"Mais uma lenda ameaçada"

Durante as propagandas eleitorais das eleições de 2010 para presidente, os governistas mostraram à Nação um país rico e uma política que combatia eficientemente as desigualdades sociais existentes no país.
Apresentaram números, fórmulas e "gente feliz". A violência tinha diminuído, o país estava mais democrático, os pobres tinham mais chances de estudar e conseguir emprego. Nós tínhamos um segundo pai, Lula, e uma segunda mãe, a candidata do governo, que zelavam por nós. As cenas do programa eleitoral governista poderiam ter o título de "Dilma no país das maravilhas".

As eleições acabaram. As maravilhas, também. Tudo não passou de uma centelha. O próprio governo informou que o cofre já não tinha tanto dinheiro como foi propagandeado. Os PACs, motores do desenvolvimento brasileiro alardeados durante a campanha e carro-chefe da candidata governista, deixavam transparecer os ossos com as denúncias de superfaturamento e obras inacabadas, cuja sigla poderia ser Programa de Aceleração da Corrupção.

Um novo ano começou. O novo governo ainda não. A principal atividade da República das Bananas, durante esses quase dois meses, foi discutir quem indicaria quem para assumir os milhares de cargos existentes e inventados para poder abrigar os apaniguados políticos, sem considerar a necessidade da competência.
Enquanto isso, a inflação apresenta sinais de que está ressurgindo nas prateleiras dos supermercados.

Em segundo plano, estava a votação do salário mínimo, que mesmo com a maioria esmagadora governista, houve necessidade de se distribuir emendas orçamentárias para confirmar o voto "não" dos deputados federais dos partidos da base do governo, que votaram contra valor superior a R$ 545,00.
Os deputados catarinenses que votaram contra foram Celso Maldaner (PMDB), Edinho Bez (PMDB), Esperidião Amin (PP), Jorge Boeira (PT), Luci Choinacki (PT), Mauro Mariani (PMDB), Pedro Uczai (PT), Rogério Peninha Mendonça (PMDB), Ronaldo Bendedet (PMDB), Zonta (PP).

Mas o pior de tudo, leitores, não é ver os deputados acrescerem apenas R$ 5,00  ao salário mínimo, mas saber que o governo tem 2/3 dos votos na Câmara Federal, podendo aprovar o que quiser, mudar o que lhe convier, de acordo com os interesses do poder central. Essa maioria consistente reflete um risco enorme aos direitos sociais e à própria democracia.

Ontem, o colunista Clóvis Rossi publicou na Folha de São Paulo um interessante artigo que trata da falácia divulgada pelo governo federal, intitulado "Mais uma lenda ameaçada". Leia e veja que o ufanismo da tal diminuição da desigualdade social não passa de uma lenda em que milhões de brasileiros acreditaram... e acreditam.
"Era uma vez a lenda da queda da desigualdade no Brasil, já desmontada.
Agora, todo mundo sabe que o que caiu foi a desigualdade entre salários, mas não entre a renda do capital e a do trabalho. E esta é a desigualdade de fato obscena.
Muito bem. Agora, surgem dados que põem em dúvida até a queda tão celebrada da desigualdade entre assalariados. São dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), organismo oficial e bastante empenhado, de resto, na propaganda do governo.
O que diz o estudo? Que o desemprego aumentou entre os 10% mais pobres no período 2005-2010. Exatamente o período em que tanta gente se ufanava de que a desigualdade diminuíra.
Vejamos a comparação: em 2005, 23,1% da população mais pobre estava desempregada. No ano passado, esse número saltou para 33,3%. Já entre a parcela da população de maior poder aquisitivo, o desemprego diminuiu 57,1% nesses cinco anos. Caiu de 2,1% para 0,9%.
Mais: o desemprego entre os mais pobres, que era 11 vezes maior em 2005, pulou para 37 vezes mais cinco anos depois.
A notícia colhida nesta Folha acrescenta a palavra de técnicos do Ipea: "A taxa de desemprego, que tende a ser mais elevada entre os trabalhadores de menor rendimento, tornou-se ainda mais um elemento de maior desigualdade no mercado de trabalho".
Se os mais pobres perdem emprego e, portanto, renda, e os mais ricos, ao contrário, obtêm mais empregos e, portanto, mais renda, como é possível que a desigualdade entre assalariados caia?
Deve haver alguma boa explicação, dada a qualidade técnica dos arautos da lenda, mas seria conveniente que eles viessem a público para explicar essa contradição aparentemente insanável, em vez de silenciarem como o fazem quando se aponta a outra lenda."
Isso prova que vivemos mesmo a aventura "Dilma no país das maravilhas".

Leitor, o que você vai fazer com o seu voto em 2012 é um problema seu. Mas o que o seu candidato fará no governo é um problema nosso. Por isso, vamos analisar bem, antes de votarmos.

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