As multinacionais Bunge e Yara estão deixando os ambientalistas em polvorosa com seu projeto de extração de fosfato no pequeno e rural município de Anitápolis-SC. Sob as promessas de gerar mais de 1,5 mil empregos diretos, o
governo do Estado abraçou e prometeu subsídios e boas estradas até o local da jazida. A população da cidade se divide entre aceitar o empreendimento e protestar contra ele.
Mas qual a ligação que há entre esse projeto e a já poluída Lagoa Mirim (foto)?
Vamos voltar um pouco no tempo, antes de responder a pergunta, e relembrarmos fatos históricos.
A Indústria Carboquímica Catarinense-ICC, que por muitos anos foi a maior empresa de Imbituba, chegando a ter mais de 500 empregos diretos, era uma empresa de economia mista e fazia parte do Grupo Petrofértil, que era uma subsidiária da Petrobrás.
A ICC, com subsídios enormes do governo federal, produzia ácido fosfórico a partir da mistura do ácido sulfúrico, que era importado, e rocha fosfática, vinda de Goiás. O ácido fosfórico era vendido para empresas como a Adubos Trevo e Manah, que o utilizavam para a fabricação de fertilizantes e faturavam alto, pois a fabricação do adubo era muito mais rentável.
A ICC, com o fim da Petrofértil, entrou em liquidação iniciada no governo Collor. Naquela época, falava-se que a
Indústria de Fosfatados Catarinense-IFC tinha interesse em adquirir a ICC e, a partir da exploração de fosfato em Anitápolis, fabricaria fertilizantes nas instalações da Carboquímica, localizada no Centro de Imbituba.
Em razão da recessão ocorrida no setor de fertilizantes nos anos 80, e com a consequente liquidação da Carboquímica, o projeto não decolou e a ICC virou um prédio abandonado por muitos anos, até que a prefeitura municipal passasse a utilizá-lo, precariamente, para fixar ali alguns órgãos administrativos.
A joint venture IFC foi criada em 1980 pelas multinacionais Bunge Fertilizantes, com sede em Nova Iorque, e Yara Brasil Fertilizantes, com sede na Noruega, com o objetivo de explorar a jazida de Anitápolis. O potencial dessa jazida foi constatado no final dos anos 70, através de estudos feitos pela empresa Adubos Trevo, que foi adquirida pela Yara.
Com o reaquecimento do setor de fertilizantes, voltou-se a pensar na exploração da jazida, porém, sem a ICC, a IFC resolveu construir a indústria ali mesmo em Anitápolis, no meio da Mata Atlântica (a foto mostra a Serra do Rio dos Pinheiros - região que será inundada pelos lagos da mineração e suas 2 barragens com 80 metros de altura sobre o nível do Rio dos Pinheiros), cujo o enxofre necessário para a fabricação virá através do Porto de Imbituba e seguirá pelas BRs 101 e 282, e pela SC 407 até Anitápolis. O escoamento da produção poderá ter o trajeto inverso.
A fábrica construída gerará cerca de 500 empregos diretos e fabricará não só o ácido fosfórico como também o produto final, o fertilizante.
Ainda que Bunge e Yara façam parte de um
monopólio na área de fertilizantes, com lucros parecidos aos de bancos, boa parte dos investimentos serão financiados pelo BNDES e haverá incentivos fiscais do governo de Santa Catarina.
O projeto da construção, porém, não está sendo visto com bons olhos pelos ambientalistas e parte dos 3,2 mil habitantes daquele município, em razão dos possíveis
problemas ambientais que poderão ocorrer por causa das atividades da empresa, bem como pelo grande desmatamento que haverá para a exploração do fosfato, numa área de aproximadamente 400 hetares, na qual também existe nióbio e urânio.
E segundo os ambientalistas, a provável poluição poderá afetar todos os municípios da bacia hidrográfica do Rio Tubarão, o qual deságua nas lagoas Santo Antônio, Imaruí e Mirim. A poluição seria provocada por resíduos químicos, que tornaria ácida as águas da bacia e, consequentemente, traria grandes riscos à produção de peixes e de camarão produzidos nos rios e lagoas citadas. O assunto já foi abordado até pelo
Estadão, com bastante detalhes.
Alguns municípios que fazem parte da bacia do Rio Tubarão estão se mobilizando para exigir da IFC maiores explicações e garantias de que não haverá prejuízos ambientais e turísticos, como também e, principalmente, à saúde da população, já que vários municípios, incluindo
Florianópolis, captam água de mananciais existentes na região de Anitápolis.
Em razão do embate, o projeto foi parar na Justiça Federal, que no fim de 2009 concedeu liminar favorável à
ONG Montanha Viva, para que o empreendimento não fosse adiante. A maior briga está nas licenças já concedidas pelo famoso órgão de fiscalização de Santa Catarina: a FATMA. Os ambientalistas suspeitam dos critérios utilizados pela FATMA para conceder as licenças, bem como afirmam que, se tratando de Mata Atlântica, de preservação federal, o órgão fiscalizador deveria ser o IBAMA.
Você poderá ler a decisão liminar da Justiça Federal clicando
aqui. Contudo, transcrevo parte da decisão:
DEFIRO EM PARTE A LIMINAR para suspender os efeitos da Licença Ambiental Prévia n. 051/2009 e impedir a instalação do Complexo de Fabricação de Superfosfato Simples no Município de Anitápolis/SC; conseqüentemente, determinar à FATMA que se abstenha de expedir a Autorização de Corte e às empresas rés de qualquer ato tendente à supressão de vegetação ou início das obras, até decisão final nesta ação. Defiro apenas a notificação dos municípios extremantes com vocação turística e dos que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio Braço do Norte, para que, querendo, integrem o polo ativo da ação, na qualidade de assistentes da parte autora: Rancho Queimado, Águas Mornas, Braço do Norte, Grão Pará, Rio Fortuna, Santa Rosa de Lima e São Ludgero.
Uma outra preocupação da ONG é com referência às duas barragens que serão construídas em virtude do empreendimento. Um possível rompimento de uma dessas barragens pode trazer impactos negativos ao complexo lagunar de nossa região, como também afetar a região da APA da baleia franca.
Leitores, eu não tenho nenhum conhecimento de alguma iniciativa do governo municipal de Imbituba no sentido de verificar os possíveis prejuízos ambientais ou econômicos que o projeto em Anitápolis possa trazer ao nosso município. Muito menos tenho conhecimento de que a imprensa local tenha divulgado qualquer informação a respeito.
Penso que o assunto é muito sério e a população deve saber a respeito do que está acontecendo, assim como o governo local deve buscar todas as informações possíveis, repassá-las à população e tomar providências jurídicas, se for o caso. Sendo o prefeito José Roberto Martins o presidente da AMUREL, poderá ele convocar uma reunião - se ainda não o fez - com os demais dirigentes municipais, para debaterem acerca do projeto industrial.
Deixo aqui mais alguns links para os leitores acessarem e obterem mais informações a respeito do caso:
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Site Avicultura Industrial.
Obs.: Hoje, após publicar este post, recebi email do presidente da ONG Montanha Viva sugerindo a leitura de matéria publicada pelo Instituto Sea Sheperd - Brasil, entidade esta que advertiu sobre os riscos do projeto de Anitápolis. A matéria também foi publicada hoje.
Portanto, deixo o link:
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Mineradora norueguesa ameaça litoral catarinense.
Eu estou preocupada com este projeto de Anitópolis, esta esperando para ter o prazer de ler que alguns de nossos vereadores pegassem a frente, e e fizessem uma REUNÃO com os Imbitubences, para se unir aos que ja estão l contra esta barbaridade. ja temos a lagoa do mirin e o rio Diuna poluída com os arrozicultura.
ResponderExcluirMas isto é sério. A NATUREZA ESTA DANDO A RESPOSTA A TANTOS ANOS DE DESCASO, SERÁ QUE AINDA NÃO FOI NOTADO..
Temos que nos manifestar.
correção: problema com a poluição do Rio D'una, provocado pela rizicultura) O que digitei errado.
ResponderExcluirDesculpem-me.
Marlene, em Laguna já houve reunião sobre o assunto, que é de extrema relevância. Enquanto isso, em Imbituba, autoridades se reúnem para saber o que vão fazer com índios e ciganos que vez ou outra aportam por aqui. Fazer o quê?
ResponderExcluirPena,
ResponderExcluirLaguna já está fazendo reuniões , para achar uma solução.
Porque Imbituba não esta junto com Laguna?
Vou usar o bordão da atriz , Beatriz Drumond.
“É a treva.” não me vem a mente outra expressão ao assistir
O melancólico desfecho. Estamos indo ao encontro do desastre.
Pena , vc cita que enquanto nossos políticos fazem REUNIÃO, para saber o que fazem com os índios e ciganos....
O enxofre necessário para a fabricação virá através do Porto de Imbituba , nem precisamos pensar muito. É de interesse do porto, é o que indica a matéria.
O COP 15 Sobre as mudanças climática Copenhague,
Que foi um fracasso. O nosso presidente Lula, eu achei que foi o único que falou a verdade.
Disse:” Faltou-nos inteligência” porque os poderosos preferiram barganhar vantagens do que salvar a vida da terra e os seres humanos.
O projeto Anitápolis Está sendo feito por multinacionais com o aval do nosso governador, dando boas estradas, o que ele não fez para os agricultores.
Infelizmente estamos com uma maioria de políticos que só pensam em suas ambições.
E segundo os ambientalistas, a provável poluição poderá afetar todos os municípios da bacia hidrográfica do Rio Tubarão, o qual deságua nas lagoas Santo Antônio, Imaruí e Mirim.
A SAUDE e DOENÇAS e MORTE, não tem endereço. Os poderosos esquecem que a contaminação, eles e seus filhos tbm vão ser vitimas. A realidade é que as doenças que viram não terão cura, e neste momento, pobres e ricos são iguais , pq perante a morte não existe dinheiro que salve.
A poluição vai acabar com o tão sonhado turismo.
Lembro que no tempo da ICC, ninguém conhecia Imbituba pelo nome, mas a cidade que chovia ácido. Na época eu viaja muito para comprar maquina e malhas , buscar trabalho em Blumenal. Qdo ia me registrar no hotel, eles perguntavam onde era Imbituba, eu explicava, eles diziam aaah! Naquela cidade toda poluída. Chato Né!
Em um hotel no centro de Curitiba, fui questionada se não tinha nenhuma doença grave devido o lugar que morava.
Todos sabem que a cidade de Curitiba, é muito organizada, serve de exemplo para o Brasil e até para outros países.
Eu pergunto? Vamos deixar acabarem com as baleias que o Brasil inteiro sabe que aqui é berçário.E as lagoas , as mais belas baias? Vai acabar tudo. Adeus Turismo.
Prefeito e vereadores, esta na hora de reunir-se juntamente com os munícipes,para agir contra o projeto Anitópolis
Não queremos Poluição em nossa Zimba.
Copenhague tirou a mascara do capitalista,Incapaz de fazer consensos pq pouco importa a VIDA e a TERRA, mas antes os lucros materiais.
Acredito q SC tem que se unir, contra este projeto. A VIDA E MEIO AMBIENTE É O MAIS IMPORTANTE
Pois é pessoal, como já dizia o Juvenal Antena, muita calma nessa hora!
ResponderExcluirPrimeiramente informo que o ácido sulfúrico utilizado pela ICC para fabricar o ácido fosfórico era obtido a partir da queima da pirita carbonosa e não importado como erroneamente consta na coluna. Dessa queima surgia o SO2 que causava a chuva ácida e corroía tudo e o óxido de ferro que causava aquela sujeira toda.
Tambem não entendo essa ojeriza contra as empresas multinacionais, como se tratassem de coisa de outro planeta.
Para esclarecer este aspecto vou dar um pequeno exemplo da presença das "maledetas" multinacionais no nosso cotidiano: Elas são responsáveis pela produção de automóveis, computadores, softwares, passando pelos refrigerantes, sabão em pó, creme dental, remédios etc, etc. Enfim, acredito que mais de 90% dos itens presentes em nossas vidas são produzidos por empresas multinacionais.
Esse discurso contra as multinacionais mais parece aquela balela que a esquerda (antes de Lula Presidente) costumava falar e que convenhamos, fora de moda na atual conjuntura. É um discurso isolacionista e retrógrado, abandonado pelos atuais governantes para sua própria conveniência e que hoje não faz a cabeça nem de comunista chinês.
Me preocupa não ver entre os links apresentados o endereço da IFC http://www.projetoanitapolis.com.br/site/, o que deixar transparecer uma certa parcialidade no tratamento do assunto por essa coluna. É prudente que antes de se fazer qualquer julgamento olhar os dois lados da história para daí se tirar a conclusão.
Também tem que se ter o cuidado de não interferir na autodeterminação do Povo de Anitápolis, afinal não há povo que goste de elementos alienígenas que fiquem dando pitacos nos seus assuntos e interesses. Em Anitápolis não é diferente.
Para terminar informo que a Vale (multinacional brasileira) anunciou a compra de 100% dos ativos de fertilizantes da Bunge no Brasil por US$ 3,8 bilhões. No negócio, US$ 1,65 bilhão será pago pelos ativos de rocha fosfática e fosfatados da BPI, subsidiária da multinacional no País.
Certamente a IFC entrou nessa negociação e com isso aumenta a chance de construção da unidade de mineração e processamento em Anitápolis pela IFC, agora com a experiência e peso da Vale no comando das ações.
Cândido, vamos por parte:
ResponderExcluira) Nem você nem eu está equivocado com referência à origem do ácido sulfúrico. Por longos anos ele foi obtido através da queima da pirita, o que gerava a grande poluição. Entretanto, nos últimos anos da sobrevivência da ICC, o ácido estava sendo importado da África do Sul, em razão de preço e da quebra das minas da região carbonífera. O ácido chegava em navios que aportavam no Porto de Imbituba.
b) Citei a palavra "multinacionais" apenas para se ter ideia do tamanho das empresas envolvidas. E a localização de suas sedes apenas a título de informação. Sou contra esses protecionismos exacerbados. Afinal, eu adoro coca-cola!
c) Já o link do projeto Anitápolis, para acessar a página oficial do projeto, foi, sim, inserido no texto, no quinto parágrafo, onde aparece em azul o nome "Indústria de Fosfatados Catarinense". E informei o link justamente para que os leitores tivessem acesso à versão da empresa.
d) Indiretamente, estaríamos interferindo na autodeterminação do povo de Anitápolis; porém, se o projeto de lá trouxer algum prejuízo para Imbituba, nós, assim como eles, devemos defender a parte que nos cabe. Ninguém aceitaria que parte do esgoto da casa do vizinho fosse parar no nosso quintal.
e) O fato de a Vale comprar a Bunge brasileira não faz com que o projeto não mereça a atenção dos órgãos ambientais.
Por falta de tempo, deixei de publicar em "Comentários" o email recebido do advogado da ONG Montanha Viva, o que farei o mais rápido possível. Também não divulguei, pelo mesmo motivo, que a Bunge alardeou, no fim de 2009, ter recebido R$ 550 mi do BNDES para investimento no projeto Anitápolis, cuja notícia foi desmentida por esse banco. Só fui saber disso após ter publicado esse post.
Obrigado por mais uma participação sua.
Caro Pena, a Vale do Rio Doce adquiriu os ativos da Bunge Fertilizantes, 42% da participação que a Bunge detém na Fosfértil - Fertilizantes Fosfatados, e as minas de fostatos e suas instalções produtivas no Brasil. Isso quer dizer que a mina de Anitápolis agora e da Vale do Rio doce, e pode-se dizer que a fábrica de ácido fosfórico e de fertilizante, terá aprovação de qualquer orgão dos governos estudual e ferderal . Ou alguém duvida.
ResponderExcluirEu não duvido.
ResponderExcluirSabe pq?
Pq somos um povo que não luta pelos nossos direitos e saúde. vai conseguir e quem fez alguma coisa pelo menos vai poder dizer : Eu fiz minha parte.
Mas uma andorinha só não faz verão.
"Nosso povo em ditadura " Tem medo de perder emprego, não conhece as leis que rege o país.A constituinte. É carente de educação política.
Não sou contra multi-nacionais , mas para o bem como temos ex: Nestlê e outras.
Pq que levam estas indústrias para pequenos lugarejos? Sabemos que o povo não tem vóz ativa.
Eu queria ver se todos se reunissem e gritasse muito que não aceitariam, Em ano de eleição, q cada um quer mais que outro o poder, se não iam ouvir o povo.
O engraçado que o povo é o patrão, é pagador de impostos, nas quem fica com a palavra final é gov, q É O funcionário,PAPÉIS TROCADOS.
Com certeza não vai ficar no papel. E para nós vai sobrar a POLUIÇÃO. E MORTE PARA ALGUNS, E FOME PARA OUTROS, PQ VAI ACABAR A COM O PESCADO.
Ao leitor que comentou sobre as críticas que Edward Euzébio de Araújo (ex-prefeito de Imbituba) recebeu ao se posicionar contra a instalação da ICC no Centro, solicito que reenvie seu comentário, mas observe as regras estabelecidas para se comentar neste blog. Como você não as observou, não publiquei.
ResponderExcluirVejam essa: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/11/1702717-barragem-de-mineradora-se-rompe-no-interior-de-minas-gerais.shtml?cmpid=comptw
ResponderExcluirAs barragens da mineradora em Anitápolis vão ter mais de SESSENTA METROS DE ALTURA!
Um desastre desse naquela área de Anitápolis seria diversas vezes mais grave que os danos e mortes causados em Mariana-MG.
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