Imbituba e o mito do sebastianismo

Por Arrison Berkenbrock

Imbituba historicamente tem sido terreno fértil para o desabrochar de inúmeros mitos. Criamos deuses, ninfas, heróis, enfim, surgem estórias, neste pedaço de chão, que de tão extraordinárias e bem contadas, acabam se inserindo no imaginário popular como verdades inquestionáveis.

Neste artigo, de modo especial, procuro relacionar a história de Imbituba com o mito sebastianista.
O mito sebastianista, em sua gênese, está vinculado à ideia do retorno triunfal de Dom Sebastião (foto), rei de Portugal, desaparecido em 1578 pela ocasião de um confronto militar na África. Com o seu desaparecimento, o trono português foi ocupado pelo seu tio, o Cardeal Dom Henrique, que morreu sem deixar herdeiros. Com a morte de Dom Henrique e a ausência de herdeiros diretos, a coroa foi entregue ao parente mais próximo, o rei da Espanha Felipe II, que anexou Portugal e suas colônias aos seus domínios. Desamparados e sem quaisquer perspectivas de melhorias, os portugueses alimentavam o desejo de retornar ao passado “glorioso”. Em D. Sebastião cristalizam-se as aspirações messiânicas do povo lusitano.

Como se percebe, o sebastianismo é uma expressão de fenômeno messiânico. O messianismo, por sua vez, é caracterizado pela crença na vinda de um personagem cujos atributos são suficientes para retificar as disparidades sociais. Portanto, o movimento messiânico carrega em seu bojo o desejo de extirpar as atuais estruturas e criar novos paradigmas capazes de promover o progresso e a justiça social. Assim, em face às mazelas sociais surge a esperança alvissareira, o anseio de redenção capaz de suscitar novos líderes e novas formas de organização do poder.

Entre o mito do sebastianismo e a História de Imbituba há confluências! Uma breve análise da evolução histórica de Imbituba nos permite concluir que a mesma se notabilizou por períodos de intensos progressos, bem como de profundas crises. Grosso modo, a ideia de progresso para o imbitubense se configura como reminiscência, ou seja, como recordações de uma cidade que um dia exalou progresso e confiança. De modo que o apelido de “CIDADE DO JÁ TEVE” parece assentar muito bem com a situação presente. Vejamos: Cinema? Já teve! Indústria Carboquímica? Já teve! Cerâmica? Já teve! Indústria de plásticos? Já teve!

Diante deste cenário de incerteza e desconfiança, a esperança na vinda de um líder capaz de solapar a tristeza e devolver o sorriso do rosto dos imbitubenses ganha envergadura. A expectativa pela volta do progresso associada à carência e ingenuidade de muitos favorece o suscitar de falsos profetas, que se revestem de pele de cordeiro para escamotear os seus sórdidos interesses. Discursos ricos em palavras, mas vazios em conteúdo e sentido, são utilizados com o único propósito de granjear apoio político. Panacéias se proliferam: ZPE, Santos Brasil-TECON, Cerâmica entre outros.

Para onde vamos? O futuro é incerto. Alimentar a esperança pode ser salutar, desde que sejamos prudentes. Afinal, há um substrato histórico no município que não nos permite acreditar piamente nas promessas políticas, principalmente em época de eleições. Avante!

7 comentários:

  1. Prezado Arrison,

    Primeiramente quero lhe dar as boas vindas desejar sucesso em sua coluna.

    Quanto ao mito sebastianita, solicito permissão para tecer os comentários que exponho a seguir.

    O referido mito está relacionado a Don Sebastião (1554-1578) que em 1557, com três anos de idade, em virtude da morte de seu avô D. João III. Foi declarado Rei de Portugal.
    Por causa da pouca idade do jovem monarca, Portugal teve como regente do Reino D. Catarina, avó materna do soberano, tendo sido sucedida na regência pelo Cardeal D. Henrique, por ter se retirado para a Espanha em 1562. Só com a idade de quatorze anos, em 1568, foi D. Sebastião declarado maior pelas Cortes e coroado Rei de Portugal.

    De espírito apaixonado, ardente e patriótico – como entendem vários autores – preparou-se o Rei juvenil para uma cruzada em África, apoiado em um plano bem fundamentado, minuciosamente estudado e quantitativamenmte ponderado quanto às vantagens e desvantagens da campanha. O fato é que tal campanha deu errado e o Rei veio a falecer na Batalha de Alcácer Quibir.

    Esta aventura resultou no endividamento da coroa para financiar a campanha de D. Sebastião ao Norte da África e onde uma parte ponderável da nobreza morreu ou ficou prisioneira nessa batalha e todo o reino foi atingido pela derrota.

    Contando-se em milhares os mortos e os que foram feito prisioneiros (estima-se que morreram na batalha cerca de 9.000 homens). Enfim, o idealismo alucinado e irresponsável de D. Sebastião foi banhado em sangue.

    No Brasil O Sebastianismo — Mito essencialmente português — Inicialmente se manifestou como uma fé católica mais exigente, à semelhança da fé dos quacres e dos puritanos. Mas é, sobretudo, no traço mais inculto da população brasileira (como sempre e lamentavelmente acontece), que movimentos fanáticos terão sua acolhida e origem.

    E o nacionalismo exaltado origina sucessivamente movimentos facciosos baseados em crenças brutais, que não raro acabam em derramamento de sangue. Foi exatamente isso que aconteceu no Brasil.

    Aqui, o sebastianismo produziu três episódios marcantes e medonhos: o de 1817, ocorrido em Pernambuco, conhecido como "O Massacre de Bonito", o de 1836, ocorrido também em Pernambuco e conhecido como "O Caso da Pedra Bonita" e o de 1893 que foi o movimento fanático-religioso de maior importância. Aconteceu em Canudos, Bahia, e teve como protagonista Antonio Vicente Mendes Maciel, conhecido por Antonio Conselheiro, asceta que pregava o fim do mundo

    Dito isto, penso ser equivocado a idéia de relacionamento entre o mito do sebastianismo e a história de Imbituba.

    Todos sabemos que evolução histórica de Imbituba está marcada por períodos de intensos progressos e de profundas crises. Sabemos também que isto não foi um problema só de Imbituba

    Num aprofundamento dessas análises chega-se a conclusão de que nossos períodos de crises não foram originados da ação de pessoas, mas sim de uma situação conjuntural fora de controle, algo como uma "conjunção de fatores adversos" que não foi só local, mas acabou se refletindo sobre nós.

    Também acredito que nossa "salvação" esteja mais em nossa capacidade de superação do que na vinda de um líder messiânico, um salvador da pátria.

    Sejamos mais práticos não procurando desperdiçar as oportunidades que estão surgindo. Elas são a nossa tábua de salvação. Enfim, não devemos deixar de montar no cavalo que passa na nossa frente encilhado.

    Lamento também a comparação de empreendimentos importantes que estão sendo implantados em Imbituba, à panacéias e outros termos depreciativos. Acredito tratar-se de uma frase infeliz que mereceria retificação.

    Nossa terra e nosso povo merecem ser valorizadas. Apesar das universidades nós, sejam os filhos nativos ou adotados de Imbituba, que aqui vivem e trabalham, sempre acreditamos no potencial de nossa terra.

    Acho que finalmente chegou a hora da recompensa por nossa luta. Afinal nós merecemos.

    Cordialmente,
    Cândido P. Jorge

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  2. Prezado Cândido,

    Primeiramente, muito obrigado pelo seu brilhante comentário. Contudo, penso que alguns esclarecimentos quanto ao artigo acima se fazem necessário.

    Acredito que há confluências entre a história de Imbituba e o mito sebastianista,perceba que não estou argumentando que há uma total identificação entre os referidos. O mito sebastianista, como afirmei no post, carrega em seu bojo a necessidade de transformações nas estruturas sociais, sentimento este desejado por inúmeros imbitubenses que não estão contentes com a atual conjuntura. Daí a relação!

    Evidentemente que as profundas crises não foram culpa somente das autoridades locais, mas fatores nacionais e internacionais também favoreceram. Contudo, penso que transferir exclusivamente nossos erros a terceiros consiste em negar fontes históricas, bem como nos eximir das obrigações atuais.

    De igual modo, acredito que nossa "redenção" não deve estar circunscrita à figura de um messias ou um líder carismático(para lembra Weber).Muito embora, muitos imbitubenses assim acreditam. Eis outra relação com o mito.

    Por fim, quando me refiro aos empreendimentos realizados em Imbituba não estou a depreciá-los, apenas alerto os leitores da necessidade de ter prudência, afinal a história de Imbituba é permeada de inúmeras promessas não cumpridas.
    Grato pela participação.
    Arrison R. Berkenbrock

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  3. Caro Arrison, seja benvindo. Prezado Cândido, obrigado pela aula de História. Aprendi muito. Metendo a minha "colher": concordo com a Arrison no tocante à questão do lider messiânico/salvador da pátria que já foram encarnados por Henrique Lage, Álvaro Catão e João Rimsa. Concordo também no tocante aos empreendimentos; afinal, Cândido, quem não se lembra da Sidersul, do Conter, da Libra, da Capotas Cabral, .........
    César de Oliveira, Imbituba.

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  4. Prezados Arrison e Cesar,

    Agradeço pela atenção dispensada e retorno a minha postagem sobre o Mito Sebastianista e aproveito para fazer uma correção no referido texto, onde mais uma vez fui traído pelo corretor ortográfico.

    Correção: Penúltimo Parágrafo:

    Onde se lê.

    "Nossa terra e nosso povo merecem ser valorizadas. Apesar das universidades nós, sejam os filhos nativos ou adotados de Imbituba, que aqui vivem e trabalham, sempre acreditamos no potencial de nossa terra.".

    Leia-se

    "Nossa terra e nosso povo merecem ser valorizados. Apesar das adversidades nós, sejam os filhos nativos ou adotados de Imbituba, que aqui vivem e trabalham, sempre acreditamos no potencial de nossa terra.".

    Com relação aos líderes messiânicos que por aqui passaram, segundo o Pesquisador e Intelectual E.S.P.F, nosso amigo comum Meu e do Cesar), o qual considero uma das inteligências mais brilhantes de nossa cidade, certa vez em uma de suas aulas informais me falou que: em termos de liderança, em Imbituba só existiu uma pessoa. Esta pessoa chamava-se Henrique Lage, cuja historia todos conhecem. O resto é o resto...Concordo com ele.

    Com relação as empresas que por aqui se instalaram, entendo que não devemos generalizar. Como em todas história, sempre existe o lado bom e o lado ruim, o mocinho e o bandido, o herói e o vilão. Devemos ser cuidadosos em separar o joio do trigo

    Na postagem do Cesar foram relacionadas as empresas que não deram certo. Aproveitando a oportunidade, relaciono aquelas que deram certo: AGIL; Cimentos Rio Branco; Braskem; Grupo Ferjú; Fertisanta; Serramorena; Union; Imbifertil; Tecon Imbituba e suas empreiteiras; etc...Para saber mais, sugiro pesquisa no Cadastro da Prefeitura ou da ACIM, onde poderemos confirmar que estamos no azul.

    Enfim. Acho que não temos motivos para reclamar, embora isto não seja motivo para baixar a guarda. A luta continua.

    Um forte abraço,

    Cândido

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  5. Ao leitor que enviou comentário sobre o monumento Santa Paulina, informo que o recado não foi publicado porque não foram observadas as regras para postagem e, além disso, nada tinha a ver com o post de Arrison.

    Abraço.

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  6. Ao ler a postagem do srºArrison Berkenbrock, e os comentários abaixo, só tenho agradecer a bela aula de história, que todos escreveram.
    Obrigada.
    Gostei muito.

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  7. Lendo postagens desse teor e comentários tão profundos, fico sempre na dúvida se tenho algo a acrescentar nesta discussão... De qualquer forma fica registrado s meus votos de sucesso ao professor Arrisson neste Blog.
    Em relação a nossa "cidade do futuro", com ou sem "salvador da pátria", não podemos ficar de braços atados esperando que alguem faça algo por nós, temos que fazer o que nos cabe sem esperar que algum senhor salvador faça algo por nós....
    De certa forma é um ótimo post de fim de ano, inteligente e reflexivo,do que pretendemos para Imbituba, esperar um Dom Sebastião ou começar por nós as mudanças que desejamos, pois outro Henrique Lage vai demorar para aparecer....

    Arthur Silveira

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