Ética

Por César de Oliveira

No final de 2009 completaremos 17 anos da destituição de Fernando Collor da Presidência da República. E, como nos anos anteriores, sem qualquer comemoração. Apenas um grande vazio, um silêncio ensurdecedor. E por razões óbvias: a população sente que não há nada para se comemorar. Afinal, Collor foi “demitido” em nome da ética na política e, hoje, quem pode afirmar que o Brasil se tornou ético?


Dizem que nosso Povo tem memória curta. Então, rememoremos: em meados de 1992 pipocaram em diversos meios de comunicação denúncias sobre o Governo Collor, envolvendo a figura sinistra de seu tesoureiro de campanha, Paulo César Farias. A imprensa – sempre ela - investiga e publica os resultados das apurações. Milhões de cidadãos e jovens (cara pintadas) saem às ruas protestando. Fazem-se comícios exigindo o impeachment, que nunca havia sido aplicado no Brasil. Em fim de setembro a Câmara dos Deputados vota o afastamento do Presidente, que no final do ano é julgado pelo Senado. Em pleno julgamento, Collor tenta renunciar mas o Senado o condena assim mesmo à perda do cargo. Vibração total: sim, uma política ética é possível.

Durante alguns meses o processo de "depuração" teve continuidade, sendo instaurados processos contra parlamentares acusados de corrupção. Aos poucos, o ímpeto das apurações foi arrefecendo e, hoje, apenas o jornalista Boris Casoy, de vez em quando, ao noticiar mais um caso de corrupção, diz que precisamos passar o Brasil a limpo. É uma voz solitária clamando no deserto.

Hoje, verificamos que a população perdeu a esperança – enorme – de que a política se tornasse transparente e voltada para os interesses do povo. Atualmente, o eleitorado pode aprovar tais e quais governantes, elegê-los ou reelegê-los com grande maioria, mas o respeito ético por eles é raro.

Uma grande massa de eleitores “vende” seu voto em troca de bens, dinheiro ou promessas de emprego, elegendo políticos descomprometidos com o bem-estar da população porque nada lhes deve, já que "pagou” pelos votos recebidos.

Assim, muitos cumprem a obrigação de votar apenas porque podem tirar proveito financeiro, para evitar pagar multa ou sofrer restrições legais. Mas, sem qualquer esperança de melhoria na representatividade política.

Outros, mais conscientes, procuram se informar sobre os candidatos, votando naqueles que se lhes afiguram menos ruins. Mas, também, desperançosos de que os eleitos atuarão, preferencialmente, na defesa dos interesses da sociedade.

Em outra oportunidade abordarei se existe responsabilidade coletiva pelas nossas mazelas políticas e sobre a “nossa” pequena falta de ética.

Pense a respeito: você já vendeu seu voto? Você vota consciente, sem nada receber em troca? Você lembra em quem votou nas últimas eleições para Prefeito e Vereador? Você acompanha as atividades do Executivo e Legislativo? Você participa de alguma comissão municipal? Se soubesse de algum ato corrupto você denunciaria o responsável às autoridades sem recorrer ao anonimato?

Um comentário:

  1. Caro César,
    Não me recordo muito a destituição de Collor. Em 1992, contava com apenas 6 anos. O que sei a respeito do processo que levou ao seu afastamento é produto de algumas horas estudando a respeito da temática.
    Acredito que Collor caiu em função de seu orgulho, prepotência e ingenuidade. Collor pensava que era Deus! E dada certa circunstância, carregava dentro de si todos os predicados que gravitam em torno do Criador: onipotência, onisciência, onipresença. Todavia, o mesmo se esqueceu que, por mais frágeis que sejam as instituições de uma República, nunca olvide de suas capacidades.

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