A obesidade infantil: uma base sólida para um adulto doente

Por Clarice Pires Pacheco*

O excesso de peso é sempre uma questão de saúde!
As estatísticas são assustadoras neste aspecto, uma vez que cerca de 80% das crianças e adolescentes obesos se tornam adultos obesos. A obesidade na infância pode causar elevação dos níveis de gordura (colesterol e triglicerídeos) e de açúcar no sangue (glicose), predispondo a um risco maior de Diabetes tipo 2 (ou adquirido) , aumento da pressão arterial, dores nas pernas, maior risco de fraturas ósseas, problemas de relacionamento social e até depressão.

Se antigamente era bonito se ter um filho “cheinho”, uma vez que rezava a convenção social de que isso, positivamente, significava estar a criança bem alimentada e gozando de boa saúde, atualmente, bem longe disso, o mundo tem presenciado uma epidemia de obesidade que tragicamente tem levado a doenças crônicas como hipertensão arterial, diabete e infarto agudo do miocárdio, este atingindo cada vez mais precocemente a raça humana.

Entretanto ainda é comum os pais pensarem que o excesso de peso da criança decorra de algum problema hormonal como o hipotireoidismo. Apesar de possível, essa é uma situação rara, visto a pesquisa precoce desta doença através do “teste do pezinho” realizado nos primeiros dias de vida de um recém nascido.

Entendendo a obesidade: As células de gordura, também chamadas de adipócitos, são as responsáveis pelo armazenamento de gordura no corpo humano; quando o limite de armazenamento de uma célula adiposa é ultrapassado, naturalmente o organismo cria uma nova célula adiposa que realize o mesmo trabalho.O aumento exagerado do número de adipócitos pelo alto consumo de gordura pode contribuir significativamente para a manifestação da obesidade infantil em três períodos específicos. O primeiro período acontece ainda na gestação, principalmente nos últimos três meses, quando os alimentos ingeridos pela mãe influenciam na formação da composição corporal da criança. O segundo período está situado por volta do primeiro ano de vida, quando ocorre a introdução de alimentos sólidos, geralmente com grande valor calórico e pouco nutritivos como doces, refrigerantes, chocolates, salgadinhos entre outros. O terceiro período crítico é por volta dos seis ou sete anos de idade quando a criança inicia sua vida escolar, faz amizades novas, compartilha lanches e passa a adquirir novos hábitos alimentares.

Embora a predisposição genética seja um fator de risco irreversível, são relativamente poucos os casos de obesidade oriundos apenas da hereditariedade. A grande maioria das ocorrências de excesso de peso tem origem comportamental, sendo o estilo de vida um componente importante em sua gênese. A sua manifestação só acontecerá então, se o ambiente em que a criança vive contribuir para tal, ou seja, se a dieta que receber for inadequada , houver pouca atividade física ( pelo fato de passar horas sentada em frente ao computador ou TV) e se houver ainda, a presença de situações capazes de influenciar o seu equilíbrio psicológico. Estes fatores citados são responsáveis por aproximadamente 98% dos casos de obesidade na infância e na adolescência.

Assustadoramente, nesses tempos modernos e de profundo ócio infantil e juvenil, dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), mostram que cerca de 60% das crianças e adolescentes brasileiros tem menos de 3 horas de atividade física por semana.

Dentre os erros alimentares mais comuns e que podem levar ao excesso de peso podemos citar: pular refeições, em especial o café da manhã; substituição das frutas por alimentos calóricos (doces, biscoitos recheados e salgadinhos) nos lanches e sobremesas; o hábito de não comer verduras e legumes; o excesso de massas e frituras nas refeições principais ou a substituição de uma alimentação regrada por refeições de fast foods.

Uma vez que uma criança sozinha não é capaz de transformar sua rotina diária, torna-se imprescindível que haja interferência dos pais para que esse processo de ociosidade seja quebrado e que haja estímulo para a prática de atividades físicas prazerosas e de uma alimentação saudável. É na infância que os hábitos são solidificados e onde os filhos se espelham em seus pais como exemplos fundamentais de vida.

Se nessa busca de mudanças, os filhos puderem contar com pais fisicamente ativos, certamente não haverá muita resistência para a prática de exercícios esportivos adequados.

A criança repete o que escuta e o que vê... A criança é o que vive!!
Ser multiplicador de saúde é uma tarefa para pais responsáveis e amorosos.
É importante lembrar neste contexto que tanto o crescimento físico como o mental de uma criança passam obrigatoriamente pela colocação de limites e de um “não” categórico, ligado a um ensinamento amoroso e determinado pela responsabilidade de criar e educar um ser humano sadio íntegro e responsável por si mesmo e pelo mundo que o cerca.

(*Médica pediatra e dermatologista infantil, auditora médica da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina , professora da Faculdade D. Bosco e mestra em saúde pública pela Universidade de São Paulo-USP)

Um comentário:

  1. Já ouviram falar no filme O Peso da Nação ?
    Este documentário da HBO é uma denúncia forte sobre como a indústria dos alimentos iniciou a epidemia de obesidade entre as classes mais pobres nos Estados Unidos e que depois se espalhou por outras classes sociais. Mostra como ela baixa propositalmente os preços dos alimentos mais calóricos (e prejudiciais) nos supermercados das regiões menos favorecidas (fast-food). O link está aqui no meu blog http://emagrecercomsaudeefacil.blogspot.com.br/2012/09/o-peso-de-uma-nacao-conforme-prometido.html

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