Será que discutir este assunto é relevante? Pode ser que não. Mas levando em conta toda a baboseira que se discute com vigor nas redes sociais, acredito que o que vou apresentar aqui é muito importante para ser debatido.
Na semana passada, através do programa de rádio de Fernando Paraíba, um turista de Florianópolis reclamava que o chuveiro do Canto da Praia da Vila não estava funcionando. Na minha opinião, a reclamação não é pertinente. Primeiro, porque ainda não estamos na temporada de verão. Segundo, porque diante de tanta beleza natural no local, uma das praias mais belas do País, o indivíduo vem reclamar do chuveiro que não funciona. Ele veio até Imbituba para tomar banho de mar ou de chuveiro?
Mas vamos aprofundar o debate e torná-lo mais relevante à discussão.
Em tempo que se fala tanto em crise hídrica no Brasil, apesar de possuir 12% da água doce do mundo, existe bom senso em instalar chuveiros nas praias, para que as pessoas tomem banho gastando água livremente e de "graça"?
Em razão da falta de água nas grandes e pequenas cidades do País, especialistas apareceram em jornais, rádios e televisões para apontarem os problemas de infraestrutura, a falta de investimentos, o desperdício na distribuição e as
possíveis soluções, como estações de reúso e, é claro, redução do consumo e desperdício pelo consumidor.
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Marketing de fabricante de refrigerantes em praias europeias e brasileiras |
Num debate ideológico, os políticos e simpatizantes da esquerda defendem a estatização do serviço de tratamento e fornecimento de água. Aqueles que defendem menos Estado, defendem a privatização do sistema. De qualquer forma, nos dois casos, estatal ou privado, é preciso recurso financeiro para isso. Nos dois casos, estatal ou privado, não existe água de graça.
É sabido que muitas cidades no Brasil não cobram pelo fornecimento de água. Ou simplesmente cobram taxas fixas, independentemente de quanto se gasta.
Lamentável saber que o Brasil tem um desperdício de 37% de água no sistema de distribuição, enquanto na Alemanha é 7% e no Japão apenas 3%.
Saiba quais os estados que mais consomem água per capita
Mas por que se acredita que se pode ter chuveiros nas praias, à vontade, de graça, para que as pessoas possam se lavar e "tirar o sal do corpo" ou a "areia dos pés" para entrarem em seus carros?
Por que se ignora a crise hídrica, que deixa milhões sem água para tomar banho em suas casas ou até mesmo para cozinhar, e se defende a chuveirada na praia? O turista exige chuveiro na praia, mas essa água poderá faltar no hotel que ele estiver hospedado. Por que não se pensa em cobrar pela água usada para o banho após o lazer na areia? Aliás, é bom que se frise, que de graça não há nada! Mas no caso de cidade praiana, quem arca com os custos são os moradores e não os turistas.
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Praia de Guarapari-ES. R$ 1,00 para usar por 30 segundos. |
Quais as alternativas para manter os chuveiros nas praias? Na minha opinião, cobrando-se pelo uso individual ou privatizando o serviço, de modo que o dinheiro arrecadado pudesse ser utilizado em investimentos no sistema de água e esgoto. E por falar em esgoto, talvez seja mais útil colocar banheiros que chuveiros à disposição dos banhistas.
Na cidade de
Santos-SP a discussão sobre a cobrança para usar o chuveiro já começou, em razão da falta de água. Lá ainda se não cobra pelos chuveiros nas praias, mas já foram adotadas várias medidas interessantes para diminuir o consumo. E uma delas, de baixo custo, é a instalação dos chamados lava-pés, pois muitos banhistas não precisam lavar todo o corpo ou, por conscientização e responsabilidade social, apenas lavam os pés. E mesmo nesses equipamentos a prefeitura de Santos limitou o tempo de uso em quinze segundos por pessoa (os chuveiros e lava-pés são eletrônicos e desligam automaticamente).
Câmara aprova requerimento pedindo que Bal Camboriú desligue os chuveiros da praia
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praia na França |
Mas uma forma interessante de privatizar o serviço sem custos aos banhistas e ainda render arrecadação ao município é licitar espaço para publicidades com instalação de chuveiros.
A campanha de marketing que a Havaianas vem fazendo nas mais badaladas
praias do mundo e do
Brasil é um bom exemplo de privatização. Isso demonstra que há opções sensatas para solucionar ou minimizar o problema de consumo de água nas praias. O que não se pode mais é gastar como se não houvesse o risco de acabar a água.
Não podemos defender ideias em favor do meio ambiente só quando nos convém ou quando não nos atinge ou não nos exige responsabilidade.
Sou contra.
ResponderExcluirÓtima publicação. Eu não tinha opinião formada sobre o assunto, mas diante de tudo que li e que foi muito bem exposto penso que é um agrado que da mais prejuízo do que beneficio, o melhor mesmo é instalar uma torneira com sistema automático de desligamento (não sei se existe e se funcionária neste caso, em banheiros eu já vi) para tirar a areia dos pés. Obrigada por compartilhar informações e conhecimentos. Parabéns!
ResponderExcluirGislaine, embaixo de uma das imagens há a informação de que se paga R$ 1,00 por 30 segundos. São chuveiros que desligam automaticamente. Em praias de Santos, por exemplo, é usado o mesmo sistema, embora de graça, e pelo tempo de 15 segundos.
ExcluirCompartilhar informações relevantes e verídicas sempre meu compromisso neste blog. Eu hesitei em publicar sobre este tema, pois acreditava que não teria interesse dos leitores. Eu estava enganado. Obrigado!
Sou de acordo com o sistema usado em Santos: 15".
ResponderExcluirMas o que observo nas minhas viagens ao Brasil, geralmente no verao, é que, principalmente nas cidades do interior, as pessoas lavam as calcadas diariamente e nem mesmo fecham as torneiras onde as mangueiras ficam ligadas. Andam de um lado pro outro, arrumando isso e aquilo e a água jorrando. Incrível!
Aqui na Alemanha nao há ralos (no chao) para escoar águar nem na cozinha, nem nos banheiros, nem na varanda. Área de servico nao existe aqui. Aqui limpa-se o chao com aspirador e depois passa-se pano úmido. Água aqui é muito caro, precisa de tratamento intenso. Em compensacao, já foi testado, a água de torneira além de potável é melhor do que qualquer água mineral existente no mercado. E olhe que elas sao centenas!
Maglu, em muitas cidades do interior a água é de graça ou a taxa é módica, o que faz com que os consumidores não se importem em economizar. Só a escassez ou o preço faz mudar o comportamento dos consumidores diante de algum produto essencial.
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