Se na física os opostos se atraem, na política imbitubense os iguais se repelem

Na semana passada, recebi um email de Arrison Richelly Berkenbrock, professor de Filosofia e ex-colunista deste blog, o qual pretendia postar um comentário no artigo Resultado da enquete sobre pré-candidatos a prefeito. Diante da extensa manifestação e verificando que o conteúdo deveria ter maior destaque, para uma melhor avaliação dos leitores, decidi fazer do comentário um artigo. Faltava o título para apresentá-lo. Primeiramente, Arrison sugeriu "As duas faces da mesma moeda". Momentos depois, solicitou que fosse substituído por esse aí acima.

Depois de eu ler tudo com muita atenção a opinião de Arrison, considerei este artigo como um dos melhores já publicados aqui no blog. Isso porque as argumentações trazidas pelo autor transitam não só pela seara política, como também passam pelos aspectos sociais e macroeconômicos, impulsionando o leitor - contrário ou a favor de seus argumentos - a formar sua própria opinião crtítica sobre o que lhe é apresentado. Portanto, boa leitura!

Imbituba já respira a plenos pulmões os ares do pleito eleitoral de 2012. É claro que é demasiadamente cedo para levantar tendências e eventuais resultados, sobretudo quando discorremos sobre assuntos político-partidários, tão volúveis quanto os interesses dos indivíduos. Por ora, deixemos o exercício da futurologia aos demagogos e charlatões e nos preocupemos com o presente. Afinal, este já nos toma bastante tempo.

As mudanças recentemente ocorridas no bloco do poder que governa Imbituba apontam para uma nova configuração política ainda não bem delineada, mas que já carrega traços “definitivos”. A expressão “ainda não bem delineada” fica por conta do PMDB (a menina dos olhos). As instabilidades peemedebistas são tão frequentes que os seus insondáveis caminhos desafiam até a onisciência divina. Em que pesem a adesão e “fidelidade” ao atual governo, muitos peemedebistas (e somente eles) desejam e alvitram a possibilidade de candidatura própria. O nome do ex-prefeito de Imbituba, Osny Souza Filho, vem sendo ressuscitado, digo, cogitado como candidato à chefia do executivo municipal, na mais incisiva prova de que os Lázaros não se restringem ao universo bíblico.

Alerta no ninho tucano! Não bastasse a apatia e a falta de entusiasmo com a candidatura de Jaison, o domínio peessedebista também está ameaçado pelos sobressaltos e as veleidades da menina dos olhos. “Eita menina difícil de domar”.

Os traços definitivos ficam por conta da visível ruptura entre o PSDB e o neófito PSD, do “casamento Beto-Léa”. Tal antagonismo não deve ser analisado do ponto de vista ideológico, mas apenas como uma busca de permanência no poder. O que separa os referidos grupos políticos, de fato, não são projetos governamentais distintos. Até porque não há projetos globais de governo, somente projetos de poder. Não há discussões de ideias e projetos políticos. O que se verifica é a velha política clientelista se arrastando por gerações, sobrepujando os nobres anseios de uma política que objetiva o debate democrático de ideias e projetos societários.

Imbituba precisa ser planejada de forma global. Há uma série de deficiências estruturais e institucionais que precisam ser estudadas, debatidas e removidas. Contudo, tal planejamento só se justifica mediante a participação popular. O grande mérito da democracia não consiste somente nos valores que orientam as decisões políticas. O planejamento democrático é desejável, também, porque é capaz de levar a boas discussões e decisões.

O atual modelo de desenvolvimento de Imbituba, construído em comum acordo entre os partidos que hoje se encontram em campos políticos diametralmente opostos, não pode ser compreendido como um planejamento global e tampouco descentralizado. Não se trata de um planejamento global porque as ações governamentais não são pensadas em conjunto e em longo prazo. Aqui, primeiro surgem os problemas e, depois, de maneira deficiente e paliativa, a intervenção. As secretarias trabalham de forma isolada e os poucos projetos que desenvolvem possuem um alcance mínimo, irrisório. Não vejo ousadia, projeto multidisciplinar e de grande impacto. Os “planejamentos” são feitos de cima para baixo. Não há participação popular. Os governantes imbitubenses propalam a existência de um planejamento democrático e descentralizado. Ou seja, utiliza-se do discurso ideológico para impingir na sociedade imbitubense a ideia de que o modelo de desenvolvimento por ela pensado e conduzido resultou num projeto de sociedade mais participativo, possibilitando uma maior distribuição de renda e maiores oportunidades econômicas e sociais.

Na verdade, tal modelo inexiste. A concentração das decisões, marca fundamental deste modelo, tem levado à concentração de renda. Renda per capita, nobre prefeito, não é sinônimo de distribuição equânime de bens e serviços. A economia imbitubense vem sendo “pensada” pelo seu governo e financiada pela sociedade, num evidente processo de apropriação privada dos lucros e de socialização das perdas. O modelo de desenvolvimento orquestrado pelo atual governo e referendado pelo PSD reza pela acumulação e não pulverização do capital.

Enquanto não houver mecanismos de democracia direta, canais que possam, efetivamente, levar a população a discutir e decidir as questões políticas, Imbituba será uma terra de poucos, marcada por profundas desigualdades econômicas e sociais, e lideradas por oligarquias que, no comando do aparelho governamental, perpetuarão o triunfo das nulidades. Não se trata de defender mais ou menos Estado, mas de trazer à baila o verdadeiro sentido da política: o bem comum. Algo olvidado, tanto pelo PSDB, quanto pelo PSD.

2 comentários:

  1. Este texto tem que ser lido por todos, Pena. Muito bem escrito realmente. Claro e coerente. Uma boa aula de política!
    Gostei
    Gisele

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Se você gostou deste, ouça este: http://www.blogpenadigital.com/2011/09/professor-arrison-e-seu-discurso-na.html

      Excluir

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