Esportes nas escolas: a falta de investimentos no Brasil

O rico país chamado Brasil, uma das maiores economias do mundo, sempre ocupa singelas posições nas Olimpíadas, demonstrando a falta de estrutura e de investimentos nos esportes. É inconcebível esse descompasso entre país rico e esporte pobre. E é incompreensível que a modalidade que mais rendeu medalhas de ouro ao Brasil é justamente a que exige maior investimento: a vela (6 medalhas).
Somente a partir da Olimpíada de 1996, em Atlanta, que o país passou a apresentar dois dígitos no quadro de medalhas (Atlanta/1996 - 15; Sidney/2000 - 12; Atenas/2004 - 10; Pequim/2008 - 15).
O vôlei é o segundo esporte que mais conquistou medalhas de ouro (5), enquanto o atletismo está na 3ª colocação, com 4 medalhas.

Leitores, esses dados são apenas um prefácio desta postagem. Quero falar dos Jogos Estudantis de Imbituba, o Jeimb, que neste ano se realiza a sua 27ª edição. Embora com quase três décadas de vida, o Jeimb não passa de uma das comemorações do aniversário do município e não um evento esportivo com nível técnico.

Na manhã do último domingo, numa cerimônia pra lá de simplória, a corrida por algumas ruas da cidade deu início ao Jeimb. Nem os pais dos alunos marcaram presença no evento.
Cerca de uma centena de estudantes do Ensino Fundamental desafiaram seu fôlego na modalidade, num percurso de 3 quilômetros!
Por todo trajeto apenas poucos moradores assistiram das janelas o esforço de cada participante.

Assisti ao início e ao final da prova. Crianças e adolescentes, a passadas largas como se fossem os últimos metros, sem qualquer preparo físico ou técnico corriam desesperadamente na esperança de conseguir uma medalha para sua escola.
Durante o ano, nenhuma atividade de atletismo é realizada nas escolas do município, sejam elas públicas ou privadas. Não há treinos. Ou se brinca de vôlei ou de futebol ou de queimada ou de pegar a bandeira ou não se faz nada.

Gabriel Garcia, o nosso recordista mundial de maratona de 42 km, na categoria entre 59 e 64 anos, participou da prova e acompanhou incentivando um dos últimos colocados até a chegada em frente ao Imbituba Atlético Clube.
Falei com Gabriel sobre o percurso de 3km e ele me disse que essa distância era muito longa para crianças e adolescentes que não são preparados para percorrê-la.
E estava certo ele. Vários participantes passaram mal e tiveram de ser atendidos pela equipe de socorristas de plantão no local.

Segundo Gabriel, o próprio desconhecimento de uma alimentação correta necessária antes da prova pode levar à exaustão em uma prova de 3km.

Assim como a corrida, as inúmeras modalidades que compõem o Jeimb não têm qualquer preparação técnica durante todo o ano letivo. As aulas de educação física não passam de uma mera pausa durante as demais disciplinas. Não se pode dizer que a culpa é da escola ou dos professores de educação física. A culpa é do sistema educacional. Uma mudança radical deve ser feita.

Enquanto países desenvolvidos investem no esporte, desde os primeiros anos escolares, o Brasil ignora qualquer investimento nessa área.
Restam alguns destemidos como Gabriel Garcia, que com muita dedicação e poucos recursos, conseguem feitos esplêndidos.

Neste ano, Gabriel viajará para os Estados Unidos para tentar o título mundial de maratona de 42km, na categoria entre 65 e 69 anos de idade. Espero que ele consiga patrocinadores para seu novo desafio.
Não entendo, porém, porque nunca se exaltou com o devido merecimento os esforços desse atleta. Para outras pessoas, geralmente políticos, a imprensa e o próprio Poder Público, rendem homenagens pomposas por qualquer coisa que façam. Quase sempre pagas com dinheiro público. E o povo aplaude!

Espero que um dia o Jeimb seja visto como um celeiro de bons atletas, e que muitos alunos se consagrem em algumas modalidades esportivas, levando o nome de Imbituba pelo Brasil afora.
Enquanto isso não acontece, desejo que eles acreditem na força que possuem para levá-los a um futuro melhor.

3 comentários:

  1. Se me lembro participei do Jeimb em 1994 e 1995. Primeiro pela escola do bairro Guaiúba, posteriormente pela Coopeimb. Joguei vôlei em ambos os casos. Os professores de educação física costumavam marcar 1-2 dias por semana - em horários fora da aula - para os alunos jogarem por 1-2 horas. Assim era o treino.

    De todo modo, é como disseste "As aulas de educação física não passam de uma mera pausa durante as demais disciplinas." Eu que costumava matar aula para jogar vòlei, tinha capacidade de ficar entre 8 da manhã até 5 da tarde jogando no Annes Gualberto. E observava muitos alunos que mal aguentavam jogar 40 minutos. Imagina então correr 3km... Em todo caso, foi assim que na época me tornei melhor jogador do que quando participei no Jeimb. Pois assim como é preciso esforço para aprender geografia, história e outras matérias escolares, a prática de determinado esporte requer esforço constante para despertar o potencial latente.

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  2. Prinesca, o ideal seria essas aulas de educação física em período diverso das demais disciplinas. Isso evitaria alunos suados, cansados e desmotivados em sala de aula, nos horários das outras disciplinas. Acredito que isso pode ser feito, bastando apenas um planejamento educacional.
    Nos meus tempos de Annes Gualberto, com aulas ministradas pelo professor Nilso Pereira, as aulas eram treinos, pois havia os campeonatos internos de esportes de quadra. O problema é que voltávamos estafados para a sala.
    Quando falei com Gabriel Garcia, ele sugeriu que houvesse mais competições durante o ano, para que houvesse mais treinamento.
    Penso que a secretaria poderia fazer campeonatos internos nas escolas, como preparativos para o Jeimb.

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  3. Parabens pelo seu artigo/comentário. Eu estava presente ao evento e presenciei pessoalmente a tudo que voce está relatando.

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