Devemos aceitar o progresso a qualquer custo?

Imagens como esta ao lado poderão ocorrer ao longo deste ano, com parte da exportação de soja e milho pelo Porto de Imbituba. Sem retroárea para abrigar os caminhões, estão sendo estacionados pelas vias de acesso à cidade, colocando em risco a própria segurança viária, além de gerar outros problemas.

Minha cidade é minha casa e não pretendo vê-la desordenada e com sua qualidade de vida prejudicada por um progresso a qualquer custo. É preciso que se entenda que os que estão criticando esse problema não são contrários ao desenvolvimento portuário ou de Imbituba. O que se quer - o que eu quero - é que haja um desenvolvimento sustentável. Intrigante é que as críticas que se recebe por se defender essa sustentabilidade vêm de pessoas que querem mobilidade urbana, saúde melhor, uma cidade organizada.
Num artigo jornalístico, que um colega mencionou no Facebook, a respeito do Porto de Paranaguá, podemos visualizar nosso futuro. Leia e veja Imbituba, amanhã, se cometermos os mesmos erros. Dizem que é mais sábio aprender com os erros dos outros, pois indolor.

Av. Renato Ramos da Silva
Em matéria publicada ontem pelo Diário Catarinense, o diretor do Porto de Imbituba disse que "as mudanças na gestão do terminal, que hoje é de responsabilidade do Governo do Estado, aumentaram a capacidade do porto." Por favor, alguém me explique que capacidade é esta que foi aumentada!
E continua: "Além do aumento da capacidade do porto, houve o recesso de Carnaval no país. Rogério explica que os dias em que os caminhões deixaram de descarregar no feriado provocaram o acúmulo de descarga em março." Estranho!
Hoje pela manhã, conversei com um caminhoneiro e o informei sobre essa afirmação no jornal. Ele disse que o que está ocorrendo é simplesmente a falta de estrutura portuária para receber tanta carga de soja, e que não há nada a ver com o Carnaval. Simples assim!

Av. Renato Ramos da Silva
 Como inúmeras outras cidades portuárias ou não, Imbituba passa a sofrer com a incompetência do governo federal. Enquanto estádios são construídos para a Copa, com superfaturamentos que só em uma arena chegou a quase meio bilhão de reais, o Brasil transporta seus produtos por rodovias, quando poderia se investir em ferrovias. Os custos de transporte sobre trilhos diminuem em 40%, reduzindo drasticamente o número de caminhões nas vias de trânsito (um vagão retira dois caminhões das estradas) e aumentando a segurança viária.
Há de se acrescentar que as rodovias brasileiras são péssimas - salvo exceções -, comparadas com as de países desenvolvidos. Sequer há fiscalização do peso das cargas, que poderiam evitar o desgaste rápido do asfalto.

Há quantos anos ouvimos falar na Ferrovia Norte-Sul, Ferrovia Litorânea, Ferrovia do Frango? Santa Catarina possui apenas pouco mais de mil quilômetros de trilhos! E ainda assim é um dos que mais possui malha ferroviária.
A Ferrovia Tereza Cristina*, privatizada, em nada beneficia Imbituba. Ou estou enganado? No fim do ano passado, enviei mensagem eletrônica a um dos diretores da ferrovia perguntando se não seria possível utilizar os trilhos para transporte de pessoas entre Imbituba-Laguna-Tubarão, diante do gargalo infernal em Cabeçudas, provocado pela construção da ponte. Nenhuma resposta. Minha intenção era promover o debate para possível transporte de estudantes universitários, que são afetados pelas obras da ponte.

Av. 21 de Junho
O país é atrasado na área de transportes e o que estamos assistindo em Imbituba não é um retrato do progresso, mas um reflexo da incompetência governamental.
A VAP-Via Arterial Principal, que ligaria a BR 101 ao Porto de Imbituba, projetado pela Santos Brasil e prometido pelo governo do Estado, ficará para... sei lá quando. O governo estadual meteu a mão no porto, mas não quer ou não tem como desembolsar os R$ 50 milhões orçados para essa via portuária. Por que não deixa a moita? Ah!, mas há quem acredite que não adianta privatizar porque a Companhia Docas era privada e não fez nada. Raciocínio medíocre! O governo federal está privatizando - ops! são concessões, porque o PT não privatiza - outros portos e aeroportos, mas por que não privatiza o Porto de Imbituba. O governo estadual está fazendo o mesmo que a Docas fez: só quer os ovos de ouro; que se dane as condições do galinheiro!

E por falar em galinheiro, há um problema do qual a população ainda não se deu conta. O aumento significativo de pombos na região portuária, patrocinado pelos grãos em abundância que caem dos caminhões e nas operações de carga e descarga na área portuária. Essa avezinha que simboliza a paz é transmissora de dezenas de doenças, sendo que algumas podem causar a morte de qualquer pessoa, como pode ser lido neste artigo do Ministério da Saúde.
E não é à toa que a Anvisa exige do Porto de Imbituba um controle dessa praga, que se prolifera na mesma velocidade que os ratos que habitam os portos. Os pombos procriam de três a quatro vezes ao ano e não possuem predadores urbanos. Entretanto, apesar dos riscos à saúde e ao patrimônio, é proibido matá-los. Incoerência.


"O ar contaminado com as fezes dos pombos pode provocar doenças, como a criptococose, uma inflamação no cérebro, que no início tem os sintomas de uma gripe; infecção nos pulmões, a histoplasmose; e, ainda, alergias." (fonte: G1)

Para quem possui veículo apreendido no pátio da antiga ICC, saiba que ficar com seu carro lá por muito tempo poderá ter a pintura prejudicada pelas fezes ácidas desses pombos, que possuem vários ninhos naqueles prédios, e que a prefeitura é a responsável por isso, pois é dela a posse das instalações fabris da antiga empresa. Pouco adianta o Porto de Imbituba promover o controle de pombos, se ao lado da área portuária está um criadouro sem qualquer obstáculo para essas aves. E o que faz a vigilância sanitária local? Ao que eu saiba, nada! É irresponsabilidade desmedida!

Como se não bastassem tais problemas, a vizinhança da área portuária ainda tem de conviver com o mau cheiro da soja espirrada das caçambas, que se amontoam nas margens do acesso até o porto. Para quem não mora nas proximidades, talvez imagine que isso não seja poluição. Bem, se a poeira do coque verde de petróleo não é poluição, quem vai exigir providências contra o odor insuportável da soja, além da vizinhança?

Mas se o progresso deve ser aceito a todo custo, vamos parafrasear o ministro militar João Paulo dos Reis Velloso, em Estocolmo, em 1972, na 1ª Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente: venham poluir em Imbituba, porque ainda é permitido.

*Atualização em 18/03/14: diariamente, vinte contêineres são trazidos pela ferrovia até o Porto de Imbituba, contendo produtos como arroz, cerâmica e mel. Muito pouco.

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