O desinteresse pela política leva a oligarquias

"Ganhei do pai, vou ganhar do filho e podem mandar o neto!" Esta frase ficou famosa na campanha de 1992, quando Jerônimo Lopes (DEM), candidato a prefeito, fazia um comício no bairro Vila Nova Alvorada. Seu adversário era Osny de Souza Filho (PMDB). Em outra eleição para prefeito, em 1982, Jerônimo já havia vencido o pai de seu adversário. Três décadas se passaram. Quem são os atores da política local?

Fazer parte da política de Imbituba não é pra qualquer um. Isso é fato. Não é só uma questão de querer. É uma questão de poder, de ter oportunidade, de ter... dinheiro.
Todas as dificuldades que levam um simples cidadão a participar ativamente de uma sigla partidária faz com que evite participar da política. Sua filiação, ainda que seja por livre e espontânea vontade, não lhe garante qualquer voz dentro do partido. Isso o desestimula ainda mais. Com o vácuo deixado pelos cidadãos, o poder político acaba se concentrando nas mãos de quem tem o poder econômico. Essa relação de poderes, notadamente no município de Imbituba, foi alvo de um artigo de César de Oliveira, publicado neste blog (Poder Econômico x Poder Político).

Penso que não ter voz no cenário político é a maior exclusão social que pode ser imposta a um cidadão.
Mas como conseguir ser ouvido fora do período eleitoral? A própria condição social, a dependência econômica e a falta de conhecimento empurra o cidadão para uma posição de subserviência do poder político. Resumindo, tem medo de expressar sua opinião, de se opor, de combater, de exercer sua cidadania.

A tal democracia que se prega, a Constituição que diz que todos são iguais perante a lei, todos os discursos políticos que defendem a participação popular não passam de uma utopia. Não vamos nos enganar!
Dia desses postei no twitter uma frase do escritor francês Honoré de Balzac: "A igualdade pode ser um direito, mas não há poder sobre a Terra capaz de a tornar um fato." É verdade!

Por outro lado, leitores, temos de tomar essa utopia como norte. Não é porque ela se apresenta inatingível que devemos nos prostrar diante de nossas impotências. Acredito que eu já tenha escrito por aqui, mas vou falar novamente. Muitas utopias se tornaram realidade quando alguém acreditou que as ideias expostas não eram utópicas.

Quem não quer participar de nenhuma sigla partidária, deve pelo menos se envolver nos debates políticos, ouvir os argumentos, analisar candidatos, expor sua opinião.
Mas se for filiado, se houver um desejo de ser candidato, ponha seu nome. Se você não ocupar este espaço ou proporcionar que outros novos políticos o ocupem, verá sempre os mesmos nomes nas campanhas eleitorais, e muitos daqueles que nunca mereceram estar ocupando qualquer lugar no cenário político.

Recentemente foi anunciado o nome do filho de Osny Souza Filho a uma possível candidatura a vereador, assim como há comentários sobre a candidatura do filho de Jerônimo Lopes. Não sou contrário às candidaturas deles. É um direito deles. O que quero chamar a atenção dos leitores é que se critica as oligarquias de Imbituba, mas se permanece votando nelas. Isso resulta em pelo menos duas situações: ou se está contente com a política que vivenciamos há décadas ou o discurso contra o poder que está nas mãos de algumas famílias locais não passa de uma hipocrisia. Haveria uma terceira, que seria o fato de ser enganado ou de se deixar enganar para manter o status quo. Poderia-se enumerar outras situações, mas vou deixar que cada leitor pense a respeito.

A renovação que muitas vezes se exige com a alternância de partidos no poder não significa garantia de renovação, se este poder continuar sendo gerenciado pelas mesmas pessoas que já o detiveram. A alternância tem de ser mais abrangente. Tem de ter nomes novos, caras novas, e isso deve ser proporcionado pelos partidos e exigido pelo eleitor, quer indicando seu próprio nome, quer votando em outras pessoas que se apresentam com novas propostas, para ocupar os lugares de quem não está fazendo por merecer o voto que recebeu.

E não se trata de ocupar apenas cargos eletivos. As administrações têm de ser mais técnicas e menos políticas - mais uma utopia.
Há de se dar um basta em nomeações estritamente políticas, as quais consignam nomes que não possuem conhecimento ou condições para assumirem funções públicas, administrando precariamente os serviços prestados. Ainda que essas funções tenham uma menor importância dentro do governo.

Há muitos nomes na cidade que podem ser pinçados para ocupar cadeiras nas administrações municipais, mas são ignorados em decorrência de fatores político-partidários em detrimento à capacidade gerencial.
Evidentemente que não quero com isso dizer que todos os nomeados são incompetentes. Longe disso! Pretendo apenas expor a ferida que parece ser incurável.

Concluindo. Para que não vivenciemos outros comícios pedindo pra mandar o bisneto e o tataraneto, vamos participar mais dos assuntos políticos da cidade e aproveitar todas as oportunidades que temos para emitir nossa opinião. E se entender que não há nenhuma boa opção, vote naquela que imagine ser a menos ruim.
Mas se você não acredita que nada disso mudará e que sua voz nunca será ouvida, pergunto: por que está perdendo seu tempo lendo este blog?

9 comentários:

  1. Parabéns pela matéria! Concordo com você, realmente as pessoas precisam se interessar mais pelas coisas que envolvem o município. É muito fácil criticar, mas as pessoas costumam cruzar os braços e esperar que as coisas caim do céu. Cada cidadão precisa fazer a sua parte. Um abraço,

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  2. Pena,

    Excelente matéria.

    Acho que uma das saídas para esse estado de coisas poderia estar na adoção do voto distrital.

    No endereço "http://www.baraoemfoco.com.br/barao/politica/votodistrital.htm" encontra-se uma materia que cai como uma luva na complementação deste seu comentário. Vale a pena dar uma conferida, pois talvez seja uma luz no fim do tunel...que no caso, não seria um trem.

    Sds,

    Cândido.

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  3. José S. Neves.março 22, 2011

    De fato, a falta de interesse da sociedade leva às oligarquias!

    Mas não concordo que seja tão inalcansável para o cidadão comum, afinal de contas todo e qualquer cidadão pode disputar uma eleição para vereador, por exemplo, ainda que ele não tenha voz no partido. Situação diferente é quando a eleição é para chefe do executivo municipal, estadual ou federal, onde o voto é majotitário e ai realmente complica para o cidadão comum, mas se complica é porque ele não está preparado para a responsabilidade!

    A meu ver, a vereança é onde tudo deveria começar, ou mesmo antes, participando ativamente da comunidade a que pertence, por meio dos conselhos comunitários, instigando a população daquela comunidade a lutar pelo seus direitos, por suas necessidades, a colocar a boca no trombone quando vê uma coisa errada, tomando uma atitude concreta e não se limitando à omissão, que é o que acontece não so aqui em Imbituba, mas no Brasil.

    O que não dá é para o cidadão comum, que nunca discutiu política nem com um vizinho, da noite para o dia, resolver se lançar candidato. Assim corremos o risco de votarmos em lobo com pele de cordeiro. A arte da política é um dom, não empreguismo!

    Não faz muito tempo, em uma eleição para o município, fui em um comício, onde vi o candidato a vereador esbravejar aos quatro cantos que, se eleito, acabaria com o ICMS. Sim, ICMS, imposto de competência estatual, mas que o vereador prometeu que aniquilaria. Seria cômico se não fosse trágico! E essa última eleição para governador não foi muito diferente, com os mais anonimos candidatos, que concorriam ao legislativo nem eu sei o porque, pois sem qualquer prposta! Muitos ali, pelo que vi da "ficha" eram funcionários públicos desincompatibilizados para concorrer ao cargo eletivo, ou seja, um jeitinho bem brasileiro de ser para não trabalhar! Mas cada caso é um caso! Eu não voto às cegas, pesquiso o candidato, gosto de saber o que ele pode trazer de bom para a minha cidade, estado ou país.

    Qual o moral da história? Exercer a política ativamente é um dom e quem tem esse dom, tem uma liderança, ainda que não agrade aos gregos e troianos simultaneamente! O cidadão já se sobressai automaticamente com as pessoas daquela localidade em que ele vive, fomentando a discussão, opinando, pedindo opinião. E a consequencia de tudo isso é a voz que ele passa a ter. Pode até não vencer uma eleição, mas passa a ser conhecido pelas suas atitudes, ou alguém deixaria de votar no vizinho que faz parte do conselho comunitário e vai na prefeitura brigar pelo calçamento, esgoto, etc? Acredito que não!

    Nesse aspecto, acredito que é muito pertinente a colocação do Cândido, quanto ao voto distrital, facilitaria demais ao cidadão que age ativamente em detrminada região, mas que nada conhece de outra, as vezes mais populosa e, por isso, nao alcança os votos necessários para o exercício da política. E talvez lá se vá um grande líder, uma grande esperança.

    O que o cidadão tem que saber é que ele tem que estar apto ao exercício da função política, não bastam as boas intenções, ele tem que saber, ter propostas, objetivos. Caso contrário, é puro empreguismo!

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  4. Pena,

    Muito bom sua matéria! Parabenizo por conseguir colocar neste texto a real situação da política de Imbituba, onde vemos filhos e sobrinhos serem criados/treinados para assumirem os lugares de seus pais e tios, com o principal intuito de se manter no poder, sem nunca pensar no bem maior, o município. Quando teremos em Imbituba jovens realmente com vontade de mudar tudo isso que temos hoje em Imbituba? Sangue novo, visão nova, jovens com vontade, fibra e dedicação para trabalhar única e exclusivamente para o povo de Imbituba! Opções íntegras, sinceras e corretas para Imbituba.
    Será que teremos jovens assim já na próxima eleição? Ou novamente preponderá a Oligarquia no nosso município?
    Aguardamos novidades para 2012.

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  5. Cândido, eu também sou a favor do voto distrital, que tem chance de ser aprovado. Não creio, porém, que seja estendido aos candidatos a vereadores.

    José, a mudança na Lei Eleitoral, graças a Deus, limitou o número de candidatos. Mas se por um lado foi bom, por outro formou um gargalo onde só passa quem tem voz dento do partido. Logo, o cidadão comum a que me refiro não tem muita chance de ser indicado. Evidentemente que concordo com você quando a questão é não só querer, mas estar apto. Só que aí vamos ter de discutir muito o que é estar apto para a política.
    E o cidadão está apto para votar? Mais uma discussão. Mas já contrario sua quase certeza: o vizinho vota, sim, em outro candidato, deixando de votar, por motivos diversos e até esdrúxulos, em quem luta pela sua comunidade.

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  6. Pena,

    Esta situação terá que sofrer uma mudança radical, sem meios termos, do tipo 8 ou 80. Se for diferente disso tem tudo para dar errado.

    Conclusão: Se for algo no meio deste intervalo poderá resultar em alguma coisa definida por aquele famoso ditado de diz: "Continuará tudo como dantes no quartel de Abrantes".

    Sds,

    Candido.

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  7. Nó no Nóabril 15, 2011

    Candido e Pena sou contra o voto distrital por vários motivos, e exemplifico um dos motivos. Caso o voto distrital seja aprovado no Brasil, o município de Imbituba será dividido em distritos eleitorais. Imaginemos que cada distrito terá direito a uma vaga na Câmara de Vereadores. Pelo que conhecemos da política local, adivinha quem será eleito em cada distrito eleitoral. Vencerá o mais forte, o todo poderoso do distrito, que geralmente faz parte do partido do Prefeito, da situação. Um pesquisa realizada pelo IBOPE/AMB em 2010, constatou que 43% dos entrevistados afirmaram conhecer pessoas que votaram em troca de benefícios pessoais, sendo assim, o voto distrital é o sistema perfeito para a compra de votos, prática comum no município. Os eleitos nos distritos tornam-se cada vez mais fortes, e os opositores ficam sem chances de disputar uma vaga na câmara, sem condição nenhuma de concorrer com o poder dos eleitos. O sistema no Brasil tem que mudar, o problema é descobrir qual o ideal. Essa é a minha opinião.

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  8. Nó no Nó,

    É meu entendimento que a solução de nossas mazelas e distorções políticas estaria na educação política de nossas crianças e na reeducação política de nossos adolescentes, jovens e adultos.

    Vejo aí um processo que demandaria, se vier acontecer, no no mínimo uma geração. Enquanto isso não acontece, temos que ir improvisando e tudo vai rolando na base de quem pode mais chora menos.

    Infelizmente é assim que a coisa funciona.

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  9. O conteúdo dos comentários me fez lembrar o pensamento de Robert Michels. Analisando as características do velho PSD(partido social-democrata alemão), o pensador chega a ideia da lei de ferro da oligarquia: quem diz organização diz necessariamente oligarquia. A lei de ferro da oligarquia foi mencionada em 1911 para acenar o risco provável a qualquer partido político de que os eleitos tomem o lugar dos eleitores e a estrutura administração da organização ganhe vida própria, tornando-se um fim em si mesma.
    Na mesma linha de raciocínio, o historiador Hobsbawn propugna a ideia que a deficiência ou ausência de uma estrutura organizada e de líderanças claramente definidas, o poder da mobilização das massas é irrisório. Partindo desta compreensão e na esteira da tradição marxista, Hobsbawn reconhece a importância da mobilização popular, mas acredita que trata-se de uma condição necessária, mas longe de ser suficiente para promover mudanças sociais significativas.
    Com base ao que foi exposto, reitero as palavras do editor deste blog: o desinteresse pela política leva as oligarquias, mesmo acreditando que o desinteresse é apenas uma das causas que somadas a desorganização acarretam na formação de oligarquias. Então, mais do que voto distrital, orçamento participativo é necessário a construção de uma sociedade civil forte e organizada em seus interesses. O que conforme já foi dito demandaria investimento em educação política que, evidentemente, vai mitigar a situação sem contudo resolvê-la.
    Henrique.

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