Morada da Esperança
Esperança. A Vila de meu avô. O reduto de meus sonhos de menino, perdido entre árvores e o gado. O deslumbramento da proteção que vinha do isolamento e da natureza que me cercava.
Não havia perigos à vista. Tudo era tranqüilo. A vida se encerrava entre as grandes árvores e o mágico engenho onde mandioca virava farinha.
Meu avô era um mago. Nele tudo era magnífico. Seu carinho desmedido, sua generosidade açoriana, sua temperança e sua ética.
O seu Chico era o avô de todos os meninos; inclusive nós, seus netos. Seu carro de bois cantava ao longe e já pressentíamos sua presença bondosa; sua inefável generosidade se aproximando. Largávamo-nos pela praia à fora; correndo ao seu encontro, buscando o bálsamo de sua sabedoria secular.
O tempo transformou a pequena Vila. Meu avô, há anos, viajou. Sua morada terrena virou um sítio abandonado, onde a saudade permanece por entre escombros e árvores. Os sinais do tempo ainda estão por ali, como brasas sob as cinzas. Por quanto tempo não sei dizer. A mão do tempo é imponderável, enigmática: “não me iludo, não te iludas, tudo, agora, pode estar por um segundo”, diz o poeta Gilberto Gil, na bela letra da canção Tempo Rei.
Esperança era Vila de meu avô e terra de meu pai. Aqui encontrei a energia necessária para criar meus filhos, escrever meus poemas, ler meus livros, refletir sobre a vida. Deste ponto iluminado do Universo, sob o olhar de meus parentes e ancestrais, vou construindo sentidos, buscando caminhos; traçando, na areia da praia, a linha sinuosa do futuro.
Esperança é a minha Vila. Repleta de cores, de uma luz diáfana e suave que nasce nos morros verdejantes e apaga nas dunas eternas. Aqui, entre o som das marés e o cheiro forte da terra, haverei de escrever meus textos, preparar minhas aulas e espalhar o amor que meu avô plantou em meu coração de menino poeta.
Esperança é a terra de minha mulher e meus filhos. Lugar onde plantamos nossos sonhos, nossa espiritualidade, nossos projetos de vida. Aqui a vida se fez e se refaz a cada dia, sob o olhar profundo de Deus, refletido no mar, nos morros, nas dunas – na essência desta terra magnífica.
(foto do site ribadaguasurfcamping)
Parabéns Dr. Ledeir, pelo emocionante texto e por ter sido privilegiado com uma infância tão bonita, de tempos que não voltam mais! Abraços! Karina.
ResponderExcluirDr. Ledeir, Parabéns pelo seu texto. Muito bonito.
ResponderExcluirOxalá, todos tivessem a oportunidade de ter tido uma infância numa cidade tão maravilhosa que é Imbituba. Um beijo no seu coração da amiga Magaly.
Parabens Coca, muto lindo este texto. Um abraço.
ResponderExcluirInfelizmente, Coca deixou de escrever para este blog, há muito tempo, e até acredito que ele nem mais acesse o blog. Até hoje ele não me disse o motivo de ter parado de escrever.
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