A Principal Tarefa do Líder

liderança nas empresas
Por Roberto Motta*

Você já teve um chefe ruim. Ele agredia e desmoralizava seus subordinados. Sua mera presença gerava desconforto. Se sua história é parecida com a minha, a presença desse chefe era justificada por sua capacidade técnica ou conhecimento do negócio. Líderes como esse são puro veneno.


Roberto Motta
A tarefa fundamental dos líderes é criar bons sentimentos nos seus liderados, afirma Daniel Goleman em seu livro Primal Leadership, um dos melhores sobre o assunto. Essa dimensão da liderança é quase sempre ignorada. Mas ela é determinante para o sucesso ou fracasso de todas as outras coisas que o líder faz.

Pesquisas da neurociência colocam a inteligência emocional do líder no primeiro plano, e demonstram o impacto concreto de tudo o que ele faz ou diz. Esse impacto acontece tanto em questões tangíveis, como resultados financeiros e retenção de talentos, quanto em intangíveis críticos como moral, motivação e comprometimento.

O líder sem inteligência emocional aliena, desmotiva e afasta os funcionários.

Emoções negativas como raiva crônica, ansiedade e sentimento de futilidade perturbam o trabalho e sequestram a atenção dos empregados. Nem sempre as pessoas estão conscientes da influência de suas próprias emoções. Goleman conta uma história exemplar:

Em uma cadeia internacional de hotéis, dentre todas as situações que colocavam os funcionários de mau humor, a mais frequente era falar com um gerente. As interações com chefes geravam sentimentos ruins – frustração, decepção, raiva, tristeza ou nojo – em nove de cada dez vezes. Essas situações causavam mais problemas do que resolver problemas dos hóspedes, lidar com pressões de trabalho, políticas da empresa ou problemas pessoais.

É claro que líderes não precisam ser excepcionalmente camaradas. A arte emocional da liderança significa apenas lidar com a realidade das demandas do trabalho sem aborrecer as pessoas à toa. Uma das leis mais antigas da psicologia afirma que aumento de ansiedade e preocupação acima de um nível moderado corroí as habilidades mentais. O clima da organização influencia fortemente os resultados: segundo Goleman, trinta por cento dos resultados de uma empresa podem ser explicados pelo clima organizacional.

Mas o que determina o clima organizacional? Goleman responde:

A maior parte do sentimento dos funcionários a respeito da organização pode ser comprovadamente ligada às ações de uma pessoa: o líder. Mais do que qualquer outro, ele cria as condições que determinam diretamente a habilidade das pessoas de trabalharem bem.

Capacidade intelectual é pré-requisito para trazer o indivíduo até uma posição de liderança – e aí se incluem a capacidade analítica e conceitual e clareza de raciocínio. Mas apenas a inteligência não faz um líder. Líderes ganham capacidade de executar uma visão motivando, guiando, inspirando, ouvindo e persuadindo seus seguidores.

Ou, como diz Goleman:

Apesar do grande valor que a cultura empresarial dá a um intelecto vazio de emoções, nossas emoções são, em um sentido real, mais poderosas que nosso intelecto. Em momentos de emergência nossos centros emocionais – o cérebro límbico – controla todo o resto da mente.
Existe uma boa razão para o poder das emoções. Elas são críticas para a sobrevivência, são a forma que o cérebro tem de nos alertar para algo urgente e nos oferecer um plano de ação imediata: lutar, fugir, imobilizar-se. O cérebro pensante evoluiu do cérebro límbico e continua a receber ordens deste quando percebe uma ameaça ou se encontra sob estresse.

É óbvio que liderança não é o único fator crítico para o sucesso das organizações. Como diz Jim Collins, autor de Good to Great, "toda a vez que atribuímos tudo à liderança, agimos da mesma forma que as pessoas do século XV. Estamos simplesmente admitindo nossa ignorância". Mas não resta dúvida sobre o papel central da liderança na determinação da cultura e do clima organizacional, e em última instância, dos resultados das empresas.

A tarefa principal do líder é motivar.

Todo o resto vem como consequência.

Referências:

ACHOR, S. The Happiness Advantage. Random House, 2010.
CLEGG, S.; KORNBERGER, M.; PITSIS, T. Managing and Organizations. Sage Publications, 2004.
COLLINS, J. Good to Great. HarperCollins, 2001.
GOLEMAN, D. Primal Leadership. Harvard Business School Press, 2002.

(*Roberto Motta é engenheiro, escritor, empresário e professor. Seus interesses são política, literatura, tecnologia, economia e tudo relacionado com o mar.)

Um comentário:

  1. Vou ter que ler mais vezes. Já fui um líder no passado, tanto como chefe e como representante de uma categoria funcional. No primeiro caso por sete anos e meio e no segundo por mais de 10 anos.Acredito que tenha desempenhado bem a função, pois minha substituição no primeiro caso causou muitos problemas.Esta substituição foi ocasionada por pedido meu que estava cansado de solucionar tantos problemas causados pelos subordinados. No segundo caso fui substituído por eleição, da qual participaram muitos colegas novos que vinham com idéias de mudanças, sem conhecer a realidade dos fatos. Esta troca ocasionou mudança radical em todo País, pois outros colegas também foram afastados. Hoje a categoria que eu representava está distribuída em diversos órgãos da administração federal e os que dela participavam e estão na ativa passam trabalho com a nova política adotada.Sei que minha vida parece nada ter com o foco deste blog, mas foi necessário colocá-la para mostrar que um líder pode ser colocado de lado com prejuízo para toda uma categoria. Pretendo então estudar a ação que os subordinados e representados podem representar nas decisões de uma liderança, que muitas vezes abandonam uma luta por cansaço inútil e sem retorno no caso de uma representação e com baixa remuneração que não compensa o desgaste físico e mental. Aos 77 anos e com uma disposição muito boa para viver nesta idade vejo que adotei medidas corretas , pois poderia hoje ser um estressado ou ter muitas sequelas emocionais. Se conseguir formal uma opinião a colocarei aqui.

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