PODER ECONÔMICO X PODER POLÍTICO
Marilena Chauí ensina que “o poder político sempre foi a maneira legal e jurídica pela qual a classe economicamente dominante de uma sociedade manteve seu domínio. O aparato legal e jurídico apenas dissimula o essencial: que o poder político existe como poderio dos economicamente poderosos para servir seus interesses e privilégios e garantir-lhes a dominação social.
Divididas entre proprietários e não-proprietários (trabalhadores livres, escravos, servos), as sociedades jamais foram comunidades de iguais e jamais permitiram que o poder político fosse compartilhado com os não-proprietários” (Filosofia. São Paulo: Ática, 2000, p. 214-219). Nesse contexto, Imbituba não se diferencia da regra.
Inicialmente, a partir de 1958, quando Imbituba se emancipou política e administrativamente de Laguna, os poderes econômico e político estiveram nas mãos dos donos da Companhia Docas de Imbituba, cujos dirigentes escolhiam os Prefeitos de Imbituba, homologados pelos Partidos Políticos da época visando apenas cumprir o ritual legal.
Com a crise do carvão e, consequentemente, do Porto de Imbituba, houve o declínio econômico da Companhia Docas de Imbituba, tendo a supremacia sido assumida pela Indústria Cerâmica Imbituba que através de seu proprietário, João Rimsa (foto principal), passou a comandar a política Imbitubense. Os candidatos a Prefeito e Vereador da Arena não eram escolhidos mediante consultas aos militantes e dirigentes como seria normal mas, sim, ungidos solitariamente por João Rimsa e apenas oficializados pelas “lideranças” partidárias.
Com a morte de João Rimsa e tendo em vista que os novos donos da Icisa não participavam da sociedade imbitubense e não se interessavam pela política local, ficou o poder político momentaneamente dissociado do poder econômico, porquanto inexistente pessoa física ou jurídica a se destacar e assumir o lugar da Icisa.
Nesse interregno, tivemos a dupla eleição de Osny Souza Filho, vencedor nas urnas pela união de múltiplos e pequenos detentores de poder econômico, sem destaque para qualquer um.
Finalmente, não se pode esquecer que inúmeros fatores influenciam nas eleições e podem ser momentaneamente preponderantes, a despeito do poder econômico. Como exemplo cabe citar a eleição de Eduardo Elias, sufragado pela vontade irrefreável e excepcional da sociedade imbitubense de protestar localmente contra o governo de exceção instalado no Brasil com o golpe de 1964.
(As fotos históricas foram extraídas do livro "Imbituba", de Manoel de Oliveira Martins. Pela ordem, João Rimsa, Álvaro Catão, Porto de Imbituba e ICISA)
Caro César;
ResponderExcluirO velho Marx já nos alertava acerca da íntima relação entre o poder econômico e o poder político. No livro A ideologia alemã, o filósofo já preconizava que o Estado nada mais é do que o resultado da luta entre as classes. Posteriormente, na obra "O Manifesto do Partido Comunista" , continua enfatizando esta relação ao argumentar que o Estado se constitui "um cômite executivo da burguesia".
No bojo de tais afirmações reside a ideia segundo qual o poder econômico é um dos principais vetores do poder social, incluindo a política. Dito de outra forma, segundo Marx, não há como compreender os mecanismos do Estado sem analisar a dimensão econômica da sociedade.
A hermenêutica social marxista tem sido amada por alguns, todavia, odiada por outros. Há quem diga que tal análise incorre no erro do reducionismo, isto porque restringe toda vida social à economia, deste modo reduzindo a política, a cultura à condição de meros epifenômenos.
Não comungo de tal perspectiva. Acredito que o pensamento do pai do materialismo dialético é dotado de uma complexidade que transcende qualquer interpretação simplista.
Não se trata de uma visão unilateral, de modo que isto leva aquilo, ou seja, a economia determina a sociedade. Trata-se de uma perspectiva múltipla que encontra na economia o seu ponto de partida.
Pois bem, não estamos aqui especificamente para analisar o pensamento de Marx, embora seja inevitável tocar em seu nome quando falamos nas relações de poder. A grande pergunta é a seguinte: a interpretação de Marx se enquadra na realidade social imbitubense? Lógico que sim!O poder político desta cidade está nas mãos daqueles que detém o poder econômico. A história política de Imbituba não pode ser apartada da história das elites locais. O que se viu durante estes 51 anos de emancipação político-administrativo foi a luta entre elites disputando o poder. Na verdade esta é a consequencia inexorável de qualquer democracia representativa. Imbituba não foge à regra. A democracia representativa não possibilitou o fim das elites. Muito pelo contrário, o que caracteriza este modelo democrático é justamente o surgimento de várias elites disputando o poder. (Schumpeter).
Atenciosamente
Arrison Richelly Berkenbrock
"Caro Arrison,
ResponderExcluirComo vemos, Marx tem razão. Agora no tocante à "disputa" pelas elites locais, pelo menos no período analisado no texto, ela girou em torno de obter as bençãos do "Coronel" Catão, no começo, e de João Rimsa, posteriormente, para se manterem próximas do poder de fato.
Entendo, também, que não havia interesse no desenvolvimento econômico diversificado de nossa cidade - por isso a ênfase no Porto - porque ele pulveriza o poder econômico e, consequentemente, o poder político, tornando mais difícil e trabalhoso a celebração de alianças, implicando, ainda, em maior divisão do poder político.
Mais uma vez, obrigado por seus comentários."
César de Oliveira
Ao leitor que fez um comentário questionando sobre "coronéis", solicito que reenvie sua opinião seu questionamento, mas leia e siga as orientações para postar comentários. Ele não foi publicado porque você não seguiu as orientações.
ResponderExcluirFico aguardando.