua frase acima que está no último parágrafo diz tudo. Tudo isso é pela quantidade de partidos... que chega a ser ridículo. O correto para uma democracia, seriam 3 (três) partidos políticos, e não permitir coligações, aí sim poderíamos escolher um dos três pelas propostas, pela competência e pelo caráter.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tadeu, não é a quantidade de partidos que leva a isso. Veja que nos EUA deve haver mais partidos que no Brasil, embora haja uma polaridade entre democratas e republicanos.
      Na Alemanha também há vários e a democracia e os serviços públicos nem se comparam com os nossos.

      Excluir
  2. Sérgio, mais a lambança lá é grande, eu contei 77 partidos...observe o que os Estados Unidos fazem para não permitir que o povo escolha sozinho seu representante:

    O sistema democrático dos EUA divide a eleição em duas partes, uma direta e outra indireta, e possui entraves burocráticos que permitem o controle do resultado final das eleições pelo processo de voto indireto, por meio do chamado Colégio Eleitoral. Este órgão foi criado logo após a independência para evitar que a escolha do presidente ficasse à mercê do voto popular direto, garantindo o controle do poder pela elite política do país. Como as eleições diretas têm de acontecer para manter esta "democracia", elas ocorrem, mas o Colégio Eleitoral é quem dá a última palavra. Lembras do Brasil em um passado não muito distante. Na Alemanha eu contei 11.

    ResponderExcluir
  3. Na Alemanha tem um controle interessante que deveria ser adotado aqui, para evitar essa multiplicação de partidos. Chama-se cláusula de barreira. O partido só poderia manter alguma vaga no Parlamento se obtivesse pelo menos 5% dos votos válidos. Não conseguindo esse percentual, os candidatos eleitos por ele perderiam o direito às vagas.

    ResponderExcluir

Seu comentário não será exibido imediatamente.

Para você enviar um comentário é necessário ter uma conta do Google.
Ex.: escreva seu comentário, escolha "Conta do Google" e clique em "postar comentário".

Caso você deseje saber se seu comentário foi respondido ou se outros leitores fizeram comentários no mesmo artigo, você poderá receber notificação por email. Para tanto, você deverá estar logado em sua conta e clicar em Inscrever-se por email, logo abaixo da caixa de comentários.

Eu me reservo ao direito de não aceitar ou de excluir parte de comentários que sejam ofensivos, discriminatórios ou cujos teores sejam suspeitos de não apresentar veracidade, ainda que o autor se identifique.

Comentários que não tenham qualquer relação com a postagem não serão publicados.

O comentarista não poderá deletar seu comentário publicado sem que haja justificativa relevante. Caso proceda assim, republicarei o teor deletado.


As regras para comentar neste blog poderão ser alteradas a critério do editor, o qual também poderá deletar qualquer comentário publicado, mediante justificativa relevante, sem prévio comunicado aos leitores/comentaristas.

Você assumirá a responsabilidade pelo teor de seu comentário.
Este espaço é livre e democrático, mas exerça sua liberdade com responsabilidade e bom senso!

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Copyright © 2012 Pena Digital.