Fanáticos e fracos

Por Anselmo Heidrich

Look in my eyes, what do you see?
The cult of personality
I know your anger, I know your dreams
I've been everything you want to be
I'm the cult of personality
Like Mussolini and Kennedy
I'm the cult of personality...
Like Joseph Stalin and Gandhi

I'm the cult of personality

The cult of personality, Living Colour (canção)

Anselmo Heidrich
O problema em se cultuar alguém ou algo é a crença em sua infalibilidade. Pior, mesmo que acidentes de percurso ocorram se fará de tudo para desviar atenção ou foco dos problemas para não admitir nenhum erro de seu objeto de culto. O fã político ou fanático é, por excelência, pior, muito pior do que seu ídolo que, muitas vezes, é alguém politicamente pragmático utilizando todas suas armas para se eleger ou reeleger. Tivemos exemplo recente nesta Greve dos Caminhoneiros… Candidatos ao cargo máximo do País, à presidência da república, que deveriam dar exemplo de ponderação e calma nas palavras proferidas, preferiram pôr gasolina na fogueira, já que esta faltou nos postos de combustível.

Sim, eu estou me referindo a Jair Bolsonaro, a quem já demonstrei apoio, mas que nesse caso se revelou despreparado e sujeito à influência e calor do momento querendo e propondo pressionar este governo federal para ceder aos anseios dos grevistas sem nem sequer se perguntar se:

O movimento grevista tinha propostas coerentes e sustentáveis?
Havia um compromisso das partes em acatar soluções mediadoras, ainda que incompletas?
Não havia manipulação com fins eleitoreiros ou políticos por detrás dessa greve?
O que eu também não entendi foi o papel de dois economistas ligados ao candidato, Paulo Guedes e Adolfo Saschida, que nada fizeram ou se fez, foram inócuos para influenciar o candidato a uma postura mais razoável. Sinceramente, se são liberais deveriam explicar, minimamente, o que ocorria no setor de transportes, na produção e distribuição de derivados de petróleo e nas distorções de mercado provocadas pelo PT, para saber se havia como proceder diferente. O problema que ele, assim como muitos acreditam, ingenuamente, que a conta da corrupção, por maior que seja, seria suficiente para compensar o déficit no setor com mais subsídios, caso estes valores fossem ressarcidos ou a torneira dos desvios fosse fechada. Não, não era suficiente, não é e nunca foi, por mais danosa que seja essa anomia social. Assim como os gastos públicos indevidos, imorais, mas infelizmente legais que oneram nosso erário com a conta da previdência social que se torna cada vez mais insolvente. Tudo isto teria que ser explicado ao candidato, didaticamente, em uma hora ou mais antes dele sair dizendo besteira em um vídeo de What’sApp. Mas não, rápido para julgar, devagar para entender como um aldeão participando de uma caça às bruxas, o mito arrebanha seguidores tão desprovidos de raciocínio e lógica quanto ele próprio.

Agora pense no seguinte: em outubro essa peça é eleita e no ano seguinte, a máquina pública brasileira cada vez mais insustentável não consegue honrar seus compromissos e o mito se liquefaz tendo que enfrentar mais greves e movimentos pleiteando Intervenção Militar! O que faz esse figura? Vídeos pedindo calma e compreensão para depois outros prometendo combater os agitadores, para depois outros acusando os movimentos de terem infiltrados, para depois acusando os próprios movimentos, para depois propor uma repressão geral por absoluta inépcia desde o princípio. Agora, vem o pior, o que farão seus fãs-fanáticos? Negarão, negarão e enrolarão dizendo que tudo é culpa da mídia, da Globo, de George Soros, da conspiração, dos poderosos globalistas aliados com a Esquerda Mundial, a ONU e toda sorte de bobagens que já vem sendo destilada por essa direita burra e acéfala que se esforça por superar sua contraparte de Esquerda que já ganhou vários prêmios na capacidade propor o atraso. 

Só te digo uma coisa bolsominion, não diga que eu não te avisei. Essa postura arrogante, imediatista, burra e fanática de vocês poderá trazer o caos, sim. E aí, com apoio do General Mourão e a possível oposição do sensato Comandante Geral das Forças Armadas, o General Villas Bôas, podemos ter o nosso maior pesadelo: o Exército dividido. Nestas horas, eu que sou um velho ateu só posso rezar para que eles permaneçam unidos e ponham este afobado nos trilhos, como fez Mourão ao comentar a desordem que tomava conta do País. Menos mal…
Se Bolsonaro não ouve seus economistas — ou esta dupla não serviu pra nada –, pelo menos se arrepiou com as palavras do General e fez um outro vídeo apaziguador, pedindo calma aos caminhoneiros, que não destruíssem o País, apesar deles terem razão(!).

Esse fanatismo, essa adoração, essa falta de senso auto-crítico esconde o quê? Uma fraqueza, um horror à política que, por pior que seja, ainda é o caminho, único possível para resolvermos nossos problemas comuns. Esta ânsia de que um xerife todo poderoso venha resolver rapidamente os problemas, com requintes de truculência, para regozijo da patuleia, tem tudo a ver com quem não tem a paciência do leitor, mas de quem espera uma pílula para dormir e acordar bem no dia seguinte com todos os seus problemas resolvidos. Só que neste caso vai acordar em um pesadelo quando discursos, lágrimas e louvores ao Hino Nacional não bastarem para encher pratos.

Difícil, né? Está achando isso agora? Veremos como ficará depois… Eu só lamento muito que o voto impresso não tenha sido aprovado. Pois se Bolsonaro perder as eleições, seremos obrigados a ouvir ad eternum que houve fraude e até nisto a Nova Direita Brasileira fará páreo à nossa Esquerda Paleolítica que travou o disco no discurso do “golpe”. Haja…

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