'Ranking dos partidos mais corruptos do Brasil' - verdade ou lenda da internet?

Há muito tempo vem sendo divulgada na internet, principalmente nas redes sociais, dados estatísticos denominados "Ranking da Corrupção no Brasil". Para dar veracidade aos dados, os divulgadores afirmam que tal ranking foi divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Está aí mais uma daquelas notícias compartilhadas por internautas que não pretendem perder tempo em verificar a fonte. Simplesmente vão clicando em "compartilhar", quando não caem na tentação de escrever alguma besteira, como se autenticassem a notícia.

Vamos ver até onde essa lista é confiável.

Primeiramente, trago uma nota do Tribunal Superior Eleitoral, datada de julho de 2013:

"Nota de esclarecimento

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publica, no Diário de Justiça e no sítio de seu domínio, os julgamentos proferidos em observância aos princípios constitucionais da publicidade, para garantia da transparência dos atos administrativos praticados.

O Tribunal Superior Eleitoral não produz estatísticas sobre condenações de políticos ou de partidos políticos. Eventuais dados estatísticos veiculados na internet proclamando basear-se em lista do Tribunal Superior Eleitoral não emanam deste órgão, não são de sua responsabilidade, nem têm o seu respaldo, até mesmo porque não se tem notícia dos critérios e da metodologia aplicada em cada caso." (link da nota)

Pode-se comprovar, portanto, que o ranking não foi elaborado pelo TSE.

Mas de onde saiu isso? De um trabalho de doutorado produzido pelo Juiz Márlon Jacinto Reis, que foi citado em um documento publicado pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, de onde extraí alguns trechos:

"Não existe no âmbito da Justiça Eleitoral um sistema de acompanhamento estatístico. Assim, a pesquisa foi realizada pelo juiz Márlon Reis, que desenvolve atualmente tese de doutorado sobre o tema na Universidade de Zaragoza, Espanha. Também presidente da Associação Brasileira de Magistrados, Procuradores e Promotores Eleitorais (ABRAMPPE) e integrante do Comitê Nacional do MCCE.

A pesquisa foi feita a partir dos dados processuais de cada caso, com base nas informações disponíveis nos sites dos Tribunais Regionais Eleitorais (TRE’s) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Algumas informações foram obtidas através de consulta direta aos tribunais e zonas eleitorais. Muitas vezes, notícias veiculadas na imprensa permitiram a descoberta da cassação. Nestes casos, a informação foi checada à luz dos da dos da Justiça Eleitoral.

Vários dos processos mencionados ainda se encontram em andamento. Portanto, alguma decisão pode ter sido revertida.
(Os dados foram atualizados em 07/09/2007)"

Outras informações importantes sobre o ranking que consta no mesmo documento:

"Ranking dos partidos
Os atingidos pelas medidas estão distribuídos por 21 diferentes partidos políticos. No caso das eleições majoritárias (para o Executivo e para o Senado), foram considerados apenas os partidos políticos dos “cabeças de chapa”, ou seja, não houve menção aos partidos dos vices e suplentes."

"Processos em andamento (Eleições 2006)
Segundo dados fornecidos pela Corregedoria Geral Eleitoral, que remeteu consulta nesse sentido a todos os tribunais regionais eleitorais por solicitação do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, ainda tramitam na JE 1.100 processos relativos às eleições de 2006. Todos eles podem levar à cassação de mandatos. Isso significa que os números dos atingidos nas últimas eleições ainda deverão aumentar consideravelmente.

Como se pode verificar, o tal ranking pode ter sofrido, desde 2007, grandes mudanças na ordem das posições ocupadas pelos partidos, não só pelos "1.100 processos relativos às eleições de 2006", como também pelos processos que foram ajuizados nas eleições de 2008, 2010 e 2012. Ainda, conforme consta no documento divulgado, vários políticos podem ter conseguido absolvições nos tribunais ou mesmo no TSE, nos processos entre 2004 e 2006, alterando para menor os números apontados no quadro.

É de se frisar que não foram computados os políticos cassados em razão de processos criminais, mas, somente, no âmbito da Justiça Eleitoral.

Bem, diante da metodologia utilizada, e tendo em vista que dados foram adicionados à lista a partir de "notícias veiculadas na imprensa", é possível levar a uma conclusão de que o ranking não é fidedigno. Logo, ele serve apenas como um indicativo da corrupção no país, não expressando com fidelidade, infelizmente, qual é o partido que possui mais corruptos cassados. 

De qualquer forma, ainda que se considerasse a lista como se fosse atualizada até nossos dias, e se incluíssem nela TODOS os processos judiciais, não consigo compreender o ufanismo de alguns internautas ao defenderem seus partidos que constam na relação, apontando para outros que estão em situação pior na tabela.
Há um confronto explícito entre filiados e simpatizantes dos partidos PT e PSDB, por conta da oposição que fazem entre si no cenário nacional, ignorando-se o *DEM, primeiro colocado na tabela e aliado do PSDB; e o PMDB, segundo colocado e aliado ao PT no âmbito federal.

Creio que todos deveriam se envergonhar por conta disso, sem querer apontar para o outro, como se isso diminuíssem seus pecados. Ora, devemos criticar os partidos que mantém corruptos em suas fileiras, e não ficarmos defendendo-os porque somos filiados ou simpatizantes dos partidos em que eles estão incluídos. Levantar o dedo e a voz para criticar o que há de ruim no partido dos outros, quando o tema é corrupção, é querer defender a corrupção praticada por membros de seu partido. É se tornar tão corrupto quanto os que são. Parece que a intenção é extirpar da política apenas os corruptos que estão no(s) partido(s) adversário(s). É querer tapar o sol com a peneira.

Os filiados e simpatizantes deveriam cobrar de seus partidos uma postura íntegra, solicitando que expulsem das agremiações todos os que foram condenados por corrupção, de forma a purificar as siglas; separar o joio do trigo.
De nada adianta o Judiciário condenar um corrupto, se o partido ao qual ele é filiado permite que permaneça em seu seio, alimentando-se do poder ou maculando a imagem da sigla, de seus filiados e demais políticos.

Para mim, não passa de insensatez discutir qual o mais corrupto, tendo em vista que enquanto pretendem provar isso, em vez de censurar a todos, os políticos cassados continuam fazendo parte do processo eleitoral, quer como candidatos, quer como cabos eleitorais importantes.

E enquanto internautas defendem siglas e suas podridões, sem censurar as mazelas, os corruptos - cassados ou não - fazem a festa com o dinheiro público.

Compartilhamento de informações

Leitor, fico muito preocupado quando internautas compartilham informações sem verificarem a fonte. Não passam de uma comunidade de macacos de laboratório que repetem o que veem ou sentem. Como podem reclamar ao serem enganados por maus políticos, se eles mesmos contribuem com essa enganação ao compartilharem notícias falsas ou que não expressam toda a verdade?

Todas as explicações sobre o ranking estão disponibilizadas neste link, com a lista dos partidos envolvidos.
Para aqueles que fazem parte dos partidos que estão nas últimas posições, não fique tão feliz. Os partidos do fim da lista são os menores em número de políticos com cargo eletivo. Logo, proporcionalmente, podem ser tão corruptos quanto os que estão no topo.

*DEM-Partido Democrata perdeu boa parte de seus filiados em 2011, quando foi fundado o PSD. Não consegui entender, portanto, por que o PSD consta no ranking produzido a partir de processos que tramitavam entre os anos 2000 e 2006.

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