"O amor é lindo!"

Leitor, há alguns dias, um indivíduo disse-me que as pessoas criminosas já nascem criminosas e nunca mudarão.

Os produtores de novelas dizem que eles apenas mostram a realidade em seus trabalhos, pois a novela não faz aumentar a criminalidade ou causam desestruturação familiar. Ou seja, as novelas não influenciam no comportamento da sociedade? A vida não imita a arte?
Discordo das duas teorias.

Estou assistindo no canal Viva a novela Roque Santeiro, que foi censurada em 1975 e foi ao ar somente 10 anos depois.
Com grandes atores como Lima Duarte, Eloísa Mafalda, Regina Duarte, Paulo Gracindo, José Wilker, Armando Bógus e Ary Fontoura, a novela retratava bem - e ainda retrata - a realidade brasileira, com a exploração de mão-de-obra, a corrupção, o coronelismo, o abuso do poder econômico e o poder da religião. E bem por isso foi censurada.

Hoje, nada mais se pode censurar. Poderíamos estar felizes com isso, se as novelas e as programações na TV aberta levassem o espectador a participar mais da vida política, a ter voz ativa, a criticar ações governamentais nefastas, a censurar os políticos, a ser um cidadão!
Há alguns anos que deixei de assistir aos canais da TV aberta. Raramente faço isso.
Não que a TV paga seja perfeita, mas é possível mais controle e se pode escolher a programação.

É lamentável que os brasileiros tenham de assistir, em família, o grande apelo sexual que há em qualquer programa televisivo gratuito, como se todas as cenas fossem comuns em nosso cotidiano, em todas as faixas etárias. Como se não houvesse mais nada a mostrar aos telespectadores; como se fosse somente isso que dá audiência. E o pior é que não duvido disso.
Sem falar daqueles programas que exploram a desgraça alheia. E me pergunto: era para isso que se queria o fim da censura?

O que adianta aquelas mensagens no início da programação recomendando a idade mínima para os telespectadores? Como se todos os lares do Brasil tivessem mais de um televisor, para que as crianças pudessem assistir à outra programação, enquanto seus irmãos mais velhos ou os próprios pais assistissem àquela que para eles são permitidas. E como se houvesse, para os mais novos, outra programação adequada, no mesmo horário! E como se sempre houvesse algum adulto dentro de casa para controlar isso.
Logo, a solução não é, como muitos dizem, apenas mudar o canal ou desligar a TV, se é essa a única diversão de milhões de brasileiros, porque assim foram educados - ou adestrados.

E a apelação é cada vez maior, como se pode ver no programa BBB, assistido por crianças, jovens e adultos.
A direção do programa escolhe a dedo quem vai participar, enquanto milhares de tolos produzem vídeos pessoais ridículos e bizarros, na ilusão de serem escolhidos.
Desde a primeira aparição, os participantes são tratados como "heróis" brasileiros.
Com o BBB, ensina-se que devemos fazer o que for necessário para ficarmos ricos. Que as festas devem ser inebriantes e sem limites. Que as pessoas são descartáveis.
O programa transmite emoções fúteis, como se as dificuldades vividas pelos participantes são tão dolorosas quanto as nossas, diariamente.

O circo montado para atrair a atenção dos brasileiros permite tudo. Inclusive estupro, como o que teria ocorrido no fim de semana.
Eu não gostaria de discutir se os participantes pré-aprovaram qualquer atitude entre si. O que merece discussão é o que isso pode gerar nas pessoas que assistiram às cenas. Quais consequências terão nas cabeças de crianças e adolescentes? Justamente quando Pedro Bial, tentando minimizar o caso, disse que "O amor lindo!"

E enquanto se discute, de forma tímida, se a TV brasileira provoca ou contribui para o aumento da criminalidade, para o desvirtuamento dos valores que forjam os melhores cidadãos, continua-se a produzir diariamente programações que em nada contribuem para o desenvolvimento intelectual e cultural dos brasileiros. Puro lixo!

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