Entrevista de Gilberto Barreto à Rádio Bandeirantes

No último sábado, pela Rádio Bandeirantes, ouvi a entrevista do engenheiro Gilberto Barreto da Costa Pereira. Muito boa!
Gilberto é o único profissional do país que já trabalhou como administrador em todos os modelos brasileiros de administração portuária.
Como se diz na gíria, ele é o cara! Além disso, é um gentleman!

Mas vamos à entrevista.
De acordo com Gilberto Barreto, presidente do CAP do Porto de Imbituba, o Administrador do Porto, Jeziel Pamato, foi informado pela Secretaria de Portos que em fevereiro deverá ser dado início à dragagem do cais, para atingir a profundidade de 15 metros, possibilitando receber qualquer tipo de navio porta-contêineres que atualmente frequenta a costa brasileira.
O canal de acesso aos cais deverá ter profundidade maior, com 17 metros, pois quando com os navios estão navegando, a velocidade faz com que o casco afunde mais.

Foi-lhe perguntado quanto um navio costuma deixar de rendimentos à economia de Imbituba, por conta de suas operações no Porto. Gilberto citou como exemplo um navio com 50 mil toneladas de produto a granel, que permanece no cais por cerca de 4 dias. Nesse caso, deixaria aqui cerca de R$ 1,5 milhões de reais.

Já os navios de contêineres, embora permaneçam menos de um dia no porto, sua contribuição para a economia é considerável. Cada 1.000 contêineres/ano geram 50 postos de trabalho, incluindo desde empregados portuários até o comércio e hotelaria e a cadeia logística envolvida até o exportador/importador.

Questionado sobre tarifas portuárias, respondeu que o Porto de Imbituba opera com os mesmos valores de 1998 e são competitivas. Observou, porém, que tarifas baixas não garantem mais cargas, pois os serviços portuários prestados podem não ser de boa qualidade, afugentando os donos de cargas e de navios. Fez uma comparação com o preço das carnes. As melhores são as mais caras.
Ele sugere que os preços têm de ser justos, para se poder pagar salários também justos a caminhoneiros, trabalhadores portuários e todos que dão apoio e suporte à operacionalização dos serviços.
Ressaltou, contudo que são caros no Porto de Imbituba os serviços de praticagem e rebocadores porque a quantidade de manobras é pequena, devendo ser ajustados quando aumentar o número de navios no porto. Mas é importante que já se criem vantagens para os armadores, contribuindo com todo o esforço que tem sido feito para atrair os navios a Imbituba.

Com referência ao Porto de Imbituba e sua concessão, Gilberto disse que o governo federal ficou 8 anos sem fazer as "tomadas de contas" anuais, não fiscalizou. Ou seja, a falta de fiscalização não obrigou o porto a se modernizar e, consequentemente, a possibilitar um maior desenvolvimento à cidade que lhe abriga, o que somente começou a partir de 2004, quando a CDI retomou os processos de arrendamento. Isso, entretanto, não condena o modelo de gestão privada do patrimônio público, desde que o contrato de concessão seja bem fiscalizado.

Ainda a respeito do melhor modelo de administração, opinou contrariamente à municipalização e argumentou que dos 5 portos municipais existentes no Brasil, em 3 deles - incluindo um em SC - os gestores já foram presos pela Polícia Federal.
Ele disso que o nepotismo e a política partidária faz com que um porto (ou qualquer atividade produtiva) não funcione. Mesmo em outras áreas, como segurança, saúde e educação, se a gestão pública não for profissional os desmandos acontecem e a sociedade é quem paga a conta. Salientou, entretanto, que o governo deve exercer sua atividade fiscalizadora, pois o porto embora seja um empreendimento industrial, é propriedade da União e tem que ter sua função social e de agente de desenvolvimento, e isso só uma fiscalização efetiva dos governos e contratos bem feitos podem garantir

Gilberto acredita que não se poderá usar o "discurso porto" nas eleições municipais de 2012, porque até o governo federal já deverá ter decidido sobre a questão da concessão da Companhia Docas, que, em tese, acabaria em dezembro do próximo ano, definindo se ocorrerá a prorrogação pelos 46 meses que durou a encampação da Docas, na 2ª Guerra Mundial, ou se será feita nova licitação ou se será uma concessão ao Estado de Santa Catarina. Não tem nada definido, mas o governo federal já comunicou ao presidente do CAP que está cuidando do problema.

Entrando num tema social, Gilberto foi questionado sobre os ranchos de pesca existentes na Praia do Porto, os quais a empresa IEP pretende varrê-los de lá. Ele disse que quando chegou em Imbituba, em 1985, já haviam 12 ranchos. Instalou-se água e luz e seus proprietários tinham autorização de ocupação. E até 1993 eram apenas esses.
O radialista Manoel Martins corroborou suas informações e disse que há meio século já havia ranchos naquela praia. Gilberto esclareceu que esses a que Manoel Martins se referia são os da Rua Itagiba. O crescimento da Praia do Porto somente ocorreu quando o governo federal construiu o Cais da ICC, no final dos anos 70.

Gilberto informou que, por serem terrenos de marinha, a IEP conseguiu o direito de ocupar e usar a área para a construção de um terminal portuário de uso privativo, autorizado pela ANTAQ, cujo investimento, conforme divulgado no Diário Catarinense, em matéria de capa, no sábado, seria de R$ 560 milhões.

Gilberto entende que a IEP, nos anos anteriores, não fiscalizou e se permitiu que a área fosse ocupada indevidamente. Não seria lógico, agora, exigir que todos aqueles pescadores que se instalaram no local fossem retirados sem mais nem menos. Quanto aos demais ocupantes, são invasões a serem discutidas judicialmente.
Ele perguntou: "por que não investir no bairro e não constroem um porto pesqueiro?"
E continuo sugerindo que a IEP construísse uma nova base para esses pescadores, com infraestrutura, com escola, centro comunitário etc, além de preparar a mão-de-obra existente naquele bairro para as futuras atividades do novo Terminal.

A IEP, disse ele, com certeza já vem trabalhando nessas perspectivas, pois elas foram apresentados na Colônia dos Pescadores há alguns anos, quando o projeto do terminal foi iniciado. Seria muito bom que os espíritos se desarmassem e se chegasse à melhor solução para pescadores e IEP, o que seria muito bom para Imbituba.
Observou que a Praia do Porto é o melhor lugar do Sul do Brasil para se construir um porto, mas não é por isso que se pode permitir que construa qualquer porto em Imbituba, sem analisar as questões de impacto ambiental e social. Mas isso é conversa pra outras gerações, afirmou.

Ele explicou que a área da IEP não faz parte do porto organizado, nem da concessão do Porto de Imbituba; é um porto privado. E há que se verificar se haverá mercado para novos terminais ao lado do TECON, já que a IEP também pretende operar contêineres.

Quanto à rodovia portuária que se pretende que o governo federal construa para suportar o trânsito de caminhões que haverá em razão das atividades no Porto de Imbituba, Gilberto disse que a obra não exige muito dinheiro do governo federal, cerca de R$ 45 milhões, e é de extrema necessidade, já que na 1ª etapa do Tecon estima-se o transporte de aproximadamente 300 mil contêineres/ano. Informou que o prefeito José Roberto Martins está se empenhando junto ao governo federal para a execução dessa obra e a federalização do acesso rodoviário ao porto, o que garantiria recursos federais para sua manutenção futura. Além de suportar o tráfego do porto, a importância dessa rodovia é que ela vai eliminar todos os cruzamentos existentes, que passarão a ser feitos por vias elevadas, sem nenhuma interferência entre o tráfego do porto e o da cidade.

Após sua entrevista, postei no Twitter: Com suas ideias, que as conheci em boas conversas com ele, certamente seria um estadista como prefeito. Quem sabe um novo Henrique Lage! Sabe tudo de porto. Não à toa que sugeri seu nome pra prefeito de Imbituba (em 2008).

Mas afinal, leitor, que empresa é essa tal de IEP-Imbituba Empreendimentos e Participações S/A?
No início deste ano, entrevistei Maria Zilá de Souza Gil, presidente do OGMO de Imbituba, e perguntei se ela conhecia a empresa Zimba Operadora Portuária, que tinha sido adquirida pela Companhia Docas de Imbituba pelo valor de mail de R$ 100 milhões. Resposta dela: "Tive conhecimento através da mídia, porém desconheço se a mesma exerce atividades operacionais no Porto."

Mas o que tem em comum as duas empresas? Quer saber, leitor? Você não precisa conhecer nada de bolsa de valores, nem de contabilidade, nem sobre fusão de empresas ou de negócios empresariais e acionistas.
Acesse este link e saiba um pouco sobre as duas e o relacionamento empresarial delas com outras mais. As conclusões ficam por sua conta e risco (se não conseguir acessar o link, envie um email ou deixe um comentário, para que eu possa atualizá-lo).

(a última foto registra o desfile dos associados da AMPAP no Dia da Independência)

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