Publicado no jornal

Mais um Natal!
E mais um Natal se aproxima, embora aquele espírito que envolvia essa data já não seja mais o mesmo. Consumismo em alta, confraternização em baixa. Que saudades de meus tempos de criança! Naquela época, havia muita confraternização. Famílias, amigos, parentes. Algumas inimizades tinham fim. Todos à mesma mesa. Alegria e festa. Nas árvores natalinas, qualquer presente era motivo de felicidade. Hoje, tudo mudou. São poucas as famílias que se reúnem. Presentes têm de ser caros, senão não tem graça. Que saudades de minha infância! Que saudades daqueles natais!

Mas o tempo passa. Nós passamos. Os sonhos de criança vão se perdendo pelos anos de realidade. E aquela famosa frase infantil “quando eu crescer eu quero ser...” vai dando lugar às frustrações de não conquistar o que parecia tão fácil ser conquistado.

Os sonhos eram criados em nossas mentes que não conheciam os obstáculos e as dificuldades do mundo adulto. E mesmo que alguém nos dissesse quão difícil seria galgar cada degrau do sucesso, nada nos acordaria de nossos sonhos. E até os sonhos da adolescência já se foram. E esses até pareciam mais fáceis de ser conquistados, porque já podíamos sentir na pele a aproximação da maturidade. Ser adulto — pensávamos — seria ter liberdade total. Mais um engano. Na ilusória crença de que sabíamos tudo da vida, lamentávamos por não ter a liberdade completa. Pobres adolescentes!

Quando nos tornamos adultos é que enxergamos que a liberdade esteve em nossas mãos quando éramos crianças e foi se esvaindo por entre os dedos quando preferimos ser adultos. Quão grande era minha liberdade nos tempos que corria atrás de uma bola. Quando o tempo passava lentamente. Quando a escola era um teatro de alegria e eu era um dos atores. Quando o aniversário era esperado com grande expectativa, mesmo sabendo que não haveria festa. Quando meus dedos não eram suficientes para contar o número de amigos que eu possuía, os quais sonhavam como eu. Quando uma bronca ou surra, embora fosse dolorida, nada mais era que o desespero de meus pais em querer me ensinar o caminho das virtudes. Quando a comida que se colocava à mesa não era, muitas vezes, a que eu gostaria de comer, mas eu queria ingeri-la o mais rápido possível, pois meus amigos logo estariam no portão para brincarmos. Quando imaginava, sentado sobre os galhos da goiabeira, que eram eles que se mexiam para criar o vento. Quando as bolhas de sabão coloridas eram a mais linda mágica que uma criança podia fazer. Quando eu deitava sobre o telhado e ficava olhando as nuvens desenhando figuras no céu. Quando eu não entendia por que as lágrimas eram salgadas, mesmo quando chorava de alegria. Quando podia deitar no colo de meus pais. Quando aguardava ansiosamente e ajudava a montar nossa pequena árvore de Natal, ainda que os presentes que receberia não seriam aqueles que pedi a Papai Noel. Quando eu tinha tempo — muito tempo — para sonhar.

Leitora, leitor, quais sonhos de criança ainda trazem em suas lembranças? Ou a vida adulta já apagou qualquer vestígio de sua infância? Quantas lágrimas deixamos escorrer na noite de Natal? Ou você é mais um daqueles que têm vergonha de se emocionar nos momentos alegres? Ou você é mais um daqueles que ignora o Natal para não ter que chorar de emoção?

Leitora, leitor, seja qual for seu sentimento pelo Natal, desejo que o bom Deus do universo faça com que renasça em nós um pouco da sensibilidade e da felicidade da criança que fomos. Aquela que sorria e que sonhava, sem perceber a triste existência de um mundo que não sonha. Feliz Natal!

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