O remédio, o médico e o paciente
Há duas semanas, soube que a Anvisa, através de uma entrevista recente na TV, afirmou que todos os medicamentos que estão nas farmácias sofrem rigorosa fiscalização e passam por testes de eficácia. Contudo, parece que os médicos não pensam assim. Mas antes de entrarmos nesse tema, vamos ao Programa Farmácia Popular.
Chegou ao meu conhecimento que certos medicamentos que fazem parte do programa "farmácia popular", do governo federal, não são encontrados em alguns estabelecimentos de Imbituba. Ou melhor, até estão lá, mas não são vendidos quando o cliente pretende comprá-los através desse programa.
Para quem não sabe, o Programa Farmácia Popular foi implantado para atender doentes que sofrem de determinadas doenças. O medicamento é fornecido gratuitamente. O governo federal reembolsa a farmácia que fez a venda através do programa. Para vender através do programa é necessário que a farmácia interessada faça seu cadastro. E para que o cidadão possa adquirir seu remédio de forma gratuita, deverá apresentar CPF válido, comprovante de residência e receita médica prescrita há no máximo 4 meses.
Para mais detalhes, acesse o Portal da Saúde.
Ocorre, porém, que alguns valores de medicamentos não são reembolsados em sua integralidade. Ou seja, o proprietário da farmácia, por exemplo, compra certo medicamento por R$ 10,00 e é reembolsado pelo governo federal em valor inferior a esse. Daí a falta de alguns medicamentos, quando vendidos através do programa. Se for à vista, o medicamento estará na prateleira.
Junto com essas informações que recebi, explicaram-me que há três tipos de medicamentos: referencial, genérico e similar. O primeiro é sempre mais caro, fabricado por laboratório renomado. O segundo está sendo produzido até mesmo por laboratórios que fabricam o referencial, pois entraram no ramo dos genéricos para não perderem mercado. O terceiro pode ser mais barato até que o próprio genérico, pois produzido por laboratório pouco conhecido, mas devidamente autorizado pela Anvisa. Há grandes laboratórios, porém, que produzem o referencial e também alguns medicamentos similares, como Neo Química, Teuto e EMS, que são laboratórios bem conceituados.
Agora uma pergunta, leitor? Quantas vezes o médico disse a você que era pra comprar o remédio "x" e não "y", embora tivessem a mesma composição, a mesma dosagem?
O que se desconfia nessa atitude é que o médico recebe uma comissão do laboratório para prescrever determinado medicamento. Ou seja, você poderá pagar mais caro por um medicamento porque o "doutô" tem que receber sua comissão. E esse fato passa de mera desconfiança quando fiquei sabendo que representantes de laboratórios chegam nas farmácias e perguntam quais médicos estão vendendo esse ou aquele remédio.
Também soube que há profissionais em Imbituba que não prescrevem medicamento genérico e diz ao paciente para não comprá-lo.
Ora, se um laboratório como o EMS fabrica o mesmo remédio, referencial e genérico, por que o médico adverte seu paciente a não comprar esse último, se pode ser bem mais barato e fazer o mesmo efeito?
Voltemos à "farmácia popular". O programa é bom porque evita que o cidadão tenha de se dirigir ao SUS e, muitas vezes, ter de suplicar por um medicamento ou receber a informação que não há mais em estoque. E, às vezes, há!
Entretanto, o que ouvi foi o seguinte: "o farmácia popular é o SUS de gravata."
Por que isso? Porque o farmacêutico dará preferência a vender medicamentos similares, buscando melhores preços pra não perder dinheiro quando da venda via farmácia popular. E esses similares, em sua maioria, são fabricados por laboratórios pouco conhecidos, cuja eficácia medicamentosa pode ser colocada mesmo sob suspeita. E são justamente esses medicamentos que são disponibilizados via SUS, por serem mais baratos.
Ouvi de um farmacêutico que várias pessoas reclamam da ineficácia do medicamento captopril distribuído pelo SUS. "Eles vêm na farmácia e compram de laboratório diferente, e aí conseguem obter o efeito necessário contra a doença."
No Hospital São Camilo os medicamentos usados também, segundo me relataram, seriam os similares, prescritos até por médicos que, em seus consultórios particulares, exigem primeiramente os referenciais ou genéricos, mas nunca aqueles.
Vejam alguns exemplos de medicamentos:
-Tenoretic, usado contra a hipertensão, e o Atrovent, para tratamento de asma: o referencial é o dobro do preço do genérico;
-O famoso Rivotril: o de referência é 50% mais caro que o genérico;
-Monocordil, para cardíacos: mais de 45% de diferença entre um e outro;
-Cataflan, antiinflamatório: o de referência é 55% mais caro.
Quanto à eficácia dos medicamentos expostos nas prateleiras, essa é colocada sob suspeita a partir do momento que o médico escreve na receita que se o paciente não comprar determinado medicamento, dando preferência a um similar ou genérico, ele não se responsabilizará pelo tratamento (caso que me foi relatado).
Afinal, os medicamentos vendidos nas farmácias foram testados ou não? O que a Anvisa tem a dizer a respeito disso? Por que os médicos não prescrevem medicamentos genéricos em seus consultórios, mas prescrevem no hospital?
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