Imbituba: a primeira pesquisa de intenção de votos publicada é idônea?

Nesta semana, foi divulgada a primeira pesquisa de intenção de voto para prefeito de Imbituba, o que ocasionou muitos comentários e quentes discussões nas redes sociais. De um lado, os beneficiados pelos resultados usavam a pesquisa como propaganda de campanha. Do outro, os prejudicados, apontavam a falta de credibilidade dela para desqualificá-la.

Afinal, por que tanta discussão sobre a pesquisa realizada e seus indicadores?

Antes, vamos à seguinte questão: resultado de pesquisa eleitoral pode influenciar na intenção de voto dos eleitores?

Antes mesmo de efetuar pesquisas sobre o assunto, minha opinião era "sim", podem! Muitos eleitores não gostam de votar em quem, na sua própria avaliação ou na de terceiros, não possui chances de se eleger. E se isso pode ser observado pelos cientistas políticos em uma eleição presidencial, muito mais sensível se apresenta em uma eleição municipal, onde o poder está muito mais próximo do eleitor, seja o poder político ou econômico.

Segundo os institutos de pesquisas mais famosos do país (Datafolha, Ibope, Vox Populi e Sensus), apenas menos de 10% do eleitorado escolhe seus candidatos por influência dos resultados de pesquisas eleitorais. Ora, numa eleição municipal como a nossa, tão disputada como observamos, qualquer percentual influenciado é muito relevante. Logo, uma pesquisa sem idoneidade, dirigida - comprada, como se costuma dizer -, pode, sim, beneficiar algum dos candidatos a prefeito. Sendo assim, é compreensível que os prejudicados com os resultados de uma pesquisa que suspeitam seja inidônea reclamem efusivamente.

Nas eleições presidenciais de 2010, os institutos de pesquisa acima citados realizaram levantamento de intenções de voto, cujos resultados foram muito contrastantes. As justificativas foram diversas, sendo uma delas a grande distância entre o momento do levantamento - início do ano - e a data da eleição. Segundo os institutos, quanto mais próximo das eleições, mais exatos são os resultados das pesquisas, podendo-se aferir a margem de erro em apenas dois pontos percentuais. E é somente com essa margem de erros - 2% - que os institutos garantem seus resultados. Maior que isso já seria um prognóstico que muito se afasta da realidade, ou seja, quanto maior a margem de erros, maior a imprecisão da pesquisa de intenção de voto.

De acordo com os institutos citados, sete em cada dez eleitores brasileiros não sabem responder à pergunta "em quem você votaria", quando não é informado a eles os nomes dos candidatos (pesquisa espontânea). Quando são mostrados os nomes dos candidatos, denomina-se "pesquisa estimulada".

São várias as técnicas para se saber a intenção de voto do eleitor. Não é somente perguntar a ele em quem votaria hoje. E dependendo da técnica utilizada, pode variar o resultado. O Datafolha, por exemplo, efetua levantamento estatístico em pontos de grande circulação de pessoas, enquanto outros realizam pesquisas domiciliares.

Imagine um eleitor que tem medo de informar em quem vai votar. Evidentemente que fora de sua casa ele poderia se sentir com mais liberdade para responder, pois não seria identificado.

As perguntas que são feitas antes de se perguntar "em quem votará" influencia, também, na resposta do pesquisado. Tudo isso demonstra que é preciso muita experiência e idoneidade para se apresentar como uma empresa de pesquisas estatísticas.

Vamos agora ao caso da pesquisa realizada em Imbituba. 

Quem acompanha este blog, leu o artigo que escrevi sob o título Imbituba: quem contratou a pesquisa de intenção de votos?. Se você não leu, poderá não entender o que discorrerei a seguir.

Aquela pesquisa, que seria realizada pela empresa Plano Pesquisas Ltda., acabou não sendo divulgada e nem sei se chegou a ser realizada.

A pesquisa divulgada nesta semana, pelo jornal O Popular Catarinense, apontava que Christiano Lopes de Oliveira (PSD) estava com 39,46%, enquanto Jaison Cardoso de Souza (PSDB) possuía 25,21%, tendo Rosenvaldo Silva Júnior (PT) 10,33%. Brancos/nulos somavam 5,99% e indecisos correspondiam a 19,01% (pesquisa estimulada).

Após a divulgação no jornal mencionado, o candidato que aparece na liderança escreveu em sua página no Facebook: "Primeiro Lugar em Imbituba!!!!! Pesquisa JORNAL O POPULAR! Ainda não são os nossos números e nem mesmo o nosso sentimento obtido nas nossas visitas casa a casa dos imbitubenses. Mas é a demonstração de que realmente estamos em 1º LUGAR nas pesquisas. Valeu Imbituba!!!!!!!!"

Quais as constatações e problemas observados na realização e divulgação desta pesquisa?

1º) Foi a mesma empresa Plano Pesquisas Ltda. que teria realizado a pesquisa divulgada nesta semana. 

2º) Desta vez, quem contratou a Plano foi uma empresa chamada Daiwa Port Logística Ltda, a qual não encontrei em nenhuma pesquisa realizada através do Google. Diante disso, solicitei ao TRE que informasse o CNPJ e o endereço da sede dessa empresa. A resposta do TRE surpreendeu-me: "A empresa contratante não precisa registrar seus dados na Justiça Eleitoral, portanto, não temos estes dados para fornecer."

Diante de tal resposta, retruquei: (...) devo entender que qualquer pseudoempresa, empresa fantasma ou qualquer nome inventado poderia ser utilizada para contratar uma pesquisa eleitoral, cuja propaganda dos resultados, obtidos de forma idônea ou não, pode influenciar o eleitorado. É de se lamentar que não haja qualquer obrigatoriedade de se informar os dados do requerente. O TRE e a legislação eleitoral mostram-se tão exigentes em alguns casos sem relevância e se flexibilizam em demasia no caso específico, deixando perplexo qualquer eleitor de conhecimento mediano. Mais uma vez, eu digo: lamentável!

Leitor, qual interesse dessa tal empresa denominada Daiwa nas eleições de Imbituba?

3º) A empresa Plano informou ao TRE que a metodologia utilizada seria a seguinte:

"Metodologia de Pesquisa Objetivo Geral: Caracterizar a OPINIÃO PÚBLICA com relação ao quadro sucessório de Imbituba/SC para as Eleições 2012 – identificando demandas sociais, preferências e prioridades valorativas, assim como alterações no quadro geral de intenções de voto simulada (espontânea e estimulada); rejeição nominal estimulada, assim como, para a aferição de tendências relativas às preferências do eleitorado sobre lideranças políticas, partidos, nomes de destaque, localizando no cenário eleitoral em curso, para fins de identificação, conhecimento e comunicação social do comportamento eleitoral. O trabalho realizado será um levantamento estatístico do tipo survey eleitoral, que visa constituir-se em um diagnóstico do quadro sucessório municipal a partir do levantamento de características relativas ao comportamento eleitoral vinculadas aos principais nomes e lideranças locais. O público-alvo constitui exclusivamente de REPRESENTANTES DO CONTIGENTE DE ELEITORES DO MUNICÍPIO. (...)" (grifei)

A margem de erro estimada pela empresa seria de 4,43%.

4º) Não houve divulgação dos índices de rejeição apurados na 2ª pergunta (Em qual destes candidatos você não votaria de jeito nenhum?) constante na pesquisa registrada no TRE, assim como não foi dada publicidade à pergunta Seu voto é: definitivo; pode mudar até a eleição; sem resposta.

Foto publicada no jornal

5º) Na publicação feita pelo jornal, apenas a foto de Christiano Lopes de Oliveira correspondia à imagem registrada no TRE, enquanto as de Jaison Cardoso de Souza e de Rosenvaldo Silva Júnior não correspondiam às que serão utilizadas nas urnas eletrônicas. Pelo que se observa, o jornal utilizou uma das piores fotografias de Jaison Cardoso de Souza. E não é a primeira vez que faz isso em uma eleição. Osny Souza Filho que o diga, pois também já foi vítima dessa atitude do jornal. É de se saber, porém, se a empresa Plano utilizou-se dessas mesmas fotografias para mostrar aos pesquisados. Como também saber se mostrou fotografias aos pesquisados, caso o resultado dos valores divulgados tenha sido obtido na pesquisa "estimulada".

6º) Para demonstrar a credibilidade da empresa Plano, o jornal copiou do site dessa empresa toda a sua própria propaganda, através da qual informa, dentre outras coisas, que possui 18 anos de experiência no mercado. Qual o interesse do jornal em fazer propaganda da empresa? Quem pagou pela publicação no jornal? A empresa Daiwa?

É de se perguntar como uma empresa com 18 anos no mercado divulga em seu site apenas um telefone celular para contato, sem informar sequer um endereço físico.

Ainda, o jornal mencionou na matéria que a Plano acertou com exatidão o resultado das eleições em que Brunel Alves foi prefeito de Capivari de Baixo-SC. Pelo que eu soube, telefonaram para Brunel e ele disse que nunca ouviu falar dessa empresa. E, cá entre nós, para prever a eleição de Brunel não precisava ser um expert. Brunel venceu com 44% dos votos a última eleição.

Particularmente, sou contra essas pesquisas eleitorais, pois mesmo que elas possam ser usadas de forma a enganar o eleitorado, nada acontece com as empresas que fazem as pesquisas, muito menos com os candidatos que as contratam e utilizam.

Pelo que sei, tanto a coordenação de campanha de Jaison Cardoso de Souza quanto à de Rosenvaldo Silva Júnior possuem pesquisas internas, para estratégias de campanha. A de Jaison já realizou pelo menos três pesquisas, feitas pela Cooperfil, sendo uma nesta semana, enquanto a coordenação de campanha de Rosenvaldo realizou duas, conforme informação recebida. Quais os resultados delas? Não posso divulgar porque não foram registradas no TRE e eu estaria infringindo a legislação eleitoral.

E para os crédulos que acreditam que pesquisa correta são somente aquelas registradas no TRE, saibam que isso não passa de uma formalidade legal, pois qualquer pesquisa registrada no TRE pode ser maquiada, burlada ou forjada. E temos exemplos disso em Imbituba, lembram?

E se você pensa que se usam pesquisas eleições inidôneas apenas para enganar o eleitorado, saiba que podem ser usadas para mais que isso, como apresentá-las a empresários, com o objetivo de pedir dinheiro para a campanha, como também para mostrar a outros políticos em esferas superiores, para que eles se empenhem mais politicamente e/ou economicamente.

Embora todas essas minhas observações, eu não posso afirmar que a tal pesquisa divulgada não foi realizada ou teve seus resultados maquiados à vontade do cliente. Mas diante de tanta discussão acerca dele, eu não poderia deixar de falar nela. 

E é isso. Até a próxima pesquisa postagem!

Atualização:

Leia, também: Justiça eleitoral suspende a publicação de pesquisa realizada pela Plano Pesquisas 

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