Os números do suicídio

Há tempo penso escrever sobre esse tema, mas, como acontece com vários outros, vou deixando para depois, e depois, e nunca escrevo. Aproveitando que recebi um texto interessante, e tendo em vista que depois de amanhã (10) é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, aproveito para efetuar esta publicação.

Faz algumas semanas que postei no Twitter algumas opiniões sobre o suicídio. Em razão disso, ocorreu um pequeno debate.
Eu postei uma constatação psiquiátrica sobre o suicídio: "o suicida deseja parar de sofrer, ele não quer morrer realmente." (Ghislaine Bouchard)

Imbituba, em poucos anos, já teve vários casos de sucicídios e outras tentativas.
Há quem condene essa ação e rotula os suicidas de covardes. Seria um ato de covardia ou de coragem?
Só o suicida sabe o tamanho de sua dor.

Há muitos mitos e realidades sobre o suicídio, como também várias são as suas causas.
Encontrei um artigo científico sobre o tema, escrito pela psiquiatra e psicóloga Ghislaine Bouchard e traduzido por Marilita de Castro, também psiquiatra.

Abaixo, publico o texto escrito por Ana Echevenguá, advogada ambientalista, cujo título foi usado nesta postagem:
... com as taxas de suicídios mantendo curvas ascendentes, continuamos como testemunhas, mas de um tipo muito particular: aquele que se recusa a ver o que ocorre à sua volta...” - Arthur Dapieve - “Morreu na contramão: o suicídio como notícia” – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.

A cada 40 segundos, um suicídio no mundo. Olho o relógio enquanto escrevo.

No prédio da dona Zeli, em Fortaleza-CE, Terra do Sol, uma mocinha de 23 anos jogou-se da janela do décimo andar. Às 7h00 da manhã de uma segunda-feira. Dentro das estatísticas oficiais, apenas mais um número de morte prematura e voluntária.

Ninguém sabe o que aconteceu. Ela se jogou da janela do quinto andar. Nada é fácil de entender” – Legião Urbana.

Embora não se fale muito a respeito, criei uma página no Facebook, chamada ‘Suicídio nem pensar’, que conta - hoje - com 2.226 participantes. Alguns falam das suas intenções, das suas tentativas... e a maior parte diz: ‘tentei, mas não deu certo, graças a Deus’.

Os números do Suicídio

Dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, que é responsável por mais de 1 milhão de mortes anuais.

3.000 por dia.

1 a cada 40 segundos.

Faz mais vítimas que o somatório de mortes em guerras + violência urbana + homicídios em geral.

Um problema que se alastra silenciosamente. A OMS-Organização Mundial de Saúde estima que este número possa chegar, até 2020, a 1,5 milhões anuais. Porque os casos aumentaram em 60% nos últimos 50 anos, principalmente nos países em desenvolvimento.

A OMS calcula ainda que, por ano, de 10 a 20 milhões de pessoas tentam o suicídio. Embora as mulheres tentem com maior frequência, os homens são mais eficazes porque "recorrem a meios mais radicais do que as mulheres", conforme estudos realizados por Lars Mehlum, professor de psiquiatria e suicidologia da Universidade de Oslo, Noruega.

Por que alguém recorre ao suicídio?

Para a OMS, as causas podem ser psicossociais, culturais e/ou ambientais: a pobreza, o desemprego, a perda de um ente querido, histórico familiar de suicídio, uso de drogas, isolamento social, problemas de saúde como a depressão, a esquizofrenia...

"Os números tendem a aumentar com a idade, mas tem havido um crescimento alarmante de comportamentos suicidas de jovens entre os 15 e os 25 anos", disse Mehlum. E isso ocorre porque, segundo este, as expectativas de sucesso do jovem hoje são maiores. E muitos não suportam o confronto dessas com a realidade que enfrenta.

Talvez isso seja verdade. O canadense Don Tapscott, expert em internet disse, em entrevista à revista Veja, na edição de 13 de abril de 2011, que “os jovens de hoje cresceram ouvindo que se estudassem com dedicação e não se metessem em problemas teriam uma vida confortável na idade adulta. Mentimos pra eles. Chegaram ao mercado de trabalho e não há emprego. Esses jovens esperavam mais do que a realidade está lhe oferecendo”.

Estamos na era da colaboração através da Inteligência Conectada. Na pesquisa, para escrever sobre o assunto, encontrei o trabalho do jornalista Arthur Dapieve, que menciono acima e corrobora com Mehlum e Tapscott. E soube que Marx escreveu, em 1846, um texto nominado “Sobre o suicídio”. Segundo Dapieve, Marx baseou-se em um texto de “Jacques Peuchet (1758-1830), ex-arquivista policial em Paris, entre outras coisas, como jornalista e funcionário de ministério, e subscreveu as opiniões dele sobre o assunto, apenas acrescentando, aqui e ali, suas próprias palavras e reflexões. “Unidos”, o conservador francês e o progressista alemão viram, em quatro casos de suicídio, três deles cometidos por mulheres, a “coisificação” do ser humano na vida burgueso-capitalista. “A classificação das diferentes causas do suicídio deveria ser a classificação dos próprios defeitos de nossa sociedade”, escreveu Peuchet, encampou e adaptou Marx...” - http://www.zahar.com.br/doc/t1133.pdf

Seja qual for a causa, o problema existe e precisa ser enfrentado.

Precisamos - órgãos públicos e sociedade civil - fazer algo além da mera coleta de números.

Como método preventivo, o médico Américo Marques Canhoto repassou-nos uma dica simples o objetiva que pode ajudar a salvar vidas: “Para atenuar a tendência depressiva, procuro inventar motivos e metas para levar o cotidiano; e começo a descobrir, a cada dia, que viver vale muito; e que é preciso voltar a ser criança – SEM EMBURRAR” - http://americocanhoto.blogspot.com/
Naquela lista da OMS, que não é terminativa, acredito que estejam inseridas outras causas para o suicídio, como relacionamento amoroso ou desilusão afetiva; vergonha por algum fato, como costuma ocorrer no Japão; mudança brusca negativa no status social...

O problema é que as vítimas dificilmente têm a quem recorrer ou não recebem a devida atenção por aqueles a quem procuram para relatar seus problemas.

8 comentários:

  1. No meu entendimento, o suicida é um ato de coragem e não de covardia.

    Tem que se ter muita coragem tirar sua própria vida.

    Penso...

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  2. Bom dia Sérgio e demais leitores do blog. Esse é um tema extremamente delicado, tanto que onde enquanto você o escrevia fiquei aqui refletindo sobre essa questão. O que realmente leva uma pessoa a das fim em sua própria vida? Cheguei a conclusão de que cada caso é um caso. Conheci pessoas que cometeram suicídio e também aqueles que tentaram e não obtiveram êxito. Foi analisando a situação de cada uma que cheguei a essa conclusão. Conheci uma pessoa certa data, em São José, bem estabilizado financeiramente, com uma família fantástica, filhos encaminhados e esposa amorosa, e que mesmo assim deu fim em sua vida com uma bala calibre 32 em sua cabeça. Conheci em outra cidade outra pessoa que cometeu suicídio justamente por não ter as condições do sujeito citado no primeiro exemplo, ou seja, por viver individado, o único filho viciado e a esposa alcoólatra. Chego a pensar que alguns tem disposição genética pra isso, e outros por desilusões com a realidade que criou pra si. Eu particularmente não condeno nenhum desses casos, pois é nosso livre arbítrio em ação, salvo os casos de depressão crônica onde o indivíduo não está em condições de responder por si mesmo. De qualquer forma, é sim um tabu na sociedade que deve ser estudado longe dos olhos da religião e dos preconceitos formados pela sociedade. Abc.

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  3. Olá Sérgio e leitores do blog. Como são sabedores há exatos 5 meses perdi meu marido vítima de suícidio. O que pensar? O que levou um cara de boa família, religioso, boa indole, boa profissão, sem vícios, bons amigos e vida social ativa a cometer esse ato? Como cita o Alisson, cada um de nós tem seu livre arbitrio, e só por isso não podemos condenar. Coragem ou covardia? Talvez seja um problema bem maior que essas duas palavrinhas: pressão política, social, medo, vergonha, incapacidade de lutar, desconfiança, proteção..... No caso do Leco não tenha provas concretas, mas, sei que deve ele ter tido um motivo muito grande para isso. Vivi e convivi com ele durante 15 anos e nunca percebi nenhum sinal de doença, como muitos citam,... essa talvez seja a maneira mais fácil de mascarar algo. Estarei lutando a cada dia, para tentar provar que marido não estava doente, mas, que fez o que fez para proteger-nos de algo grande.

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  4. O que não se pode esquecer é que embora o uso de drogas possa ser uma das causas de suicídio, todos os outros distúrbios apontados como causas podem levar ao uso descontrolado (dependência) de drogas, com consequências terríveis, o que não deixa de ser um "suicídio" aos olhos de quem convive com esse dependente. E não sei o que é pior para uma família, se ter a falta permanente (morte) de alguém ou ter um "suicida vivo" (dependente químico) dentro de casa.

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  5. Bom dia pessoal. Jarlene, legal você ter vindo aqui e exposto sua opinião sobre o tema. Você é uma das muitas pessoas atingidas diretamente por esse assunto, porém faz parte de uma minoria que expõem sua visão diante de tal trauma. Parabéns. Essas aberturas de dialogo contribuem muito para um maior esclarecimento do tema.
    Vou seguir seu exemplo e dar um relato pessoal aqui. Aqueles que me conhecem mais intimamente sabem que por duas vezes tentei tirar minha vida. A primeira vez foi aos 17 anos de idade quando eu tinha uma vida despreocupada com o mundo. Queria apenas curtir momentos sem a preocupação das conseqüências. A segunda vez foi aos 21 anos, quando já havia abandonado a vida de festas, álcool e rock'n Rol, literalmente.
    Até ontem eu não entendia certo os motivos que me levaram a pensar nisso, mas percebi que em ambas as situações eu estava tendendo a depressão, buscando um sentido para existência, uma razão que justificasse as agruras que muitas vezes a vida nos impõem. Toda essas reflexões mais profundas me deixam literalmente em depressão. Talvez eu sonhei muito com uma vida perfeita quando criança, sei lá. De qualquer forma acredito que cada caso é um caso, e o ser tem o livre arbítrio para dar um "stop" ou "reset" quando quiser. Não podemos em hipótese alguma julgar uma pessoa por isso. Acho muita hipocrisia das pessoas admirarem os samurais que tiravam a própria vida quando derrotados enquanto condenam outras pessoas que agem de forma semelhante por motivos que desconhecemos.
    Firte abraço.

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  6. Prezado Sérgio,

    Lembro que ha algum tempo você disse que um dia gostaria de ver um comentário meu aqui em seu blog e, apesar de ser um leitor assíduo, somente neste tema que é muito delicado, como tão bem ressaltou o Alisson em seu comentário, me senti encorajado há expor um pouco o que penso.

    Quando se associa o suicídio à depressão e ou genética do indivíduo me preocupo, pois hoje, tenho distúrbio psíquico causado por estresse, que os médicos diagnosticaram como Síndrome do Pânico.

    O tratamento é lento, e requer vários cuidados extras ao tratamento químico, o que condiciona a levar uma vida “regrada” psicologicamente falando. Mais como fazer isso? Trabalho, família, dinheiro, fatores externos dificultam o bom andamento de um tratamento 100% confiável.

    Sei que o tratamento que eu faço tem ido muito bem, e meus sintomas amenizados quase que em 100%. Mais me pergunto se em meio a uma crise com sintomas físicos como taquicardia, dormência nas mãos, falta de ar, etc. quando o indivíduo entrega-se ao desespero completo e comete o ato de suicídio, isso deve ser responsabilidade de quem?

    Destaco no texto a seguinte colocação:
    “Precisamos - órgãos públicos e sociedade civil - fazer algo além da mera coleta de números”

    Acredito que esta na hora de políticas públicas voltadas aos tratamentos de problemas psicológicos sejam executadas de forma mais efetiva, pois o simples repasso de medicação sem acompanhamento tem transformado casos simples em verdadeiras tragédias.

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  7. João, como respondi a você no Twitter, há problemas que devem ser debatidos abertamente, porque o número de afetados esconde-se atrás dos tabus.

    E veja bem o que você destaca em seu comentário sobre o problema de saúde que vive. Você tem que levar uma vida regrada. Imagine uma pessoa economicamente hipossuficiente, sem ter acesso fácil a tratamentos de saúde, sem um bom emprego, sem qualquer possibilidade e disponibilidade de se consultar com psicólogos, e apenas recebendo remédios, como você disse.
    O suicídio pode estar próximo, se não acontecer algo pior. Pode acontecer mesmo uma tragédia.

    Hoje é comum tais problemas, e o suicídio é uma das consequências. Mas pouco se discute e muito menos há políticas públicas para evitar isso.

    De todos os leitores que tiveram acesso a este artigo, quantos já tentaram ou pelo menos pensaram em tirar sua própria vida? Muitos. Mas um ou outro tem coragem de tocar no assunto. O problema de cada um, se for trazido ao debate, pode ser o remédio para o sofrimento de outros.

    Assim como há os alcoólicos anônimos, poderiam ser formados grupos de pessoas que vivem esses mesmos problemas que podem levar ao suicídio.

    Valeu pela sua contribuição aqui. Volte sempre!

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  8. Bom dia Sérgio e demais leitores do blog. Ontem fui dormir relativamente cedo e acabei acordando as 2 horas com esse assunto na cabeça. Como você bem frisou devemos abrir espaço para debater o tema de forma a romper com os tabus impostos pela sociedade sob forma de dogmas religiosos. Acredito que a religião é a maior culpada pelos julgamentos feitos pela sociedade contra aqueles que cometem suicídio. Aquele livretinho recheado de alegorias preconceituosas chamadas bíblia condena veementemente o suicida, SIM, o suicida e não somente o ato em si. Será que quando os "gênios" que escrevam aquela besteira previam uma sociedade tão turbulenta como a nossa? Uma sociedade condicionada a ser feliz pelo consumismo exagerado, onde só podem ser felizes aqueles que tem o que não precisam? Será que esses "gênios" donos da verdade previam que em meio a essas turbulências ainda existiriam pessoas capazes de defender sua honra com a própria vida? Acredito que não, eles não sabiam nada disso, e seus seguidores, ceguinhos, também não sabem. Criar grupos de apoio a pessoas com depressão, tendência suicida seria uma idéia fantástica. Ajudaria muitas outras com as trocas de experiência. Abc.

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