Por César de Oliveira
Atribui-se ao falecido Ulisses Guimarães a frase de que o poder é afrodisíaco. Como nunca fui político, nem exerci o poder, não posso confirmar tal assertiva.
Não obstante, ouso afirmar que o poder cega. Lendo artigo de J. R. Guzzo – "Em modo extremo" – publicado na Revista Veja nº 2.160, de 14 de abril último, relembrei conversa que mantive com um politico que, posteriormente, veio a se eleger.
Disse-lhe, na oportunidade, aproximadamente, o que J. R. Guzzo fala do Presidente Lula, cujos excertos abaixo transcrevo:
“Não existe uma única alma, ali [nas esferas mais altas do governo], capaz de admitir que possa haver algum erro, mesmo de pequeno porte, em qualquer coisa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva diga, faça ou pense. O resultado é que Lula não corrige nenhum dos erros que comete, pois acabou convencido de que não erra nunca.
[...]
Como poderia ser diferente, quando as pessoas com quem Lula fala e convive diariamente estão dispostas a tudo para deixar claro, claríssimo, que ele tem sempre razão, seja lá no que for?
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Fica ainda mais convencido disso, naturalmente, quando é chamado por seus ministros e principais mandarins de ‘Nosso Mestre’, ‘Nosso Guia’ ou ‘Nossa Luz’, e passa o dia inteiro cercado de gente cuja grande preocupação na vida é dar um jeito de dizer só o que ele quer ouvir. Ou então não dizer, de jeito nenhum, o que ele não quer ouvir.
[...]
É óbvio que não se pode esperar nada muito diferente disso: a Presidência da República, aqui ou em qualquer lugar do mundo, é um ecossistema voltado para a sobrevivência dos mais aptos a bajular, obedecer e dissimular o que pensam.
[...]
Na verdade, a história se repete em qualquer lugar, público ou privado, onde alguém manda. O máximo que se consegue nesses ambientes, em matéria de crítica, são comentários do tipo: ‘O grande defeito do chefe é que ele trabalha demais’. Ou é perfeccionista demais, sincero demais, confia demais nas pessoas, e por aí afora”.
Devo acrescentar, ainda, que a bajulação em grau extremo leva à intolerância com relação a quaisquer críticas feitas ou à omissão do elogio em qualquer ato ou solenidade.
Por fim, destaco que não possuo elementos suficientes para julgar se o político ouviu minhas ponderações. Às vezes acredito que sim; outras não.
Dr. César, poder é poder, não importa se através da política, mídia ou outra forma. Pessoas frágeis sucumbem logo aos seus caprichos. Isso me lembra a estória da mosca azul, de Machado De Assis.
ResponderExcluirQuando atuei na mídia em nossa cidade pude ver muito disso, e graças a Deus, ou seja lá a quem for, consegui me esquivar dessas tentações. Também vi pessoas de menor importância terem seus egos inflados por causa de um microfone e um espaço numa rádio, e vi essa mesma pessoa ser processada por plágio, mostrando com isso sua incapacidade de gerenciar sua vida diante desse poder. É assim, e infelizmente sempre será.
Alisson Raniere Berkenbrock
"Caro Alisson, obrigado por sua participação, enriquecedora. Efetivamente, a questão do poder e seu exercício de forma arbitrária e abusiva ultrapassa a esfera política."
ResponderExcluirCésar de Oliveira